quinta-feira, 11 de abril de 2013

Se apoiar direitos é coisa do diabo, quero o diabo do meu lado


Se apoiar direitos é coisa do diabo, quero o diabo do meu lado



Toda vez que ocorre uma reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e o seu presidente, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), apronta mais alguma, me dá uma canseira. Dessa vez, devido a novos protestos contra a sua permanência na função, ele ignorou a determinação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de manter sessões abertas aos visitantes e cerrou as portas. Novamente.
E, dessa forma, vai se projetando na mídia e ganhando votos futuros. E não apenas entre o público evangélico de alguns setores mais conservadores.
Numa roda de amigos juízes, com exceção de uma única alma solitária, todos defenderam as posições de Marco Feliciano. Acreditam que o relacionamento de pessoas do mesmo sexo é errado, que o amor só ocorre entre um homem e uma mulher. E alguns deles, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal de considerar legal a união estável homoafetiva, já haviam considerado nula tais uniões de casais em suas comarcas.
É engraçado, mas muita gente que lê este blog não entende quando digo que tal pensamento é ignorante. Retruca afirmando que “eu tenho um pós-doc e penso a mesma coisa”. Virgem! E quem é que disse que “ignorância” tem a ver com nível de formação intelectual ou técnica sobre determinado assunto? Há pessoas que nunca se sentaram em um banco de escola e conseguiram, através da vivência com o outro e entendendo a diferença, serem muito mais esclarecidas do que outras que possuem 15 mestrados, 10 doutrados e 5 pós-doutorados e tratam quem não é igual à sua imagem e semelhança com desrespeito e preconceito. São os chamados “ignorantes cultos”. Muitos deles conhecem os museus da Europa Ocidental com a palma de sua mão, mas são incapazes de estendê-la a quem quer que esteja fora de seu círculo social. Desse tipo, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, por exemplo, estão cheias.
Um casal gay não pode ficar no limbo da cidadania só porque alguém acredita que uma força sobrenatural não gosta de duas pessoas que se amam independentemente do que têm entre as pernas.
Deus – se existe – deve estar tomando muito Frontal para aguentar os argumentos da turminha que diz que fala em nome dele. Mas, de certa forma, ele está acostumado com gente que faz sandice em seu nome, pois o discurso de intolerância contemporâneo é uma forma de Inquisição. Com alguns evangélicos (que mancham o nome dos que pregam o amor) tendo aprendido bem o modus operandi desenvolvido pelo catolicismo séculos atrás.
Como já discuti aqui, a preguiça que tenho desse pessoal é de um tamanho que vocês não imaginam. Isso sem contar a ação abnegada dos auto-intitulados representantes das forças do universo aqui na Terra para travar a legislação que tornaria crime a homofobia. Querem ter o direito de continuar dizendo que “ser viado é coisa do diabo e, por isso, precisa ser extirpado a todo o custo”.
Se apoiar esses direitos é coisa do diabo, então quero o diabo do meu lado.
(Aviso necessário conhecendo meu público: ao pessoal que lê tudo de forma diagonal, isso foi uma ironia. Eu não acredito na existência do sobrenatural.)
“E o meu direito à liberdade de expressão, de poder reclamar dos gays? Você não defende essa liberdade para os maconheiros que marcham?” Desculpe, mas se você está usando esse argumento, peço encarecidamente que procure outro blog. Vai! Corre! Passa! Mas vai mesmo e não olha para trás para não virar estátua de sal, ok? Lembre-se a história de Ló…
Não pela sua opinião, que por mais bizarra que seja é sempre bem-vinda neste amável circo, mas pela incapacidade de entender o que estamos discutindo aqui há anos. Que por nascerem seres humanos, todos compartilham do direito à dignidade, que precisa ser garantida a todo o custo e acima de qualquer coisa. Obrigação do Estado que, lembremos, é (ou deveria ser) laico, defendendo a liberdade de culto, mas protegendo as minorias do absolutismo bisonho dos Torquemadas contemporâneos.
Enquanto isso, o que fazemos? O que já disse aqui antes: tratamos esse povo que fala sandice como a mesma complacência com a qual se trata uma criança que não entendeu ainda que não pode machucar o amiguinho só porque ele é diferente. Educando, com amor e carinho, quem sabe, um dia vão entender. E se forem violentos e cercearem a liberdade alheia, cadeia neles. Simples assim.


.

0 comentários: