segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mentiras cotidianas

Mentiras cotidianas

Observar e absorver


O prefeito do Rio diz que as 199 comunidades pobres situadas em área de valorização imobiliária serão retiradas "porque estão em área de risco".

O governo do estado afirma que a construção da barreira feita ao longo da linha vermelha, eixo de ligação do aeroporto internacional com o centro do Rio, tampando a visão do enorme complexo de favelas da Maré, tem como intenção proteger os ouvidos dos moradores do “ruído” do trânsito da via expressa.

Israel diz que atacou 80 focos terroristas nesta noite de domingo pra segunda. Havia “terroristas” de até alguns meses de idade, mulheres, velhos, deficientes, ...

A polícia se instala nas favelas mais “visíveis” do Rio com unidades que foram denominadas “polícia pacificadora”, como se a polícia tivesse sido pacificada.
Os ataques constantes às comunidades pobres e aos camelôs do tráfico de drogas são chamados de “combate ao tráfico”.

Cuba é uma ditadura sanguinária, embora exporte professores e médicos aos lugares mais pobres do planeta, tenha o menor índice de mortalidade infantil e analfabetismo das Américas e o maior índice de escolaridade da região, sendo isenta de miséria e abandono, de desabrigados e de desatendidos na saúde pública gratuita.

Hugo Chávez é um ditador, embora tenha passado por eleições, plebiscitos e referendos, tenha renunciado à presidência depois de aprovada a constituição bolivariana pelo congresso e pelo povo, no voto direto, sendo reeleito em seguida em eleição fiscalizada por centenas de observadores internacionais. 

Chega a duas dezenas a quantidade de votações diretas na Venezuela, das quais o governo perdeu duas. Mas é uma "ditadura" pétrea, denunciada pela mídia privada que se diz democrática e se alinha com os USA.

Nos metrôs, barcas e ônibus superlotados se lê cartazes dizendo que a maior preocupação das empresas de transporte é o bem estar dos passageiros.

Na prefeitura do Rio estampa a frase “contra a injustiça”, falando contra a divisão dos royalties do petróleo, enquanto na mesma região da cidade se vêem legiões e legiões de desabrigados, mendigos e outros abandonados da sociedade.

O agronegócio afirma produzir alimentos para o povo brasileiro, embora exporte mais de 90% da sua produção, trocada por dólares, e ataca a agricultura familiar, que produz mais de 70% do que se come no território nacional e é base de luta pela reforma agrária.

As áreas de ausência do Estado, as comunidades pobres, são chamadas de “território perigoso” para justificar seu abandono.

O mundo é apresentado aos jovens como um grande “mercado” dividido entre o trabalho e o consumo, e a razão da existência é constituir patrimônio e consumir, todos são competidores e é cada um por si nesta vida.

O valor pessoal é apresentado pelo nível de propriedade e capacidade de consumo, não pelo caráter, pelos sentimentos, pela participação na coletividade, pela integração humana.

Execuções são justificadas por “autos de resistência” que não são investigados.

Empresários afirmam que são bons por “darem empregos”, enquanto se servem de mão de obra farta e barata em meio ao desemprego, evitam de todas as formas assumir obrigações trabalhistas e exploram até o talo as pessoas desesperadas que conseguem uma vaga de escravo na “terceirização”, a atual escravidão, mais barata do que quando se sustentavam os escravos legalmente.

Afirmações como “chegar lá”, “ser alguém”, “vencer na vida” tomam ares de verdades incontestáveis, enquanto são fonte de angústias e sentimentos de derrota na maioria das pessoas que, segundo essa linha “filosófica”, devem se conformar com sua inferioridade.

São incontáveis as mentiras a que somos submetidos, como aos dogmas religiosos. E nós vamos aí, comendo essa farinha podre. E pior, muitos se convencem e repetem essas mentiras. 

Mas muitos não, e são cada vez mais.

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