sábado, 6 de setembro de 2014

Inverno e Aranha: as mulheres brancas e os homens pretos.

Inverno e Aranha: as mulheres brancas e os homens pretos.

Pega no Power

racismoinstitucional

Essa semana está o maior bafafá pelo caso do jogador Aranha, xingado de macaco por uma torcedora do Grêmio.

E pelas lindas declarações de Sara Inverno sobre sua noite de sexo com um homem negro e sua ”foda nazista”
Em casos de injúria racial como no caso do Aranha, e até da Sara, o fato de a agente racista ser mulher cria uma onda de mulheres feministas defendendo a sororidade com a dita agressora por ser mulher. E uma onda de machistas defendendo o agredido com argumentos sexistas, ameaças de estupro e coisas do gênero.
Como mulher, militante do Feminismo negro e contra o racismo, já aviso: Não,não vai rolar sororidade com gente racista. Seu gênero não te faz inimputável de crime e não te protege de ter que responder, de ser exposta, e de ser cobrada socialmente por cometê-lo. Ponto pacífico. Vamos respeitar o conceito de sororidade como um apelo de amore solidariedade entre as mulheres e não um apelo à impunidade ou desculpa pra comportamento desumano baseado em gênero.
A Sara vive de Ibope, e ela tem muito mais aliados poderosos do que eu e vocês podemos contar. Ela não é e nem será nunca uma vítima da sociedade como ela clama ser agora depois das críticas. Acho bom ela se acostumar com o fato de que não acreditamos mais nisso.
O problema, é que, em termos de gênero, o que houve com a moça do Grêmio é bem mais grave. ela foi exposta em rede nacional, e porque ela está em oposição a um homem em posição de poder, vai sofrer por isso de um modo que um homem não sofreria fazendo o mesmo.
Toda mulher está sujeita a isso. Inclusive as negras. E isso não tem nada a ver com penas por racismo, ou reação violenta popular a racismo. Por que…
Por que tem várias camadas de poder aí.  Aranha além de negro, que é o que motivou o xingamento, é rico, ídolo de um grande time, e expoente midiático. Estas são as variáveis que estão determinando a reação de ódio das pessoas à menina, não a questão racial.
Cadê gente apedrejando as casas dos policiais que arrastaram a Cláudia?
Cadê gente ameaçando estuprar o pm que deu um tiro no peito de Douglas?
Cadê gente mandando mensagem de ódio por neonazi de BH que enforcou um morador de rua com uma corrente em plena luz do dia na Savassi?
Não tem!! E não vai ter.
Os agressores são homens, como boa parte da torcida que estava gritando e não saiu na câmera no mesmo momento que a menina. Porque a agressão partiu de pessoas com mais status de poder. Porque ninguém vai me convencer que num meio majoritariamente masculino, e racista como é o futebol do sul, aquela moça foi a primeira e única a gritar uma injúria racial contra um jogador negro. Outro motivo, para não haver a mesma reação: os agredidos eram pobres e desconhecidos. Por vezes párias sociais, favelada, mendigo, garoto pobre da periferia. E cada um dos agressores exercia uma relação de poder social sobre eles naquele momento, sendo policiais, ou sendo o cara rico branco neonazi passeando seu privilégio no bairro.Não basta, a nós como negros,  gritar por mais reações populares marcantes às violências raciais cometidas, se elas forem direcionadas apenas à menina alienada do estádio. A violência da reação tem que ser voltada aos atos que realmente fazem da rotina negra um fardo diário.
Aranha vai continuar ali ganhando sua grana preta [com e sem trocadilho] todo  mês, e ser chamado de macaco dentro do campo não tem impacto algum no como ele joga seu futebol, apesar de servir como um exemplo der racismo inegável. Gravado. Mas o que dizer do racismo que tira a roupa do trabalhador dentro do shopping ou na porta do banco? Ou que mantém a moça de cabelo 4c fora da vaga de chefia? Ou que humilha e mata o adolescente negro na periferia? Ou que nos mantém fora das universidades e dos cargos de poder?Tá errada a proporção, o alvo e o grau de violência da reação. Quem nos agride institucional e socialmente pensa exatamente da mesma maneira que a moça, excetuando o fato de que a moça em questão não tem nem de longe o poder social, a força violenta institucional, e o aval pra matar que eles tem.
Eu sou pró Black Panther Party. Sou pró mãe preta sair na rua quebrando tudo. Porque essa merda de violencia racista já deu. Mas o menor dos nossos problemas é o que uma mocinha sem noção fala pra um negro milionário dentro da 4 linhas.
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