quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Curso que ensina a "pegar mulher à força" é contra a lei, diz promotora

Curso que ensina a "pegar mulher à força" é contra a lei, diz promotora 

Polêmico, Julien Blanc quer ministrar palestras no Brasil sobre "conquista"
Márcia Francês, do R7
Um americano que ensina a "pegar mulher" está causando polêmica no Brasil. Julien Blanc dá palestras nas quais ensina os homens a beijar mulheres à força e assediá-las de maneira agressiva. Apresentações desse "instrutor" estão programadas para janeiro do ano que vem no Rio de Janeiro e em Florianópolis. A promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Combate à Violência Doméstica da Grande São Paulo, Maria Gabriela Prado Manssur, é uma das pessoas empenhadas em barrar a entrada dele no País. 
Petição pode proibir entrada de "conquistador" americano no Brasil:


De acordo com Maria Gabriela, Blanc vai propagar uma cultura de que as mulheres "têm que ser convencidas, às vezes, à força ou de alguma forma sedutora a manter relação sexual ou íntima de afeto com quem elas não querem".
— Isso aqui no Brasil é considerado crime. Primeiro porque é incitação ao crime e, segundo, se faz efetivamente esses atos, é considerado abuso de vulnerável, violência física, violência psicológica, violência sexual, e a gente não pode admitir, porque o País é o sétimo no mundo com maior índice de violência contra a mulher. 
Em 2013, uma pessoa foi vítima de estupro no País a cada dez minutos, segundo dados divulgados na terça-feira (11) no 8º Anuário de Segurança Pública. Ao todo, foram 50.320 casos registrados oficialmente, o que significa uma marca de 2,9 estupros por 100 mil habitantes, segundo a publicação do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

A promotora, que também é diretora do departamento da mulher da associação paulista do MP (Ministério Público), apoia apetição pública que pretende impedir que Blanc venha ao Brasil em 2015. Em seus discursos, o americano exalta “a cultura do estupro, crimes de agressão emocional e física contra mulheres, o racismo e o profundo desrespeito pelas mulheres”, diz o texto da petição, lançada no site Avaaz.org. Mais de 150 mil pessoas já assinaram o documento. 
— Isso [o curso de Julien] vai totalmente contra ao que a gente está idealizando, está conquistando, que é participação dos homens, de forma positiva, na luta a favor dos direitos da mulher e contra a violação da sua liberdade de escolha. Esse é o principal ponto. Um homem desses vai desincentivar esse nosso projeto que está caminhando muito bem. Na verdade, a vinda dele para o País tem o único propósito de ensinar homens de uma forma que nós entendemos abusiva e contrária a lei.
Segundo Maria Gabriela, a forma de impedir a entrada de Blanc no Brasil é negar o visto de permanência no País, já que ele deve solicitar um visto de trabalho "porque irá cobrar por palestras". 
— No visto do trabalho, você tem que falar qual é o tipo de trabalho que você vai realizar. E o tipo de trabalho que ele vai realizar não é permitido no Brasil. [...] É contrário a nossa legislação penal, a nossa Constituição Federal. 
Tolerância zero
A promotora enfatizou que o Brasil já convive com constantes abusos contra a mulher. Ela exemplificou com um caso recente que recebeu, na semana passada, envolvendo uma garota de 14 anos em uma escola estadual de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Três colegas, com idades entre 15 e 16 anos, forçaram a adolescente a chegar perto do pênis de um deles.
O rapaz estava vestido, no entanto, quando ela se aproximou, outro jovem tirou uma fotografia que foi postada em redes sociais. Na mensagem, eles afirmam que a garota fez sexo oral nele. Segundo Maria Gabriela, a desmoralização pública causou depressão na vítima e a obrigou a mudar de colégio. 
— Esse tipo de conduta já existe aqui. Um homem desses, que venha para cá dando cursos e fazendo sucesso, vai incentivar negativamente os jovens da nossa sociedade. Nós estamos fazendo um trabalho contrário de conscientização de que os atos deles prejudicam as mulheres. 
Quanto aos garotos envolvidos no episódio de assédio, segundo a promotora, eles não foram penalizados e continuam a frequentar a escola normalmente. 

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