sábado, 12 de janeiro de 2013

Literatura brasileira é coisa de branco?

Literatura brasileira é coisa de branco?

É o que sugere o impactante estudo de Regina Dalcastagnè

CULT
Regina Dalcastagnè, autora de "Literatura Brasileira Contemporânea - Um território contestado"

RONALDO BRESSANE
Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de Brasília (UnB), em uma pesquisa de 15 anos, chama a atenção para uma estatística espantosa: o campo literário brasileiro é dominado por autores homens, brancos, de classe média, moradores de Rio e São Paulo, professores ou jornalistas. O mesmo acontece com os personagens de seus livros – e temos que nossa literatura mais parece ser ambientada na Suécia que no Brasil. Em exaustiva pesquisa quantitativa que analisou 258 romances brasileiros publicados entre 1990 e 2004 pelas editoras mais expressivas do setor – Companhia das Letras, Rocco e Record –, o texto final do livro, “Personagens do romance brasileiro contemporâneo”, revela em números tendências impressionantes da nossa literatura atual. Quase três quartos dos romances publicados (72,7%) foram escritos por homens; 93,9% dos autores são brancos; o local da narrativa é mesmo a metrópole em 82,6% dos casos; o contexto de 58,9% dos romances é a redemocratização, seguida da ditadura militar (21,7%). Além de o protagonista ser, na maior parte das vezes, representado como artista ou jornalista, os negros surgem quase sempre como marginais e as mulheres, como donas-de-casa ou prostitutas.
DUAS PERGUNTAS PARA A AUTORA
CULT – Por que seu estudo se ateve apenas a livros de grandes editoras? Além disso, sua pesquisa parou em 2004, e já estamos em 2012…
Regina Dalcastagnè – Pensamos em preparar um projeto com foco nas editoras menores, mas precisaríamos de uma rede de apoio em todo o país para levantarmos todas, sem falar nas di_ culdades para a aquisição de todos os livros. Em tempo: já estou com nova equipe montada para prosseguir a pesquisa junto às grandes editoras, com um recorte de 2005 a 2014.
Autores egressos de pequenas editoras para as maiores não mudariam o resultado da sua pesquisa?
Creio que, somando os autores que saíram de editoras menores para as grandes, nossos resultados seriam os mesmos. Ressalto que nossa pesquisa foi realizada sobre “os romances publicados pelas grandes editoras” – livros e autores que “costumam ser” referendados pelo campo literário brasileiro (jornalistas, críticos literários, editores, professores etc.) – ou seja, é apenas um recorte representativo do que “se considera ser” a literatura brasileira contemporânea.

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