sábado, 13 de julho de 2013

Boicote de médicos a planos de saúde: "Quem que não tiver dinheiro terá que remarcar a consulta para quando puder pagar"

Boicote de médicos a planos de saúde: "Quem que não tiver dinheiro terá que remarcar a consulta para quando puder pagar"

 Boicote de médicos a planos de saúde prejudicará 820 mil 

Profissionais só vão atender usuário que pagar R$ 70 por consulta. Paciente terá que pegar recibo para ser reembolsado

MAX LEONE E STEPHANIE TONDO - O Dia
Rio - A decisão dos médicos do Rio de recusar atender consultas de pacientes particulares com guias do Bradesco Saúde, da Porto Seguro e da Fundação Geap vai prejudicar mais de 820 mil usuários no estado. Posicionamento do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) em conjunto com a Sociedade Médica do Estado (Somerj) e a Central Médica de Convênios e Sociedades de Especialidade determina que os profissionais só prestem serviços mediante pagamento direto do paciente de R$ 70 por consulta. Os médicos emitirão recibo para que os planos reembolsem os clientes.



A empresária Maria Lima, 40 anos, conta que ao tentar agendar consulta ontem em uma clínica foi informada que o médico não poderia atendê-la pelo Bradesco Saúde, por determinação do conselho.
“Fui à clínica pedir documento que comprovasse a recusa e a recepcionista me apresentou o informe do conselho regional de 28 de junho, dizendo que em assembleia, o conselho tinha decidido que não seria mais aceito o plano” , afirmou. 

Para ser atendida, ela precisou pagar R$ 70. “Fui à consulta, paguei e meu ortopedista informou que o órgão está fiscalizando as clínicas para que não aceitem o plano”, explicou.

Secretária estadual de Defesa do Consumidor, Cidinha Campos informou que vai tentar reverter a situação por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com os planos de saúde. Ela ressalta que, apesar de as operadoras pagarem pouco aos médicos, o Cremerj não pode determinar a suspensão dos atendimentos. Segundo ela, o conselho deveria apenas sugerir aos profissionais que deixem de trabalhar com esses planos. Para Cidinha, cabe aos convênios alertar os clientes sobre a situação e evitar constrangimentos. “O conselho tomou atitude corporativista. Está defendendo o médico, mas não o paciente”, afirma. 
"Quem que não tiver dinheiro terá que remarcar a consulta para quando puder pagar"Márcia Rosa de Araújo, Presidenta do Cremerj
Márcia Rosa de Araujo, presidenta do Cremerj, alega, no entanto, que o conselho negocia com as empresas desde março. “Elas não apresentaram propostas satisfatórias para reajustar o valor das consultas. Por isso, os médicos tomaram a decisão em assembleia. Quem que não tiver dinheiro terá que remarcar a consulta para quando puder pagar”, avisou.
Segundo a dirigente do conselho, os profissionais de saúde vão atender somente casos de urgência e de emergência. Márcia argumenta que os planos remuneram os médicos pagando R$ 60, em média, por consulta. A categoria reivindica valor maior. 
“Queremos um mínimo de R$ 70. E a equiparação do repasse das internações em enfermarias com as de quartos. Os planos pagam apenas 50% no primeiro caso”, ressalta Márcia.

Contrato deve ser respeitado
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) esclareceu, por meio de nota, que os planos não podem cobrar a mais por consultas ou serviços que o valor previsto pelo contrato assinado pelo o cliente. 
“Caso algum prestador de serviço de saúde anuncie a cobrança para o beneficiário, a operadora do plano de saúde deve ser comunicada e oferecer alternativa de atendimento sem qualquer ônus”, informa um trecho da nota da agência reguladora. 
Além disso, de acordo com a secretária Cidinha Campos, os clientes de convênios médicos não podem ser surpreendidos por situações que não constem no contrato, como mudança de quadro de pessoal ou descredenciamento do hospital que frequentavam.

PLANOS DE SAÚDE
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) respondeu em nome da Bradesco Saúde e da Porto Seguro: “As associadas mencionadas reportaram não registrar problemas estruturais no atendimento de seus beneficiários pelas suas redes referenciadas de médicos no Estado do Rio de Janeiro”.

GEAP 
Em nota, a Fundação de Seguridade Social (Geap) informou que foi a única a comparecer à reunião no último dia 4, com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio e lá apresentou propostas para a negociação. Na ocasião, foi reiterado o valor da consulta médica em R$ 70, decisão que vai valer a partir de 1º de agosto. “Com isso, tendo a Geap apresentado proposta de negociação, inclusive com o valor de consulta proposto pelo Cremerj, não há motivo para que os atendimentos sejam suspensos”, diz o comunicado.

CASOS ISOLADOS 
Ainda de acordo com a Geap, houve registro de dois casos isolados em que beneficiários tiveram que pedir reembolso. Informou que a regional já entrou em contato com os prestadores locais e a situação foi revertida. A fundação garante que os prestadores — hospitais e clínicas — estão cientes dessa negociação com o Cremerj. “Nossa rede de prestadores de serviço está alinhada com as ações da Geap e os assistidos não estão tendo mais problemas”.
AGÊNCIA REGULADORA 

A Agência Nacional de Saúde Suplementar informou que os canais de atendimento estão à disposição dos clientes dos planos que tenham queixas por meio do telefone 0800 701 9656 ou pelo site www.ans.gov.br. 

.

0 comentários: