Mário Augusto Jakobskind
Enquanto o Presidente da
Colômbia, Juan Manuel Santos, reconhecia a responsabilidade do Estado por
violações dos direitos humanos e infrações ao Direito Internacional Humanitário
no prolongado conflito armado naquele país, informação pouco divulgada por aqui,
no Rio de Janeiro ocorreu um fato extremamente grave.
Na
edição da quarta-feira (25) do jornal O Globo, o repórter Antônio Werneck
assinava matéria mentirosa, com chamada de primeira página, revelando que
“agente da Abin foi preso em protesto” e com o complemento de sustentação
“vândalo chapa-branca”. O jornal da família Marinho, numa demonstração de baixo
jornalismo “informava” sobre a prisão do geógrafo e agente da Abin Igor
Pouchain Matela junto com a mulher, Carla Hirt.
Mentira
grosseira. Carla Hirt foi presa quando fugia da truculência policial sendo agredida,
depois de ser ferida por balas de borracha, não tendo jogado pedras em lugar
nenhum. O marido, que não estava com ela, foi até a 14a. Delegacia Policial, no
Leblon, ao ser avisado pela própria mulher da prisão e agressão por parte de um
tenente da PM.
Portanto,
ai se esclarece a primeira mentira que tem por visível objetivo induzir o
leitor a incriminar a Abin, desviando a atenção do principal, ou seja, de que a
PM de Sergio Cabral infiltra agentes P2 nas manifestações, não propriamente
para observar, como alegam as autoridades, mas para provocar tumulto. Vídeos
postados nas redes sociais não deixam dúvidas.
Carla
foi acusada de formação de quadrilha e ter jogado pedras numa agência bancária.
Ela foi presa na rua Redentor e a PM notificou que a prisão ocorreu na Visconde
de Pirajá. Portanto, uma nova mentira, como várias outras encontradas na
matéria do repórter Antônio Werneck. A indicação da Visconde de Pirajá foi para
mostrar que ela estava no centro dos acontecimentos no momento da prisão. Se
fosse colocada a rua exata ficaria demonstrado que Carla foi presa fora do
local onde a PM agia com truculência, por orientação do trio Sérgio Cabral,
José Mariano Beltrame e Coronel Enir Costa Filho, comandante da PM.
Que
quadrilha os presos poderiam ter formado se nenhum deles se conhecia? Antes da
matéria ter sido divulgada, Carla Hirt deu entrada com uma ação no Ministério
Público informando ter sido vítima da truculência policial, agredida e baleada,
além de acusada falsamente de formação de quadrilha.
Fonte não revelada - Mas o que também chama a atenção da matéria é o fato dela ter
sido divulgada uma semana após os acontecimentos ocorridos na manifestação que
começou nas imediações do prédio onde reside o Governador Sérgio Cabral, no
bairro do Leblon, dia 18 de julho. Aí que mora também o perigo. A fonte da
informação sobre a falsa prisão do agente da Abin, não citada pelo repórter de
O Globo, foi o ex-deputado Marcelo Itagiba, do PSDB.
Itagiba
não é flor que se cheire, tendo sido citado numa Comissão Parlamentar de
Inquérito da Assembleia Legislativa fluminense sobre a ação das milícias como
elemento vinculado a esse grupo criminoso que atua com ramificações no aparelho
de Estado. Uma pergunta que não quer calar: quem informou Itagiba sobre a
ocorrência na delegacia do Leblon? E por que Antônio Werneck não revelou a
fonte da sua mentirosa matéria e fez questão de contatar o ex-deputado? Ele é
fonte de O Globo?
Baixo jornalismo - Mas se os leitores imaginam que o baixo
jornalismo do jornal se limitou ao que foi mencionado até agora, engana-se. Tem
mais. A própria matéria desdiz a chamada de primeira página ao revelar no meio
do texto que o agente foi autuado por desacato quando chegou à delegacia.
Então, por que ter colocado com chamada de primeira página a mentira de que o
agente da Abin foi preso no protesto? E por que dar ênfase ao “desacato” e
relegar a plano secundário a agressão sofrida por Carla Hirt e também colocá-la
no texto como agente da Abin?
Como
Igor Matela havia mandado uma carta ao jornal O Globo negando o desacato e
informando que ele e Carla Hirt eram alunos do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o
repórter Antônio Werneck procurou o professor Carlos Wainer, titular do referido
instituto, perguntando se “o senhor gostaria de comentar o caso” e se ”conhecia
o casal?”.
Vainer
respondeu, mas o que disse não foi divulgado pelo jornal: “Carla é geógrafa,
professora, brilhante estudante de doutorado em Planejamento Urbano e Regional.
Digna e íntegra, como os milhões de jovens que têm ido às ruas manifestar sua
inconformidade com a situação do país. Orgulho-me de ser seu professor, No Rio
de Janeiro, o direito de manifestação vem sendo violado por uma polícia inepta,
brutal e, como agora se sabe, capaz de forjar autuações fraudulentas para
criminalizar manifestantes. Sob pretexto de manter a ordem, a polícia instaura
o terror a cada nova manifestação pública. É necessário investigar e punir
policiais e autoridades que promovem ou acobertam essas violências. Ouvir a
mensagem das ruas, recomendou a Presidente Dilma, Querem, no entanto, calá-la”.
Igor
Matela garante também que em momento algum deu uma carteirada como agente da
Abin, como insinua O Globo. Ao ser enquadrado, a delegada naquele momento,
Flávia Monteiro, pediu seus documentos e que revelasse a profissão. Mostrou
então a carteira de motorista e disse ser funcionário público. A delegada
insistiu perguntando em que repartição, mencionando então a Abin. Igor
ingressou na Abin por concurso.
Em
suma, como tem acontecido nos últimos tempos, O Globo deu mais prova de baixo
jornalismo, que precisa ser denunciado em todos os fóruns, sobretudo nas
escolas de comunicação onde são formados os futuros repórteres que ocuparão as
redações.
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