terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Orientação sexual, Identidade e Papel de Gênero: você sabe a diferença?

Orientação sexual, Identidade e Papel de Gênero: você sabe a diferença?


Por Élio Farias - Equipe Homorrealidade

A sexualidade humana se manifesta de maneiras tão diversas que é difícil classificá-las com precisão. O próprio movimento LGBT percebe essa dificuldade. Só no Brasil, ele já foi chamado de GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), passou para GLBS (incluindo os bissexuais), tornou-se GLBT (suprimindo os simpatizantes e incluindo os transgêneros), reorganizou-se como LGBT (valorizando a atuação das lésbicas) e há até sugestões para que se torne LGBTTIS (distinguindo travestis, transexuais, intersexos e retomando os simpatizantes). Mas será que conhecemos bem o significado desses termos? E a diferença entre “orientação sexual” e “identidade de gênero”? Os conceitos podem não ser uma unanimidade, mas nos ajudam a entender essas variadas manifestações do comportamento humano e evitar preconceitos.

Onde está a confusão?


Quem nunca viu um homem efeminado ou uma mulher masculinizada e logo pensou: “Esse aí é homossexual !”? Pois é... mas será que a orientação sexual de uma pessoa tem obrigatoriamente alguma relação com uma aparência mais feminina ou masculina? O senso comum pode até dizer que sim, mas a realidade diz o contrário. O que geralmente ocorre é um preconceito motivado pela confusão que as pessoas fazem entre “orientação sexual”, “identidade de gênero” e “papel social de gênero”, conceitos que nem sempre se combinam da mesma forma. Mas qual a diferença?

A primeira informação, a saber, é que a sexualidade humana envolve pelo menos quatro aspectos principais, que são distintos e se relacionam de formas diferentes de pessoa para pessoa. São eles:

1) Sexo biológico: refere-se ao sexo de nascimento, ou seja, se o indivíduo nasceu com sexo biológico masculino, feminino ou intersexo - termo preferível ao antigo “hermafrodita” e que envolve pessoas que nascem com características sexuais biológicas dos dois sexos.

2) Orientação sexual: refere-se à atração sexual (afetiva e/ou intelectual) que a pessoa possui por outras pessoas, ou seja, é por quem o indivíduo costuma se atrair. (mais aqui)

3) Identidade de Gênero: refere-se ao sentido psicológico de ser homem ou mulher, ou seja, é como o indivíduo se sente internamente, como sendo um homem, uma mulher ou nem uma coisa nem outra. (mais aqui)

4) Papel Social de Gênero: refere-se à sua adesão ao conjunto de comportamentos relacionados ao que se convencionou chamar de masculino ou feminino, dentro de um grupo ou sistema social. Ou seja, é a forma como o indivíduo se mostra para as demais pessoas do ponto de vista do gênero, se com uma aparência dita masculina, dita feminina ou uma mistura de ambas. (mais aqui)

Obs: Há teóricos que preferem chamar a “Identidade de Gênero” de “identidade sexual” e, por sua vez, o “papel social de gênero” de “identidade de gênero”. E outros, ainda, usam diferentes expressões. Como dito, os termos e conceitos estão em constante evolução. Ou seja, a diversidade também se reproduz nas nomenclaturas.

As diversas orientações sexuais


Um dos estudos mais famosos sobre orientação sexual foi apresentado pelo americano Alfred Kinsey, que definiu inclusive uma escala de comportamentos sexuais conhecida como Escala Kinsey. A partir dessa pesquisa, complementada pelo trabalho de diversos outros estudiosos que o seguiram, podemos dizer que existem cinco orientações sexuais mais comuns. São elas:

1) Assexualidade – é a orientação caracterizada pela indiferença à prática sexual, ou seja, o indivíduo não tem atração sexual nem por pessoas do mesmo sexo e nem por pessoas do sexo oposto. Há quem afirme que a assexualidade não é uma orientação sexual mas uma disfunção sexual, porém tal teoria não tem fundamentos comprovados. O indivíduo assexual, embora não tenha vontade de praticar sexo, pode ter atração afetiva, apaixonar-se e manter relacionamentos amorosos livres de sexo - com pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto ou de ambos os sexos. (mais aqui)

