sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“O ódio ao médico cubano é parte do ódio aos pobres”

“O ódio ao médico cubano é parte do ódio aos pobres”

solidariedade no nariz“Antes da era da globalização neoliberal, a consciência política dos médicos brasileiros costumava ser muito diferente do que ocorre na atualidade. As organizações de esquerda e a base das ideologias a elas associadas (a valorização do sentimento de solidariedade aos mais humildes) predominavam em quase todos os centros de formação médica do país. Hoje, lamentavelmente, parece que o único valor que se impõe com força nesse meio é o valor do dinheiro. Isto quer dizer que o trabalho ideológico junto a nossos compatriotas médicos (mas não só junto a eles) se faz então mais do que necessário, é impreterível”.
O ódio que vem sendo externado aos profissionais da saúde cubanos que estão chegando a nosso país não é nada mais do que outra manifestação do quase eterno ódio que certos setores sociais têm contra os mais humildes, contra os pobres.
A categoria médica brasileira está composta significativamente por elementos que se enquadram num perfil de classe média fascistoide. São, via de regra, gente que aprendeu a odiar os pobres como forma de reafirmar-se, perante si mesmos e ante o restante da sociedade, como parte das camadas “superiores”. O fato de ser de classe média não implica necessariamente uma absorção automática de sentimentos preconceituosos contra os pobres, mas é inegável que a falta de identidade própria inerente a esses grupos sociais gera um caldo de cultura mais fecundo para seu desenvolvimento. Não é, portanto, nenhuma surpresa notar que, nas manifestações mais furibundas de ódio contra os médicos cubanos, as carinhas mais destacadas sejam as de jovens arrumadinhos/as, bem vestidinhos/as, ou seja, bem tipinho classe média.
Que o ódio aos médicos cubanos se deva ao fato de que eles estão vindo ao Brasil numa missão de assistência aos setores mais carentes de nosso povo é, a meu ver, algo claro e patente. Basta constatar que as vozes que bradam com violência seu rancor na atual situação jamais se fizeram ouvir para expressar sua indignação ao projeto mantido pelo governo dos Estados Unidos que visa estimular a deserção dos médicos cubanos de suas missões em favor dos mais humildes e cooptá-los para o trabalho de assistência aos ricos nos Estados Unidos. Em outras palavras, aos médicos cubanos que se deixam levar pelo canto de sereia estadunidense (percentual extremamente reduzido do número total dos participantes nessas missões, devemos ressaltar) e aceitam ir para os Estados Unidos prestar assistência às corporações capitalistas, a esses, nossos “bonitinhos” médicos brasileiros nunca classificaram de incompetentes, de escravos, nem de ostentarem aparência física “incondizente” com a categoria médica.
Se algum fruto positivo pode ser extraído do que anda acontecendo nas demonstrações de rechaço dirigidas aos profissionais da saúde de origem cubana, este será a retirada do véu que ocultava a face de boa parte dos cidadãos que integram o conjunto dos médicos de nosso país. Antes da era da globalização neoliberal, a consciência política dos médicos brasileiros costumava ser muito diferente do que ocorre na atualidade. As organizações de esquerda e a base das ideologias a elas associadas (a valorização do sentimento de solidariedade aos mais humildes) predominavam em quase todos os centros de formação médica do país. Hoje, lamentavelmente, parece que o único valor que se impõe com força nesse meio é o valor do dinheiro. Isto quer dizer que o trabalho ideológico junto a nossos compatriotas médicos (mas não só junto a eles) se faz então mais do que necessário, é impreterível.
Tomara que, agora que as caras ficaram mais visíveis, possa haver condições para a reflexão, e que aqueles profissionais médicos que não sucumbiram ao poder econômico e aos preconceitos antipovo possam recuperar o espaço perdido nas últimas décadas.
Enquanto isto, fico feliz em saber que ainda há médicos com tanta dignidade e sentimento humanitário como os que saem de Cuba para prestar assistência aos povos mais necessitados do planeta, dentre eles, ao povo carente das regiões mais remotas e abandonadas do Brasil.

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