Infelizmente, a sociedade em que
vivemos tem a heterossexualidade como princípio de vida, como normalidade. Um
indivíduo homossexual é muitas vezes forçado a se adaptar às normas vigentes,
como forma de ser aceito. Isso, ao contrário de trazer algum benefício, provoca
uma enorme carga de sofrimento psíquico e desajuste, podendo desencadear até
doenças psiquiátricas, como a depressão e o abuso e dependência de drogas.
Dessa forma, a família tem um papel importante ao aceitar o indivíduo como ele é, pois não se trata de uma simples escolha, tampouco um comportamento aprendido, mas uma manifestação, uma característica inata do indivíduo. Quanto mais ele é aceito e estimulado a ser o que é, mais fortalecido, seguro e autoconfiante será. Evoluímos bastante em nossa sociedade com relação ao preconceito, mas ainda temos muito a crescer.
Quando a família "descobre" que seu filho é homossexual, isso é comumente encarado como uma grande catástrofe. Vergonha, medo, culpa, sensação de ter errado na educação do filho são sentimentos comuns que perturbam bastante os pais. Sem falar nas influências religiosas em que a pessoa foi criada, que condenam a homossexualidade, encarando como pecado e desvio de caráter.
Então é muito importante que a família procure orientação de profissionais capacitados para ajudá-los a entender que ninguém é culpado, que não é uma escolha e que não se trata de "safadeza", desvio de caráter, pecado ou doença. Infelizmente, temos poucos profissionais da área médica que disponibilizam e trabalham com grupos de apoio para orientar as famílias, mas há muitos terapeutas que atendem famílias e que geralmente podem ser uma boa opção nesses casos.
Muitos pacientes homossexuais que atendi em meu consultório se recordam do bullying sofrido na escola e em outras situações sociais por serem identificados como ou se assumirem homossexuais e essa lembrança é geralmente traumática, pois irá abalar a autoestima do sujeito, aumentar a sensação de incapacidade e de desajuste social, podendo levar à depressão, ao suicídio e ao uso de drogas.
Diversos estudos nos EUA e na Europa mostram que as taxas de suicídio, depressão e uso de drogas entre jovens homossexuais, principalmente do sexo masculino é maior do que na população geral. Essas marcas deixadas por essa violência irão contribuir na falta de confiança, na insegurança e no aparecimento de doenças psiquiátricas.
*Marcelo Niel é médico psiquiatra e psicoterapeuta de orientação junguiana. Mestre em Ciências e colaborador da Unifesp. Professor Instrutor do Departamento de Psiquiatria da Santa Casa de São Paulo. Um dos autores do livro: “Série Dilemas Modernos 1: Drogas, Família e Adolescência”.
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