segunda-feira, 22 de julho de 2013

Importação de médicos: fatos que a imprensa omitiu

Importação de médicos: fatos que a imprensa omitiu

A má informação atrapalhou o debate sobre a importação de médicos estrangeiros. Conheça fatos vitais que não foram transmitidos aos brasileiros

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Há um problema dramático de má comunicação na questão de importação de médicos.

Não vamos nem falar no lastimável comportamento dos médicos e suas associações, agarrados a um corporativismo ululante, egoísta e desinformado.

Uma boa frase estava circulando ontem no Twitter: “Esses caras não saem da Paulista nem para fazer protestos.”

Vamos nos centrar, especificamente, na maneira como a decisão de trazer médicos de fora foi apresentada pelo governo aos brasileiros.

Subitamente, pouco tempo atrás, a sociedade soube que havia vontade de trazer 6 000 médicos cubanos para atuar nos lugares remotos que não atraem os médicos brasileiros.

Na boataria que nasceu, houve gente que acreditou no rumor de que poderia ser o embrião de uma revolução comunista promovida por guerrilheiros cubanos disfarçados de médicos.

Faltou ao governo esclarecer, de início, duas coisas:

1) A medicina cubana é reconhecida mundialmente pela excelência, ao contrário da brasileira, ineficiente e mercantilizada. A medicina cubana tem um caráter preventivo, e é altamente eficiente: a expectativa de vida em Cuba é comparável à dos países mais desenvolvidos do mundo.

“Basta ver as estatísticas de Cuba para avaliar sua medicina”, disse um médico inglês que mais de uma vez esteve na ilha para estudar o modelo cubano.

Num momento em que reformulava seu mitológico sistema de saúde, o NHS, a Inglaterra mandou uma equipe a Cuba para ver o poderia aprender com o jeito cubano de cuidar da saúde.

Hoje, a saúde pública britânica é, como a de Cuba, focada na prevenção.

2) Outros países altamente desenvolvidos importam médicos quando eles são necessários para a saúde pública.

Isso quer dizer o seguinte: o Brasil estava apenas copiando uma boa prática.

Cerca de 40% dos quase 235 mil médicos registrados no Reino Unido são estrangeiros. A Índia é o principal fornecedor para os ingleses, com 25 mil profissionais.

Os Estados Unidos também são grandes importadores. A cota de profissionais estrangeiros entre os americanos ultrapassa de 25%.

Também a Noruega vai atrás de médicos no exterior. “O programa de importação de médicos da Noruega é considerado um exemplo”, notou o site alemão DW numa recente reportagem sobre o tema.

Cuba, neste quadro, é um tradicional exportador de médicos. Há ou já houve médicos cubanos em 108 países.
A medicina cubana tem relevância internacional também na área de remédios.

Nos anos 90, Cuba se tornou o primeiro país a desenvolver e comercializar a vacina contra a meningite B.

Depois, Cuba criou vacinas contra a hepatite B, fornecidas para 30 países, entre eles China, Índia e Rússia.

O debate no Brasil sobre a importação de médicos estrangeiros – cubanos e de outros países – acabou prejudicado pela falta de informações vitais do governo, pela cobertura míope da mídia e pela reação histérica dos médicos brasileiros.

Resta torcer que a saúde pública brasileira não termine como a grande derrotada na polêmica.

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