quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Virgindade na capa da Veja: bons tempos pra quem?

Virgindade na capa da Veja: bons tempos pra quem?

by 

A Veja fez uma capa dedicada a uma mulher que vendeu a virgindade. No facebook a Veja compartilhou a capa com a seguinte legenda “Bons tempos em que a virgindade era perdida”.




É curioso notar que a Veja adora ser o baluarte do capitalismo. Mas se posiciona rapidinho como anti-capitalista quando uma mulher decide vender a virgindade (é direito dela!) em um processo totalmente capitalista.
E me choca o termo “bons tempos” para se referir a “perda da virgindade” (outro termo equivocado – relações sexuais não deveriam ser vistas como uma perda, mas como ganho: trazem novas possibilidades de liberdade e prazer).
Bons tempos pra quem? Pras mulheres é que não era!
Até recentemente o hímen rompido sem que a mulher estivesse casada destruía sua vida. Ela era vigiada desde a infância para não fazer sexo antes do casamento. As pessoas se referiam a mulheres não virgens por termos como “se perder”, “ceder”, “cometer um erro”, “ir embora”, “ser usada”, “se tornar pública”.
A mulher passava a ter dificuldades para se casar – justo em uma época em que o casamento era fundamental para o status social das mulheres. Ou então ela teria de ficar feliz por se casar com um homem que a espancasse porque ele aceitou ficar com ela sabendo que estava “estragada” por não ser mais virgem. E se ela não contasse que tinha tido experiências sexuais e o marido descobrisse na lua-de-mel que ela havia sido “deflorada” (que termo ridículo!) por outro ele poderia devolvê-la para os pais, humilhando-a publicamente. Dependendo do crime cometido “contra os costumes” (e não contra a liberdade sexual da mulher) primeiro seriam analisados a honestidade (virgindade ou monogamia) da mulher pra depois ver se era o caso de processar e julgar o agressor. A filha “desonesta” que vivia na casa paterna podia ser deserdada, perdendo o direito a herança.
Tudo isso aí estava previsto em lei e vigorou até recentemente. O Código Civil valeu até 2002 e só em 2005 que o termo “mulher honesta” foi retirado da legislação penal.
É essa vida aí que a Veja acha que eram bons tempos…
Prefiro muito mais os dias de hoje. A pessoa -seja homem ou mulher – pode escolher o que deseja fazer com sua vida sexual e a lei não pode puni-la por isso (obviamente, desde que respeite direitos de terceiros). A mulher não precisa ser virgem para ser respeitada socialmente e tem o direito de vender a virgindade sem ter sua vida destruída pelo preconceito e moralismo sexual. Nunca houve um tempo melhor para ser mulher do que hoje.

0 comentários: