segunda-feira, 29 de julho de 2013

Em tempos de patrulha ideológica eu grito: conformista é o caralho!

Em tempos de patrulha ideológica eu grito: conformista é o caralho!

Nina Lemos

“Que isso, Nina, pregando o conformismo?”. Nesses tempos de brigas e patrulha ideológica, essa frase, vinda de um antigo colega de faculdade, foi a que mais me irritou. Tive vontade de voar virtualmente no pescoço dele e gritar: CONFORMISTA É O CARALHO.  Eu, conformista? Sei. Conformista com esse medo que eu to de ir ficar sozinha por seis meses em Berlin no inverno em busca de algo que eu ainda não sei o que é. Eu, conformista. Sei. Vou congelar, estudar alemão. Mudar pela vigésima vez de casa e sou conformista. Sei. Se você não quer ser conformista com a política, primeiro não seja conformista com a sua própria vida. Fica essa dica, gritada bem alto.
São tempos de patrulha ideológica. Você precisa falar que todo mundo tem mesmo que ir para a rua enfrentar a policia. Se você acha que não, que a melhor estratégia política é ficar em  casa, pronto, você é velha, conformista, não entendeu “o novo”. Tem que gostar de gás, se não, bem, você está fora de moda.
Mas isso nem é o pior. Você tem que gostar de gás na cara dos outros. E bala de borracha na cara dos outros é refresco! Muito fácil não ser conformista ficando em casa e mandando os jovens para o sacrifício. “Isso, vai lá correr o risco de apanhar de uma PM absolutamente assassina”, diz o não conformista, enquanto toma a sua cervejinha na frente do computador. Eu não mando jovem para o sacrifício, não. Eu quero as crianças bem. Mas é, eu sou velha. Acredito em partido: velha. Acho que a gente não vive em uma ditadura: velha. Acho que é preciso ser esperto taticamente: velha. Acho que antes de ir para a rua você tem que saber muito bem qual é a sua causa: velha.
Dormi em Maio de 2013. Acordei velha em junho de 2013. A patrulha ideológica não para. E também não pode fazer piada. É proibido. Rir de playboy viciado em gás lacrimogêneo. Não pode. Bem, eu sou da teoria de que NINGUÉM TEM QUE NADA. Então, eu peço, do meu sofá. Eu clamo, da minha cama. Não, eu NÃO TENHO QUE IR PARA A RUA. Eu NÃO TENHO QUE MANDAR AS CRIANÇAS PARA A RUA NO MEU LUGAR. Não, Não, Não. Eu vou fazer piada sim. Eu vou condenar seriamente a PM sim. Eu vou achar o que eu bem entender. E, ah, conformista é o caralho!

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