quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aterrorizante: Pedofilia: um caso da vida real


Aterrorizante: Pedofilia: um caso da vida real

 Edson Fábio Garutti Moreira


O trabalho na Polícia Federal é gratificante – temos a chance de fazer a diferença na vida de certas pessoas e, algumas vezes, somos a única chance delas terem alguma esperança. Por isso conto aqui um caso de diligências reais, cumpridas num caso de pedofilia. 
 
São fatos sérios, tristes e com certeza chocantes. 
 
Em  junho último foi feita uma operação da Polícia Federal para cumprir diversos mandados de prisão preventiva por delito de pedofilia via internet. 
 
Os alvos  estavam espalhados no Brasil e no exterior, como parte de um grupo que compartilhava fotos e vídeos envolvendo crianças e adolescentes, seja de exibição corporal quanto de sexo explícito, com menores isolados, entre si ou com adultos.
 
A operação foi coordenada pela unidade do Rio Grande do Sul, e em São Paulo havia alguns mandados a serem cumpridos. Havia grande chance de  também se verificar nos locais a ocorrência de flagrante delito, já que o simples ato de armazenar material de pedofilia é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.
 
Há uma gradação para os diversos delitos: armazenar material  em fotos e vídeos é uma coisa; transmitir é outra; se houver finalidade comercial é outra diferente, e assim por diante. Tudo isso desemboca na conduta que considero a mais grave: produzir material. É neste ato  que a opressão sobre a criança e o adolescente se torna mais evidente.
 
Um dos maiores problemas da criminalidade pedófila é que, em geral, este material não é encontrado para venda, estando disponível só mediante troca ou compartilhamento por meio de computadores. 
 
E para obter esse material, o pedófilo tem de disponibilizar no grupo o "seu" material novo e só haverá troca se  for algo inédito. Quando  é algo conhecido, "batido", a troca não é feita – e a pessoa é banida do grupo. Com isso incentiva-se a produção de material novo dia após dia.  
 
Apartir de dado momento, o pedófilo só obtém novidades  se participar da produção, ou for vinculado a grupos que produzam material novo. Como o material circula rapidamente, em pouco tempo se torna sem atrativos, alimentando um círculo vicioso e criminoso  que podemos chamar de "infernal".
 
Na sua torpe visão, o pedófilo muitas vezes não acha que esteja praticando um mal; e muitos até  justificam que, antes da prática de sexo com crianças, administram sedativos para amenizar a dor dos pequeninos. 
 
O sedativo tem também a finalidade de entorpecer e fazer a criança apagar o ato da memória recente (e também evitar que ela conte o ocorrido).
 
Voltando à operação policial, havia forte suspeita de que alguns alvos eram praticantes de atos de pedofilia. valendo-se de situações de parentesco ou de coabitação. Naquela quinta-feira o dia começou cedo e as equipes em São Paulo começaram  as prisões preventivas. 
 
Lá pela hora nona, quase todos os alvos já estavam presos. E em quase todos os locais se verificou o armazenamento de material de pedofilia nos computadores pessoais, com   diversas prisões em flagrante, além das preventivas. Como a prisão em flagrante depende de se encontrar o armazenamento de fotos ou vídeos com cenas pornográficas envolvendo menores, é preciso abrir no local alguns arquivos de mídia do suspeito e verificar seu conteúdo –  mostrado às testemunhas do povo que normalmente acompanham as diligências policiais, para confirmar que se trata de cenas com menores.
 
Ao cumprir um dos  mandados vi algo que a gente reza para não ver nunca na vida. O homem era casado e  morava com a mulher. Ambos tinham trinta e poucos anos de idade. Casa modesta, mas própria; carro na garagem; computadores potentes. Tinham um filho, que estava  num quarto no início da diligência de busca. Esta se desenrolava enquanto o garoto dormia.
 
Ao consultar o computador deste homem vimos inúmeros vídeos e fotos de pedofilia. As fotos por si só já eram chocantes – sexo entre adultos e meninos e meninas, de todo tipo: vaginal, anal,  oral, introdução de dedos, beijos, "carícias" genitais entre homens barbados e crianças esquálidas – um pesadelo. 
 
E então  uma pasta nos fez desacreditar no ser humano... Nela havia fotos e vídeos da pessoa que estávamos prendendo praticando sexo anal em uma criança -– um menino pequeno, quase um bebê,  em total desamparo. 
 
Aquela minúscula criança não tinha ninguém por ela. A visão repugnante tomou conta da equipe e, num instante de descuido,  a mulher do alvo fugiu pela garagem, carregando um embrulho de lençol nos braços. Corremos atrás dela, que foi alcançada. Dentro do lençol, meio acordado, meio dormindo, estava ali o bebê que vimos nos vídeos! Tinha dois anos e pouco de idade, olhos murchos, visivelmente sedado e com marcas evidentes de abuso sexual. 
 
Era o filho único do casal, como mostravam os  documentos  na casa. Um  verdadeiro cordeiro de Deus, imolado; a esponja que absorvia o vinagre azedo do casal doentio. Era apenas mais uma vítima.
 
 
Edson Garutti  é  delegado da Polícia Federal, formado em Direito pela USP e lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros de São Paulo.

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