sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Empresas de comunicação tem responsabilidade sobre os trabalhadores que atuam em áreas de conflito,

Empresas de comunicação tem responsabilidade sobre os trabalhadores que atuam em áreas de conflito, Ministra Maria do Rosário

Quando um jornalista vira notícia

Brasil de Fato


Geraldo Bubniak/Fotoarena
Ministra Maria do Rosário, que participou de ato em solidariedade aos jornalistas nesta terça-feira (11), frisou que as empresas de comunicação tem responsabilidade sobre os trabalhadores que atuam em áreas de conflito
Vivian Virissimo,
do Rio de Janeiro (RJ)
Em ato promovido na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), nesta terça-feira (11), a ministra da secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, condenou o uso da violência em manifestações. “Os responsáveis por aquilo [morte de Santiago] são aqueles que vão portando artefatos, algo que não deveria fazer parte de uma manifestação democrática. A violência não é o caminho”, falou.
“Quando o Santiago foi atingido, também foi atingida a liberdade do exercício de sua profissão. Como em tantos outros casos que acontecem no Brasil”, completou Maria do Rosário.
Segundo ela, um grupo de trabalho sobre “direitos humanos dos jornalistas” monitora 77 casos de violência em todo o país. O grupo vai finalizar um relatório que será encaminhado ao Ministério da Justiça na próxima semana. “Este é um caso que aconteceu diante das câmeras, ele próprio segurando uma, e é provável que isto impeça que a impunidade exista. Mas não é a mesma realidade dos casos que envolvem grupos de extermínio e de agentes do Estado contra jornalistas”, disse Maria do Rosário. Ela frisou que as empresas de comunicação tem responsabilidade sobre os trabalhadores que atuam em áreas de conflito, qualificados por ela como “pontas de lança”.
Notícia e estatística
Acostumado aos bastidores da informação, o trabalhador Santiago Andrade, 49 anos, virou notícia na última quinta-feira (6). Em uma zona de conflito entre Polícia Militar (PM) e manifestantes, Santiago (sem equipamento de segurança) registrava as imagens de mais um ato contra o aumento das passagens. Atingido por um rojão aceso por manifestantes, agora ele engrossa as estatísticas de jornalistas que morrem em coberturas e, também, de mortos em manifestações. O velório aconteceu nesta quinta-feira (13), no Cemitério do Carmo, no Caju.
No corre-corre do protesto, o idoso Tasman Amaral Accioly, de 72 anos, foi atropelado por um ônibus e também morreu. Segundo dados do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDH), já são 10 mortes desde o início das jornadas de junho. Dessa vez, diferente dos outros casos, a polícia agiu rapidamente e já prendeu os dois suspeitos, Fábio Raposo e Caio Silva de Souza.
Números da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) apontam que 118 jornalistas foram vítimas de agressão e violações durante a cobertura de manifestações desde junho. Do total, 75 foram casos de violência intencional, sendo 60 cometidos pela polícia e 15 por manifestantes. Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, este foi o quinto óbito de jornalistas no Brasil, no exercício de sua profissão. Fato que torna o país o mais letal da América.
Responsabilidade
O Sindicato dos Jornalistas do Rio pediu ao Ministério Público do Trabalho (MPT) providências imediatas sobre a falta de segurança para jornalistas na TV Bandeirantes. Segundo a entidade sindical, a emissora deve ser investigada por submeter os funcionários a riscos, seja pela falta de equipamentos de proteção, de equipes de apoio ou de treinamento adequado. Nos próximos dias, as demais empresas de comunicação que atuam no Rio, nacionais e estrangeiras, serão notificadas para exigir o cumprimento de normas básicas de segurança.
Na avaliação do professor de Direito Constitucional, Adriano Pilatti, a atuação da Polícia Militar não tem garantido a integridade física de profissionais da comunicação, manifestantes e transeuntes. “A PM tem colocado as pessoas em risco de forma desnecessária. Isso fica claro com tudo que precedeu o trágico incidente da última quinta. A preocupação com a garantia da integridade física de todas as pessoas parece não existir como prioridade nos locais de manifestação”, argumentou Pilatti.
Segundo ele, é preciso que as polícias revejam a postura diante das manifestações. “Caso contrário, elas assumem o triste papel de instaurar um clima de insegurança e intranquilidade, que acaba, como numa reação em cadeia, produzindo outros atos lamentáveis e condenáveis”, falou.

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