domingo, 13 de janeiro de 2013

A fortuna de Lula e os setores masoquistas da classe média brasileira

 A fortuna de Lula e os setores masoquistas da classe média brasileira

Raul Longo - QTMD

Financial Times tranquiliza classe média brasileira



image0021Por Raul Longo(*)
Com o passar dos anos, desde 2003 reduziram-se os setores da classe média brasileira preocupados com o enriquecimento do ex operário Luís Ignácio Lula da Silva.
Antes de 2003 a preocupação era ainda maior. Alguns até imaginavam que se virasse presidente do país Lula compraria todos os aparelhos “3 em 1” do mercado, desfalcando os lares de consumidores da então maravilha acústica. Previsões menos modestas acreditavam que monopolizaria a produção de ternos Armani e o próprio presidente da FIESP cogitou que expulsaria todos os empresários do país para não sofrer concorrência.
Mesmo assim Lula virou presidente e a cada de seus dois mandatos aqueles setores da classe média foram se reduzindo a despeito ou graças às previsões dos especialistas em economia da Globo, do O Estado de São Paulo, da Abril e da Folha de São Paulo, por tanto afamados como os 4 cavaleiros do Apocalipse que não veio.
Ainda que se reduzissem os setores preocupados, ampliaram-se as preocupações dos renitentes e se chegou a anunciar que o filho do ex-operário – vejam que acinte – haveria adquirido a fazenda do maior criador de gado nelore do Brasil. Um descalabro que descabelou muita gente preocupada com o continuar daquela roubalheira que não deixaria sobrar nada para ninguém quando os de sempre retornassem ao poder. Felizmente o proprietário e suposto vendedor da tal fazenda tranquilizou todo mundo avisando que aquilo não passava de boato e sequer fora consultado sobre a inexistente possibilidade de suas terras estarem a venda.
Então se aventou um “aerolula” foliado a ouro. Isso revoltou muitos da classe média, pois nem o luxo do iFHC, ainda maior que o do apartamento de Paris do mesmo FHC, chegara a tanto. Mas em 2011 Lula voltou para casa e não levou o avião e caso alguém da alta classe média brasileira torne a ocupar o poder, poderá brincar com a aeronave.
Eis então que o jornalista Amaury Ribeiro lança um livro onde comprova documentalmente os desvios da filha do Serra, do genro do Serra, do primo do Serra, do cunhado do Serra e dos amigos do Serra. São cifras astronômicas e se o Serra sequer foi presidente do Brasil por ter perdido do ex-operário e e até de uma mulher, o que esses dois não haverão rouba na presidência? Imaginem vocês: um ex-operário e uma mulher!
O Genoíno, por exemplo, foi só presidente e roubou tanto que foi condenado pelo Joaquim Barbosa. Nem Barbosa nem Gurgel conseguiram provar que o Genoíno roubou, mas tá na cara que o Genoíno roubou! Não se encontrou nada: nem documento, nem dinheiro, nem propriedade ou qualquer outra coisa, mas o Genoíno roubou. Roubou porque a Veja e o Roberto Jefferson viram. Quer dizer, ver não viram… Mas garantem! E se a Veja garante, como é que o Barbosa não ia condenar, não é mesmo?
Tudo o que se comprova que o Genoíno possua é uma casa de periferia que não deve valer nem R$ 100 mil, mas a classe média preocupada com o regresso de seus representantes ao poder, delira com fortunas incalculáveis. Se delira com a fortuna inexistente do presidente do PT o que não delirará com a do Presidente do Brasil? Tanto que alguém fez circular pela internet uma capa de edição da revista Forbes apontando Lula como um dos bilionários do mundo.
Mas aí veio um gaiato e estragou o prazer masoquista desse setor da classe média preocupado com a possibilidade de que Lula roube tudo antes que voltem ao poder, revelando a montagem da imagem em destaque.
Nem assim o setor Masoch** da classe média brasileira se deu por vencida e continua vibrando de gozo ao acusar Lula de ladrão. São os velhos especuladores, as viúvas de FHC, os militares reformados saudosistas da ditadura que os acobertava, os contrabandistas e demais rufiões tratados injustamente pela democracia que os impossibilita de voltar ao poder e, na falta de atividade mental, entregam-se à lascívia de distribuir preocupações sobre o quanto Lula terá roubado do país.
Com isso enlouquecem a classe média que, por sua vez, se sempre sentiu o maior prazer em ser roubada por acadêmicos, poliglotas, professores, doutores, playboys, engenheiros, generais e todos os que possam ser considerados gente de bem, jamais, nem imaginar, poderia admitir ser roubada por um ex-operário. Muito menos nordestino! É uma afronta!
Mas nesse endereço da Financial Times veio o tranquilizante. Ninguém mais precisa se preocupar. Ao contrário do que faz entender a Globo, a Veja, a Folha e o O Estado de São Paulo, Lula não ficou rico. Confiram:
Os muito preocupados que não leem inglês podem pedir pela tradução da página ao Google ou a alguém alfabetizado neste idioma para saber o que os britânicos deduziram da suposta fortuna de Lula. Dou uma forcinha aqui: o Financial Times, conhecido informativo capitalista inconfundivelmente de direita, conclui que com 30 anos de vida pública os poucos bens que Lula possui são modestíssimos. Conforme o informante do Financial, um hacker contratado por um político da oposição até deprecia as propriedades do ex-operário dizendo-as mal conservadas e mal localizadas.
Já quanto ao apartamento do FHC a Financial não diz nada. Também não sobre a mansão nos Jardins do Serra. Tampouco sobre apartamento milionário acusado pela filha não reconhecida do Álvaro Dias ou sobre os imóveis em BH e Nova Lima e os apartamentos do Leblon e de Ipanema do Aécio Neves. Mas para os setores masoquistas da classe média, isso é de bom tom e só comprovam o bom gosto de seus ídolos políticos.
**Leopold von Sacher-Masoch, citado no texto, foi um escritor austríaco, autor do romance “A Vênus de Peles” onde um dos personagens atinge o orgasmo quando surrado pelo amante da esposa. Daí que se deu a origem aos termos masoquismo e masoquista, no Brasil também versado para eleitor de candidato tucano.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.



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