quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cantora é contra gay levantar bandeira: Bandeira contra o racismo seria negros contra brancos, Ana Carolina?

Cantora é contra gay levantar bandeira: Bandeira contra o racismo seria negros contra brancos, Ana Carolina? 

Bandeira contra o machismo seria mulheres contra os homens, Ana Carolina? 

Bandeira contra o preconceito de pessoas com deficiência seria contra os "normais", Ana Carolina? 

Contra Ana Carolina: Pelo direito de levantar bandeiras

Por Vitor Angelo - Blogay

Em entrevista para o Uol Música, nesta quarta-feira, 29, segundo o texto, a cantora Ana Carolina se posiciona da seguinte maneira sobre a questão homossexual: “À esteira do casamento gay de Daniela Mercury, ela elogia a colega, mas se mantém contrária ao mesmo pensamento que teve na época [de se declarar bissexual para uma revista]: levantar bandeira ‘é um preconceito ao contrário’. [...] ‘Não gosto disso. Fica essa coisa de nós gays contra os héteros. Isso é preconceito ao contrário. Acho legal a Daniela estar casada e a postura que ela teve, influencia aquela pessoa babaca, ignorante, que gosta da Daniela. Ele pensa: Talvez eu esteja errado. Fico um pouco assim com as pessoas que levantam bandeirinha, mas fica puta se o filho for gay. Não precisa levantar bandeira. É só agir de maneira honesta e respeitosa”, explica.

Ana Carolina: é isso aí, só que não (Divulgação)
Existe uma confusão tão gigante de pensamentos torpes que nem sei por onde começar.  Ela diz que levantar bandeira é preconceito ao contrário, mas gostaria de saber se quando Chiquinha Gonzaga levantou a bandeira da mulher como compositora no começo do século 20, estava ocorrendo um preconceito dela contra os compositores e os homens? Aliás, se a grande compositora de marchinhas não levantasse esta bandeira talvez não tivéssemos o desprazer de ler esta entrevista de Ana Carolina, pois a cantora como mulher não teria nem status para estar nas páginas de jornais. Viva Chiquinha Gonzaga!

Gostaria de saber se Ana Carolina acredita que quando Elizabeth Eckford, a negra que desafiou o racismo norteamericano e, em 1957, foi a uma escola mista e os brancos a xingaram incessantemente, ela estaria cometendo algum tipo de preconceito com os brancos? Viva Elizabeth Eckford!

E os gays e lésbicas que tomaram as ruas do Village em Nova York,  no final dos anos 1960, pedindo tratamento justo e que a polícia não mais os humilhassem por sua orientação sexual? Se eles não tivessem levantado a bandeira, Ana Carolina,  a senhora nem poderia imaginar se declarar bissexual na revista “Veja” nos anos 90. Viva Stonewall!

E que pensamento pobre é este de: “Fica essa coisa de nós gays contra os héteros”?  Nem precisa ir muito longe. Hoje mesmo, os Tribalistas – formados por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown  -, que, até onde a gente sabe, são heterossexuais, fizeram um hino para o casamento igualitário e para a Parada Gay de São Paulo. Então onde existe esta guerra entre gays versus héteros quando se levanta uma bandeira? Só na cabeça dos mal intencionados, dos perversos e dos mal resolvidos, pois héteros muito bem resolvidos não tem problema nenhum com gays e, muito pelo contrário, levantam sim a bandeira para que os LGBTs tenham um vida mais igualitária a deles.

Levantar bandeira seja contra, seja a favor, é tomar posições e isto é coisa para os fortes, a covardia dos egodistônicos, aqueles que estão em desintonia com seus desejos e vivências sexuais públicas e privadas, é a maior tristeza vivencial de alguém que não é heterossexual, pois traça em vis desculpas a incapacidade de assumir para si e para o mundo o que realmente ama. E age de maneira desonesta e desrespeitosa com os outros e principalmente para si.

E antes que os fã-náticos de todo o tipo venham aqui falar em liberdade de expressão, eu digo que ela é não é uma rua de mão única. Do mesmo jeito que Ana Carolina tem o direito de se expressar, eu também tenho o meu de questioná-la pela minha expressão.  E é isso aí!

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2 comentários:

Juliana Nunes disse...

Resposta da Ana Carolina à matéria do Blogay:
Vamos ser francos ?
Estou nessa lida profissionalmente há 14 anos e a parte desse trabalho que menos gosto é de dar entrevistas que não foquem na minha música. Algum motivo deve existir e aproveito essa oportunidade para refletirmos sobre o que foi publicado na página BLOGAY, pelo jornalista, produtor e cineasta Vitor Angelo. Lamento o fato de não ter sido procurada por ele antes da publicação do texto onde erroneamente interpreta minhas palavras e agora ter que me explicar por algo usado fora de contexto. Vamos lá.
Pra começar, gostaria de esclarecer que o texto baseia-se em declarações minhas dadas ao UOL, uma entrevista marcada para falar de #AC, meu novo trabalho. Mas como 80% dos entrevistadores que conversam comigo, o jornalista do UOL quis saber minha opinião sobre assuntos ligados à sexualidade. No caso específico dessa entrevista, questões ligadas à Daniela Mercury e Marco Feliciano.
Nunca me furtei a responder nenhuma das perguntas que já me foram feitas em todos esses anos de exposição pública. Já me manifestei abertamente sobre minha sexualidade em 2005, na revista Veja. Foi uma entrevista extensa, verdadeira e respondida sem nenhum pudor ou reserva. Acreditei que com essa exposição, não haveria mais lugar para especulações e interesse sobre essa questão, mas até hoje, esse assunto rende nas entrevistas.
Não vejo problemas com o assunto, mas prefiro falar de música, que é o meu foco, a minha paixão.
Ao Blogay e seus leitores, preciso dizer que não há a menor centelha de realidade – e verdade – em qualquer afirmação que diga que eu não sou a favor dos gays, seus direitos e as causas que defendem !! Jamais falei qualquer coisa que pudesse ser interpretada deste modo, portanto essa pretensa imagem de “vira-casaca” de algum movimento, desculpem, mas não me cabe.
Quem me conhece e sobretudo conhece o meu trabalho sabe exatamente o que eu penso sobre isso.
Se levantar a bandeira a favor dos gays significa fazer algo a favor da causa, ora, eu faço isso há muitos anos. Sou parte dessa luta e desse movimento. É só ouvir o que eu canto, é só assistir aos meus shows
Já levantei, sacudi e me envolvi na bandeira gay em meus shows e falo sobre o assunto em muitas de minhas canções.
Inclusive, a última música que fiz me referindo a esse assunto chama-se UN SUEÑO BAJO EL AGUA com a frase: “VOCÊ QUE SE CHOCA AO VER QUE NO RIO O BEIJO GAY JÁ NÃO CHOCA MAIS” http://youtu.be/ozBoy8R6aLY
(Cont.)

