quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Hitler, Mussolini e a campanha eleitoral


Campanha eleitoral tem seus excessos, é guerra, ao menos no Brasil.

Criam factóides diariamente, orgãos da velha mídia noticiam à exaustão esses factóides, os jornalistas títeres de seus patrões fazem análises rizíveis. É um verdadeiro circo.

Que Bornhausen, Jereissati, Cesar Maia e filho façam declarações estapafúrdias e mentirosas é compreensível, afinal são os velhos coronéis, jagunços e kaisers da política brasileira.

Não levamos em conta suas bobagens, pois sabemos que trata-se do esperneio dos enforcados.

Mas que o sociólogo e intelectual Fernando Henrique Cardoso declare, em entrevista a jornais ,que o presidente Lula compara-se a Mussollini é de um absurdo inimaginável. Ele conhece muito bem, como político e como teórico, a trajetória política de Lula. Conhece também, todas as teorias e análises acadêmicas que definem os conceitos de Nazismo e Facismo. Ao fazer esse tipo de declaração, joga no esgoto sua biografia como intelectual e como político.

Ainda me custa acreditar que FHC tenha feito essas declarações. Se não deturparam suas palavras ao publicar a reportagem, só posso pensar que a idade avançada tenha tolhido sua inteligência ou a inveja desmedida que sente por Lula o tenha deixado burro.














Reproduzido da Carta Capital

Com o candidato José Serra estacionado nas pesquisas mesmo após três semanas de fabricação ininterrupta de factóides pela imprensa, a oposição começou nos últimos dias a desenhar uma nova e desesperada estratégia: comparar o presidente Lula, eleito, reeleito e prestes a fazer sua sucessora democraticamente, a ditadores nazistas.
Primeiro foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que retornou do ostracismo em que foi jogado pelos próprios correligionários para comparar Lula a Benito Mussolini. “Outro dia eu vi um filme sobre o Mussolini, ‘Vincere’. Fiquei horrorizado porque o Mussolini tinha quase unanimidade. Todo mundo estava do lado dele”, contou FHC. “Faltou quem freasse o Mussolini. Claro que Lula não tem nada a ver com ele no sentido específico, mas o estilo, dizer ‘eu sou tudo, quero o poder total’, não pode. Alguém tem que parar”, conclamou o tucano mor, para quem Lula é o “chefe de uma facção” por fazer campanha para sua candidata, Dilma Rousseff.
Fernando Henrique repercutia uma frase do presidennte Lula do dia anterior, segunda-feira 13, em comício em Santa Catarina. Lula disse aos eleitores ali presentes que era preciso “extirpar o DEM da política brasileira”. Como já virou prática, a fala do presidente em relação ao ex-PFL e ex-Arena se transformou, sob a ótica dos colunistas da grande imprensa, em uma tentativa de “extirpar” a oposição no país como um todo.
O presidente de honra do DEM, Jorge Bornhausen, aquele que um dia exortou os brasileiros a “acabar com a raça” do PT, colocou o filho Paulinho para repetir a cantilena ensaiada do “nazifascismo” de Lula. “O presidente tem de estar são e lavar a boca para falar dos Bornhausen em Santa Catarina”, declarou Paulinho bem no estilo familiar, acusando Lula de “mostrar a verdadeira face de protótipo de ditador”. Na quarta-feira 15, foi a vez de outro príncipe herdeiro do DEM, Rodrigo Maia, filho de César, fazer coro, dizendo que o desejo de Lula de extirpar seu partido da política “lembra a perseguição dos nazistas aos judeus”. No mesmo dia, em Juazeiro do Norte, no Ceará, o tucano Tasso Jereissati comparou Lula a Hitler, Mussolini e ao ditador paraguaio Alfredo Stroessner.
Não deixa de causar espanto, neste momento, a iniciativa da Folha de S.Paulo de ressuscitar um velho anúncio de televisão, de 1987, em que cantava loas a si própria como o “jornal que mais se compra e nunca se vende”. Com sua credibilidade abalada por sucessivas reportagens contra Dilma sem similares contra o candidato tucano, a Folha fez reportagem anunciando a ressurreição do comercial “premiado”, que voltou ao ar justamente nos intervalos do último debate entre os presidenciáveis, na rede TV!, no domingo. O texto da peça: “Este homem pegou uma nação destruída, recuperou a economia e devolveu o orgulho a seu povo. O número de desempregados caiu, o produto interno cresceu, a renda per capita dobrou, o lucro das empresas aumentou…” No final, “este homem” aparece: é Hitler.
Alusão a Lula? Coincidência? Haverá quem fale em teoria de conspiração. E haverá quem fale também em orquestração. No ponto a que chegou a campanha eleitoral, não seria forçado dizer que infelizmente nada mais é fortuito.


Cynara Menezes
Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital.

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