2) Heterossexualidade - refere-se a atração sexual e/ou afetiva por pessoas do sexo oposto, sendo considerada a orientação sexual mais comum entre as pessoas. A heterossexualidade tem sido identificada, ao longo da história e na maioria das civilizações, como a "normal" ou "natural", por conta do potencial reprodutor da relação, repassando para as demais o título de "anormais" ou "antinaturais". Contudo, tem-se verificado uma mudança na forma como o assunto é abordado pela opinião pública, comunidade científica e poder político, reforçando-se a diferença entre "maioria" (a heterossexualidade) e "naturalidade" (inerente a qualquer orientação sexual). (mais aqui)

3) Homossexualidade - é a atração sexual e/ou afetiva por pessoas do mesmo sexo. Segundo a OMS, aproximadamente 10% das pessoas no mundo são homossexuais. No entanto, acredita-se que esse número possa ser maior, pois muitos homens e mulheres com essa orientação costumam omitir sua homossexualidade por conta do preconceito. Além do termo “homossexual”, os termos “gay” e “lésbica” são bastante utilizados para designar, respectivamente, o homem e a mulher com essa mesma orientação. No entanto, há quem afirme que “gay” não defina apenas a orientação sexual, mas também o jeito de ser visual, cultural e comportamental. O próprio significado original da palavra, sinônimo de “alegre” ou “jovial”, já demonstra essa diferença. (mais aqui)

4) Bissexualidade - consiste na atração sexual e/ou afetiva por pessoas de ambos os sexos, mesmo que, por vezes, esse desejo seja mais acentuado para um ou para outro. As pessoas que se afirmam bissexuais são, muitas vezes, as mais discriminadas. Muitos heteros e homossexuais costumam considerá-las como “indecisas” ou mesmo “covardes” por não assumir uma condição ou outra. No entanto, estudos apontam que isso é um equivoco, pois não devemos entender a sexualidade humana como uma condição entre duas alternativas únicas - a heterossexualidade e a homossexualidade -, mas como uma diversidade de alternativas entre elas. (mais aqui)

5) Pansexualidade - é uma orientação sexual mais abrangente que a bissexualidade (e por isso distinta dela) que se caracteriza pela atração sexual e/ou afetiva tanto por homens e mulheres com identidade e papel de gênero convencionais como também por aqueles com identidades e papéis diferenciados (transexuais, travestis, intersexos, entre outros). Desse modo, podemos dizer que a bissexualidade está contida na Pansexualidade, porém essa última envolve um universo de atração mais amplo. (mais aqui)

Obs: Considerando essas cinco categorias principais, vale lembrar que a “orientação sexual” nem sempre gera um “comportamento sexual” equivalente. Algumas pessoas, por medo, condicionamento ou repressão, acabam não expressando sua orientação sexual na sua prática sexual. Um exemplo são os homossexuais que fingem ser heteros, mantendo relações apenas com o sexo oposto (vulgo enrustidos). A esses, a psicologia chama de egodistônicos. De forma contrária, os egosintônicos seriam aqueles cujo comportamento está sintonizado com a sua orientação sexual – por exemplo, os homossexuais que vivem de fato relações homossexuais.

As diferentes Identidades e Papéis Sociais de Gênero


Os conceitos de “identidade de gênero” (como você se vê) e “papel social de gênero” (como você se mostra) são mais difíceis de subdividir separadamente porque há casos em que essa relação é bem aproximada.

Apresentamos aqui alguns conceitos conhecidos de identidades de gênero combinados com diferentes papéis sociais de gênero:

Masculino: É aquele homem (que pode ser hetero, homo, bi, pan ou assexual) que se veste e se comporta convencionalmente como a maioria dos homens atuais.

Efeminado: é aquele homem que, junto com o aspecto masculino, apresenta também características, mais ou menos acentuadas, do comportamento dito feminino (jeito de falar, gesticular, aparência sensível, gostos pessoais, etc). Embora muitos pensem que homens efeminados sejam homossexuais, isso nem sempre é verdade. Eles podem ter qualquer orientação sexual (hetero, homo, bi, pan ou assexual). Alguns teóricos não consideram o “ser efeminado” como um “papel social de gênero”, pois os indivíduos ditos efeminados nem sempre se consideram assim ou têm consciência de passar essa impressão. Outros já entendem que tal papel advém de uma identificação manifestada de forma inconsciente.

