sábado, 18 de outubro de 2014

Cada pequena situação que me dizia entrelinhas: Ponha-se no seu lugar! E de tanto ouvir eu me coloquei.

"Cada pequena situação que me dizia entrelinhas: Ponha-se no seu lugar! E de tanto ouvir eu me coloquei."

Eu não sei você mas eu me emocionei até chorar ao ler a história da Fernanda.

por Fernanda Cardoso

Meu nome é Fernanda Assis Cardoso.
Eu nasci no Conjunto Cristina em Santa Luzia e fui criada dentro de uma família humilde. Tenho um irmão mais velho que eu, três anos.
Meu pai não tinha nem o ensino fundamental completo. Era Baiano de Serrinha, sertão da Bahia, teve poliomelite quando criança e os parentes contam que por conta disto não conseguiu atingir o nível de estudo das irmãs, o ensino médio completo. Metalúrgico na carteira, fazia era o serviço de office-boy. Trabalhou durante muitos anos na ACESITA em Santa Luzia e foi demitido na crise metalúrgica do meio da década de 90, aos 51 anos, num evento de demissão em massa.
Ganhava pouquíssimo dinheiro. Vez ou outra contávamos com ajuda financeira da minha tia. Ela buscava meu pai em casa, levava para fazer sacolão e pagava as contas, caladinha... pro meu pai não ficar humilhado. Eu era criança, mas já acompanhava tudo com o olhar atento.
Depois que meu pai foi demitido, ficou bastante deprimido. Sem estudo e com idade avançada, não conseguiu se re-inserir no mercado de trabalho. Começou a jogar... jogou o que tínhamos e o que não tínhamos. Ele tinha um sonho. Queria dar um carro pro meu irmão, mas o máximo que conseguiu ganhar no jogo foi uma bicicleta... Que passou do irmão mais velho, para a irmã mais nova, e eu tenho ela até hoje. Meu pai ficaria orgulhoso se soubesse que reaprendi a andar de bicicleta depois de adulta.
Morreu em 1998 vitima de um câncer rápido e letal. Nunca viu seu sonho realizado. Quando adquirimos o primeiro automóvel da família, ele já havia falecido.
Eu tinha só 17 anos.
Minha mãe era auxiliar de enfermagem. Trabalhou para o Estado de Minas Gerais durante 38 anos ininterruptos. Hoje é aposentada, e com dinheiro que ganha, (desde a valorização do salário mínimo) tem uma vida mais confortável do que teve durante quase trinta anos. Minha mãe se formou aos 60 anos, em 2006, num curso sequencial de cuidadora de idosos...
Minha velhinha nunca exerceu a profissão, mas realizou um sonho. Antes de se formar, tinha o curso técnico e o ensino médio completo, assim como os outros dois irmãos. Eles eram do interior de Minas, do Norte, e seus pais vieram para a capital tentar a sorte de uma vida melhor.
Tanto meus pais, como meus tios e seus cônjuges não tinham o ensino superior. Por falta de condições, não frequentaram a Universidade. Em comum, tinham a vida difícil, muitas horas de trabalho por dia, moradias adquiridas por financiamentos de décadas, ou casas construídas lentamente durante toda a vida, e o sonho de dar uma vida melhor aos filhos.
A gente não tinha casa. Meu pai, minha mãe, meu irmão e eu.
Moramos de favor durante 18 anos, contando com a solidariedade daquela tia, que ajudava meu pai no sacolão. (Não preciso dizer que ela é minha tia predileta né? Por quem tenho profundo respeito e admiração.)
Mas a gente foi crescendo, e depois que meu pai faleceu o Brasil deu um salto muito grande.
Foi preciso uma geração para que nossa realidade mudasse.
Pra quem não nasce numa família com recursos, o caminho a trilhar é muito mais sinuoso e cheio de pedras. Hoje somos dez "herdeiros" ao todo. meu irmão e eu temos 8 primos de primeiro grau e outros tantos de segundo grau. Completamos o ensino superior. Todos tivemos acesso a educação, e condições de estudar. Adquirimos bens, todos temos carteira de motorista, filhos matriculados em boas escolas...
Na época dos meus tios, só dois deles tinham carro. Era um fuscão e um opala.
Hoje podemos escolher não comprar um carro, se for o caso. Mas todos
temos acesso a este tipo de bem material.
Mas eu conto esta história toda é por causa das eleições deste ano. Para mim, a verdade dessa discussão toda sobre os candidatos é uma só.
Entre Dilma e Aécio existem apenas dois lados. E eles são muito claros. Os eleitores, de um ou outro candidato, são demasiadamente distintos. A diferença, é que os eleitores pobres e sem informação são mais fáceis de serem manipulados. E os eleitores com mais oportunidade e informação tem mais recurso para escolher diante da indagação: "Quem vai comer o pirão?" Eu mesma, com informação e recursos, preciso ter muito cuidado, para não entrar na competição maluca pelo prato de pirão mais cheio.
Posso imaginar, quem sempre teve filé mignon no almoço, e sopa de legumes no jantar...
Mas tem algo mais forte dentro de mim, alguma coisa que não me deixa esquecer quem eu sou. E eu acho que é o fato de que... de onde eu venho... o pirão é servido primeiro às crianças, consideradas as mais frágeis da comunidade. Mas o restante é dividido igualmente entre todos.
Ouvi muitas vezes a frase: "ponha-se no seu lugar". Literalmente.
Mas também metaforicamente... A coleguinha que ganhava roupas novas enquanto eu herdava dos primos, a menina admirada por seus cabelos lisos e sedosos enquanto eu achava o máximo quando aparecia um Neutrox em casa, o rapaz da igreja que já tinha e-mail e computador enquanto eu nem sabia o que era isso, a moça da escola que comprava os livros porque não dava tempo de ler os da biblioteca... enquanto eu virava noites, chorando em cima dos livros ou dos xerox que pegava emprestado...
Cada pequena situação que me dizia entrelinhas: Ponha-se no seu lugar!
E de tanto ouvir eu me coloquei.
Eu sei exatamente o lado em que estou.
E é por esta estória longa, este vídeo abaixo, que eu jamais poderia votar em Aécio Neves.
É por tudo isso que meu voto é Dilma Rousseff presidente.
Meu voto é 13!



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