sábado, 15 de setembro de 2012

Vixe: Há 2 meses da eleição Russomanno paga 205 mil a ex-funcionária por assédio moral

Vixe: Há 2 meses da eleição Russomanno paga 205 mil a ex-funcionária por assédio moral

Celso Russomanno é acusado de pagar uma funcionária com verba da Câmara dos Deputados

Em ação trabalhista, o candidato a prefeito de São Paulo aceitou pagar indenização de R$ 205 mil a ex-funcionária. Parte do acordo se refere a assédio moral


LEOPOLDO MATEUS E ANGELA PINHO
AGENDA  Celso Russomanno (o quarto da esquerda para a direita) participa de missa em São Paulo no dia 8 de agosto. Horas antes, ele enfrentava um processo trabalhista  na capital paulista  (Foto: Ernesto Rodrigues/AE)
AGENDA
Celso Russomanno (o quarto da esquerda para a direita) participa de missa em São Paulo no dia 8 de agosto. Horas antes, ele enfrentava um processo trabalhista na capital paulista (Foto: Ernesto Rodrigues/AE)
Em período de campanha eleitoral, candidatos divulgam cada passo de suas agendas. A regra é: quanto maior a exposição, melhor. No dia 8 de agosto, a dois meses das eleições, o candidato Celso Russomanno (PRB), líder das pesquisas para a prefeitura de São Paulo, omitiu o que faria à tarde. Nada constava em sua agenda oficial. A única pista de seu paradeiro foi deixada por sua filha, Luara. Às 11h27, ela publicou uma foto no Twitter. Era do Fórum Trabalhista Rui Barbosa. Às 12h10, Russomanno postou: “Boa tarde a todos. Excelente quarta-feira. Espero que tudo vá bem no dia de vcs”. Às 14h05, acompanhados por quatro advogados, Russomanno e Luara – sócia do pai em várias empresas – sentaram-se à mesa da 43ª Vara do Trabalho de São Paulo para encarar Fabiane Ensinas Brejan e seus três advogados. Fabiane não tinha relação alguma com a campanha, mas, se seus ataques se tornassem públicos, poderiam ter impacto entre os eleitores. Ela movia uma ação trabalhista contra Russomanno, que incluía em seus autos uma acusação explosiva: que o candidato a prefeito de São Paulo, quando deputado federal, pagara o salário dela usando dinheiro público.
Fabiane diz que, entre 1º de setembro de 2010 e 31 de dezembro de 2010, apareceu na lista de contratados da Câmara dos Deputados, em Brasília, como “assessora parlamentar” – sem, no entanto, ter prestado nenhum serviço que tivesse a ver com o mandato de Russomanno. Há algum tempo, ela se dividia entre as empresas da família de Russomanno e os serviços eleitorais – entre eles, coordenar campanhas e controlar o recebimento de doações de empresas apoiadoras. Nos quatro últimos meses de 2010, passou a receber diretamente da Câmara por esse trabalho. Seu salário era de R$ 3.141,62. Na ação, Fabiane disse que havia mais 12 funcionários de Russomanno nessas condições – com carteira de trabalho irregular ou sendo pagos pela Câmara –, “inclusive alguns domésticos”. De acordo com a assessoria da Câmara dos Deputados, o nome de Fabiane Ensinas Brejan constava da folha de pagamentos da Casa. Outro nome confirmado pela Câmara foi Luiz Carlos Teixeira, funcionário da ND Comunicação, uma das empresas de Russomanno. Na ação trabalhista que moveu, Fabiane pediu que o Ministério Público e o Tribunal Regional Eleitoral fossem comunicados sobre a denúncia de “mau uso do Erário público”. Isso ainda não ocorreu. “Se houver provas, Russomanno pode responder por improbidade administrativa”, diz o advogado Flávio Britto, especialista em Direito Eleitoral.
O acordo que foi firmado no dia 8 de agosto se referia apenas à causa trabalhista – e Russomanno acabou pagando R$ 205 mil a Fabiane. Segundo os autos, durante os quase oito anos em que trabalhou para ele, entre o fim de 2004 e o começo de 2012, Fabiane foi submetida a intenso assédio moral. Consta dos autos que Russomanno a ofendia, aos gritos, chamando-a de “burra” e de “anta”. Devido a isso, ela afirma ter tido vários problemas de saúde, como grave depressão (um laudo médico foi anexado ao processo) e a perda de enorme quantidade de cabelo – fato que, de acordo com ela, “pode inclusive ser visto a olho nu”. Fabiane afirma ainda que ele agia do mesmo modo com praticamente todos os empregados. Segundo Fabiane, muitos foram afetados em sua saúde “pela abominável e diária agressividade e até mesmo crueldade”. Russomanno não aceitava ser chamado de outra designação que não fosse “deputado” ou “prefeito”. Se um funcionário o chamasse apenas de “senhor”, de acordo com Fabiane, era humilhado aos gritos.
ASSINATURA Documento que oficializa o acordo entre Russomanno e sua ex-funcionária. Ele aceitou pagar a indenização  de R$ 205 mil,   R$ 62.300  por assédio moral  (Foto: reprodução)
Fabiane diz que Russomanno tentou ainda “um último golpe” em seu derradeiro dia de trabalho, 9 de março último. Aos gritos, ele dizia que era “honesto e pagador regular de seus impostos”, e reclamava que ela era uma “enroladora”, que nunca trouxera sua carteira de trabalho para os registros. Depois da demissão, segundo Fabiane, ele enviou e-mails para ela dizendo-se um admirador. Ela garante que era uma “cilada” e o ameaçou com “um robusto material gravado”, à disposição do juiz. Não foi necessário usá-lo. Às 14h48, com menos de uma hora de audiência, o acordo já estava selado. Ela receberá R$ 205 mil em dez parcelas. Além dos R$ 62.300 por assédio moral, são mais R$ 109.700 de férias, R$ 12.300 de FGTS não depositado, R$ 11.800 de vale-refeição, R$ 5.700 de multa e mais R$ 3.100 de indenização – pelo fato de Russomanno ter prometido a Fabiane uma bolsa de estudos e não ter dado. O valor total equivale a 66 meses do salário que ela recebeu na Câmara durante quatro meses. Em plena campanha, e diante das ameaças de Fabiane, Russomanno parece que resolveu encerrar logo o assunto. Assim, como dizia ele mesmo em seus tempos de defensor dos consumidores na TV: “Se está bom para ambas as partes, está bom para Celso Russomanno...”.
As duas acusações – o uso de dinheiro público para pagamento de funcionários e o destempero verbal – já haviam aparecido anteriormente na biografia de Russomanno. Em 2005, ele bateu boca com um taxista que impedia a saída de seu carro no estacionamento da Câmara. Quando o passageiro do táxi tentou acalmar Russomanno, ouviu: “Não me chame de você! Sou deputado federal!”. No início deste ano, ele foi acusado pelo Ministério Público de peculato (desvio de dinheiro) por ter usado verba de gabinete para pagar Sandra Jesus Nogueira. Segundo a acusação, ela recebeu um salário da Câmara entre 1997 e 2001, embora fosse, como Fabiane, funcionária de uma empresa de Russomanno – a ND Produções. O caso ainda não foi julgado. Procurado para falar das acusações, Russomanno não enviou suas respostas até o fechamento desta reportagem.
Ele cumpre, como se sabe, uma pesada agenda de candidato.

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