Feminina: é aquela mulher (que pode ser hetero, homo, bi, pan ou assexual) que se veste e/ou se comporta convencionalmente como a maioria das mulheres atuais.

Masculinizada: é aquela mulher que, junto com o aspecto feminino, apresenta também características, mais ou menos acentuadas, do comportamento dito masculino (jeito de falar, gesticular, aspecto bruto, gostos pessoais, etc). Embora muitos pensem que mulheres masculinizadas sejam lésbicas, isso nem sempre é verdade. Elas podem ter qualquer orientação sexual (hetero, homo, bi, pan ou assexual). Como no caso dos efeminados, há quem diga que o “ser masculinizada” não caracteriza um “papel social de gênero”, pois tais mulheres às vezes nem reconhecem apresentar essas características ditas masculinas.

Andrógino/ Pangênero: é o homem ou a mulher que apresenta aspecto físico e características comportamentais comuns tanto ao universo masculino (andro) quanto ao feminino (gyne). Assim sendo, torna-se difícil definir a que gênero pertence apenas por sua aparência. Emborra muitos pensem que um andrógino ou pangênero seja homossexual ou bissexual, isso nem sempre se aplica, pois o mesmo pode apresentar qualquer outra orientação sexual. Há também quem faça uma distinção entre “Androgino” e “Pangênero”, considerando o segundo mais abrangente. Às vezes o termo “andrógino” é usado para designar o “intersexual”, representando também, nesse caso, o sexo biológico do indivíduo. (mais aqui)

Transformista: é a pessoa que veste roupas usualmente próprias do sexo oposto com intuitos essencialmente artístico-comerciais, sem que tal atitude interfira necessariamente em sua identidade de gênero ou orientação sexual, que pode ser qualquer uma. A pessoa se transforma por tempo determinado, com intuito profissional. (mais aqui)

Drag Queen/ Drag king: é o artista performático (que pode ter qualquer orientação sexual) que se traveste do sexo oposto, porém de forma cômica e/ou exagerada, com o intuito geralmente profissional-artístico (para atuar em bares, boates, eventos, etc). Chama-se drag queen o homem que se veste com roupas femininas estilizadas, e drag king a mulher que se veste como homem. (mais aqui)

Travesti: É o homem ou a mulher que vive uma parte significativa do dia ou todo o dia como se fosse do sexo oposto. Além de se travestir com roupas do sexo contrário, é comum a utilização de um nome social, corte de cabelo, adoção de modos e de timbre de voz consoantes com o sexo almejado. O uso de hormônios e a realização de cirurgias estéticas, incluindo próteses de seios no caso dos homens, são muitas vezes utilizados. No entanto, os travestis não sentem vontade de realizar a operação de redesignação sexual, preferindo manter seus órgãos genitais sem alteração. Segundo a escala definida pelo sexólogo alemão Harry Benjamin, há três tipos de travestis: o pseudo travesti, o travesti fetichista e o travesti verdadeiro. (mais aqui)

Transexual: é a pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento (sexo biológico), tendo o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Chama-se “mulher transexual” o indivíduo que nasceu biologicamente homem, mas sente-se e transforma-se em mulher. E chama-se “homem transexual” quando nasce biologicamente mulher, mas sente-se e transforma-se em homem. Segundo a escala definida pelo sexólogo alemão Harry Benjamin, há três tipos de transexuais: o não cirúrgico, o de intensidade moderada e o de alta intensidade. (mais aqui)

Considerações Finais:
A equipe do homorrealidade espera não ter confundido a cabeça de seus leitores com tantos conceitos, até porque eles não são uma unanimidade como informamos. A sexualidade humana envolve aspectos muito subjetivos e torna-se improvável existirem definições perfeitas ou inquestionáveis. O mais importante é reforçar que essa diversidade existe e que nem sempre avaliamos as pessoas de forma devida. E aí? Dá pra julgar a sexualidade de alguém de maneira tão superficial?


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