sexta-feira, 26 de abril de 2013

O feminismo não tem limites (e nem deveria ter mesmo)

O feminismo não tem limites (e nem deveria ter mesmo)

Maior Digressão

Há poucas horas, me deparei com a expressão "feminismo desenfreado". Eu ri um pouco do ridículo da expressão, mas depois ela me fez refletir. Em primeiro lugar, qual o problema de não ter freio em exigir igualdade de direitos, respeito a todos e uma sociedade mais justa? E por fim, a quem interessa frear o feminismo?

Ao Estado cujo poder se concentra nas mãos de homens. Ainda que tenhamos uma presidenta, não temos poder, não temos representatividade. Precisamos de mais mulheres nas trincheiras do legislativo, do executivo e do judiciário, na linha de frente, nos defendendo de leis que atentam contra a nossa dignidade, como o Estatuto do Nascituro. 

Aos empresários que precisariam pagar igualmente aos homens e às mulheres. Nada de contratar mão de obra qualificada a preço de banana.

Às empresas que teriam que reformular sua estratégia de marketing. Os fabricantes de cerveja precisariam parar de objetificar mulheres, os fabricantes de produtos de limpeza, teriam que entender que homens também são capazes de realizar tarefas domésticas, os fabricantes de brinquedos teriam que oferecer bonecas aos meninos. Enfim, todo mundo teria que se levantar do seu lugarzinho confortável, quentinho e ser criativo de verdade.

À igreja que teria que explicar para os fiéis porque mulheres não fazem parte do seu alto escalão. Além, é claro, de ter que explicar porque as mulheres foram sempre vilipendiadas, destratadas, subjugadas e mortas em nome da fé. Sem contar o exercício que seria mudar o discurso de submissão que é vomitado em cima das mulheres, o que interferiria diretamente no seu modelo falido de família.

À grande mídia formada por conglomerados familiares, que só oferecem lugar de destaque a uma mulher se ela souber repetir como um papagaio tudo aquilo que os homens e mandatários dessas famílias pensam. Que teria que dar voz às mulheres, em vez de dar ordens.

Aos exploradores sexuais que traficam, vendem, aprisionam, estupram, desumanizam e matam mulheres no mundo inteiro.

Aos financiadores de conflitos, que sabem da força destrutiva do estupro que é constantemente usado como arma de guerra.

À indústria da moda/beleza que retira de nós o desejo das mulheres a capacidade de amar ao seu corpo, de vestir o que achar melhor, de ter uma auto-imagem adequada. Naomi Wolf mandou o papo retíssimo na cara da sociedade: "Uma cultura obcecada por magreza feminina não é obcecada pela beleza da mulher, mas sim pela obediência feminina. A dieta é o sedativo político mais potente na história da mulher, uma população levemente louca é uma população dócil".

Aos médicos cesaristas que todos os dias praticam o oportunismo de negar informação às suas pacientes, para assim retirar-lhes o poder de escolha sobre o próprio corpo.

Aos charlatães que lotam universidades e ganham dinheiro em cima de pesquisas de gênero pseudocientíficas sem metodologia confiável

E principalmente, àqueles homens que se beneficiam do machismo e não estão dispostos a deixar de lado o poder que presumem ter sobre as mulheres. Poder que vai desde achar que é normal assediar uma mulher na rua até o direito de decidir se a mulher deve viver ou morrer. Homens que não querem uma sociedade horizontalmente estruturada, preferem manter-se no topo de uma pirâmide cuja base é composta por minorias historicamente oprimidas.

E, na boa? sou feminista e nenhum deles vai me segurar.

Essa foi uma lista que reuni em poucos minutos. Sei que há muitos outros interessados na manutenção do sistema patriarcal. A semelhança entre eles? Todos estão lucrando $$$ com a opressão machista. Interessa muitíssimo ao capitalismo que o feminismo seja contido, seja controlado. A quem você acha que interessa frear o feminismo?

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