Juliana Nunes disse...

Talvez o beijo gay ainda choque uma parcela de preconceituosos, mas o que eu quero é que o beijo gay não choque mais. Seja normal. MEU SONHO UTÓPICO é DE NÃO precisarmos reivindicar mais nada, nem nos fazermos diferentes ! Somos todos seres humanos!
Eu não me sinto diferente, nem sou tratada assim e vivo em um meio onde as pessoas não são consideradas por suas escolhas sexuais. Gostaria, do fundo do meu coração, que em todo mundo fosse assim! Por isso não levanto a mão pra dizer “sou bi, sou gay”, com proselitismo ”, não preciso dizer nada, porque sou uma pessoa normal ! Ser gay ou bi tem que ser igual, normal, natural !! E é assim que eu levanto a minha bandeira: vivendo minha vida privada com normalidade e sem alarde, independentemente da minha condição sexual.
Portanto não adianta querer tentar colar em mim um rótulo contrário ao que é o meu exercício diário de realidade. É de domínio público, há anos, a minha posição completamente a favor de qualquer movimento que lute pela igualdade na comunidade GLS.
Esta semana respondi a inúmeras perguntas sobre o casamento de Daniela Mercury e sobre o Pastor Marco Feliciano e o tititi em volta da questão homossexual. Sobre ele, disse a todos o que penso realmente “ Ele não merece que eu perca tempo falando sobre ele”.
Daniela é uma artista ímpar, trabalhadora, dona de uma carreira sólida, consolidada em anos de muito trabalho, muito preparo e dedicação, uma pioneira em sua terra e em seu país, uma potência de força e energia que contagia o mundo, conhecida e respeitada por todos. Quando Daniela se declarou sobre sua união – ato libertador, corajoso e absolutamente verdadeiro, bati palmas.
Para ela e para todos os seres que conseguem a proeza de serem quem são diante da sociedade, sem hipocrisia, tiro meu chapéu.
Preconceito não há em meu dicionário.
E para fechar, digo o que repeti a vários jornalistas nas entrevistas, para não haver mais dúvidas: não acho que sacudir bandeirinha coloridinha tenha mais importância do que dissipar da sociedade o preconceito real dando voz aos amores gays nas minhas músicas, sendo verdadeira nas minhas atitudes. Cada um que aja como pode, sem patrulha, sem agressão. O que eu disse é que quando um pai entrar em uma cerimônia de casamento ao lado do filho ou filha e entregar “sua mão” a alguém do mesmo sexo e isso for visto como natural por todos dentro e fora daquele lugar, aí é que teremos chegado ao que verdadeiramente deveria ocorrer.
Aliás estou à disposição se o Vitor for homem de boas intenções para uma conversa sobre o assunto. Mas por favor não tentem deturpar minhas palavras. Viva a todos aqueles que sofrem ou sofreram de preconceito e lutam pelos mesmos direitos.
Quanto aos Tribalistas, que ótima a canção! Adorei ! Somos todos da mesma tribo, gente do bem. Um somos todos e todos somos um.
#AC
P.S . Fiz uma canção chamada “HOMENS E MULHERES” gravei sozinha no disco Dois quartos e posteriormente gravei com a Angela RoRo HOMENS E MULHERES
(ANA CAROLINA)

E eu gosto de homens e de mulheres
e você, o que prefere?
E você o que prefere?
Homens que dançam tango
Mulheres que acordam cedo
Homens que guardam as datas
Mulheres que não sentem medo
Homens de toda a idade
Mulheres até as genéricas
Homens que são de verdade
Mulheres de toda a América
Homens no sinal verde
Mulheres de batom vermelho
Homens que caem na rede
Mulheres que são meu espelho
E eu gosto de homens e de mulheres
e você o que prefere?
Mulheres na guitarra
Homens de corpo e mente sã
Homens vestindo sobretudo
Mulheres melhor sem sutiã
Homens que enrolam serpentes
Mulheres que vão na frente
Homens de amar tão de repente
Mulheres de amar pra sempre
E eu gosto de homens e de mulheres e você o que
prefere?
E você o que prefere?

Por: Ana Carolina

Fonte: http://www.midiorama.com.br/blog/2013/05/ana-carolina-responde-a-materia-do-blogay-leia-a-carta/