sexta-feira, 14 de maio de 2010

A chave do discurso eleitoral de Dilma



A chave do discurso de Dilma
“O debate a ser posto na mesa pela petista trata de estabelecer o seguinte: em qual momento o Brasil tomou seu atual rumo de desenvolvimento econômico com estabilidade, crescimento da classe média e do consumo interno, com um papel de maior inserção no cenário internacional?” As últimas inserções comerciais do PT – as que foram proibidas pela Justiça Eleitoral e as duas outras colocadas no ar substituindo-as – contêm a chave do que será o discurso eleitoral de Dilma Rousseff na disputa pela sucessão do presidente Lula em outubro. ..o programa do partido na quinta-feira, 13 de maio (houve também uma ação dos partidos de oposição tentando suprimi-lo), um pouco mais poderá ser visto pelo eleitor.
Não se trata simplesmente de buscar estabelecer uma comparação entre o governo Lula e o governo Fernando Henrique. Não se trata simplesmente de um mero campeonato de números entre Dilma, representando a continuidade, e Serra, representante da era FHC. É um pouco mais complexo. Mas, se for bem explorado pelos responsáveis pela campanha de Dilma, pode vir a ser mesmo a diferença a marcar a opção de voto nela.
O debate a ser posto na mesa por Dilma trata de estabelecer o seguinte: em qual momento o Brasil tomou seu atual rumo de desenvolvimento econômico com estabilidade, crescimento da classe média e do consumo interno, com um papel de maior inserção no cenário internacional?
São dados da realidade que o país atingiu um patamar de estabilidade econômica talvez nunca visto.
Que uma imensa parcela da população menos favorecida foi inserida na classe média.
Que essa nova classe média fez aquecer a economia, aumentar o consumo interno e melhorar o desempenho das indústrias.
Que esse aumento da economia interna não se deu em detrimento das exportações. E que o Brasil hoje não desempenha apenas um papel de mero coadjuvante tímido no cenário internacional.
É claro que o Brasil não resolveu todos os seus problemas. Ainda possui um dos quadros mais graves de desigualdade social do mundo. Ainda possui um sistema educacional lamentável e uma taxa alta de analfabetismo muito alta.
Mas é inegável o quanto o país avançou. Um bocado da tese do pós-Lula, lançada por Aécio Neves e encampada por José Serra vem disso, da necessidade de construção de um discurso alternativo que não pode simplesmente negar o atual estágio do país.
A discussão proposta por Dilma e pelos responsáveis pela sua campanha quer estabelecer qual foi o conjunto de situações, escolhas e decisões que levaram à construção dessa realidade. Serra dirá que é tudo consequência do Plano Real e da condução da economia durante o governo Fernando Henrique. Que o único mérito de Lula foi ter tido a sabedoria de não alterar esse rumo como prometeu na campanha de 2002 com a Carta aos Brasileiros. E que mais não foi feito pela ineficiência da máquina petista. E que, assim, portanto, ele deve ser eleito porque conseguirá tornar mais eficaz o modelo acelerando o desenvolvimento.
O que Dilma prepara-se para dizer com relação a isso é que o estágio atual do país é fruto das escolhas e decisões que foram tomadas pelo governo Lula. E que provavelmente não teriam sido tomadas por um governo de conformação mais conservadora.
Ao resumir o governo Lula, os formuladores da campanha de Dilma o dividem em duas etapas: na primeira, que durou um pouco mais da primeira metade do primeiro mandato, foram criadas as condições para a aceleração da economia, característica da segunda etapa.Segundo Dilma dirá, quando Lula assumiu o governo, a situação econômica do país era de estagnação e desigualdade.
Ao longo dos seus oito anos de governo, Lula conseguiu, então, imprimir ações que derrubaram alguns tabus.
O primeiro: aumento de salário gera inflação.
O segundo: não dá para crescer distribuindo renda (a velha idéia de que primeiro é preciso crescer para distribuir depois). Na verdade, a campanha de Dilma prepara-se para tentar mostrar que foi justamente por melhorar salários e distribuir renda – aumentando o mercado consumidor interno – que Lula fez o país o crescer. Hoje, 60% do país estão acima da classe D, ou seja, pelo menos na classe média.
Na tal primeira etapa, era necessário um vôo mais conservador para fazer com que o país recuperasse as condições para a etapa seguinte. O Brasil saneou suas dívidas e recuperou suas reservas. Dilma não dirá – porque, é claro, agora não lhe convém – que divergiu muito do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na intensidade e na extensão da sua ortodoxia naquele momento. Ou seja: se dependesse de Dilma, a primeira etapa talvez tivesse sido mais curta. Mas, se o doutor Palocci, na época, overdosou ou não o paciente, isso hoje importa menos, acredita-se no comando da campanha de Dilma. O importante é que foram criadas as condições para a segunda etapa.Para o surgimento da nova classe média – que, não sem razão, se tornou o principal esteio eleitoral de Lula –, conjugou-se uma forte política social com uma forte política de crédito. Enquanto a política social garantia às famílias mais pobres o básico, o crédito, associado à estabilidade, assegurou o acesso a bens duráveis e a outros produtos que antes estavam a milhares de quilômetros de distância da possibilidade de consumo dessas pessoas. Em 2003, o crédito disponível no sistema brasileiro girava em torno de R$ 380 bilhões. Em março deste ano, o valor disponível era de R$ 1,4 trilhão. É crédito consignado, crédito para bens duráveis, crédito agrícola, etc. Consumindo, essa população aqueceu a economia e fez o país crescer. E melhorou substancialmente a sua própria qualidade de vida.Na eleição em 2006, essa realidade já se verificava. E foi principalmente essa nova classe média, essa nova população mais diretamente beneficiada com a condução do governo Lula, que pendeu a balança para fazer com que ele se reelegesse na disputa com Geraldo Alckmin. Agora, Lula não será o candidato. E eis aí o desafio de Dilma: sua tarefa é mostrar ao eleitor que a continuidade dessa situação naturalmente é ela.
O que ela dirá, então, é que Lula a escolheu como sucessora exatamente porque foi ela a operadora dessa segunda etapa do governo, em que, postas as condições básicas, operou-se a tal mudança.
Da Casa Civil, era Dilma quem criava – é o que ela pretende demonstrar – as condições para que acontecesse a tal etapa de crescimento econômico com estabilidade e igualdade social. Se era ela, então, quem materializava esse discurso no governo Lula, é ela a melhor escolha de quem quer manter as coisas no mesmo rumo.Em síntese, esse é o discurso construído. Algumas atitudes da oposição mostram a existência talvez de um certo desconforto em aceitar o debate nesses termos propostos por Dilma e pelo PT. É um sinal de que o discurso pode colar. Se, em outubro, o eleitor sentir-se bem com a sua situação, se entender que ela é fruto das decisões tomadas por Lula, e que a continuação dessas decisões faz mais sentido que venha de alguém ligado a ele, então Dilma terá vencido a parada.(*Rudolfo Lago, no Congresso em Foco).

*É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão.( Rudolfo Lago, no Congresso em Foco).
Maria da Penha Neles reforça:
Foi no governo Lula que o Brasil tomou seu atual rumo de desenvolvimento econômico com estabilidade, crescimento da classe média e do consumo interno, com um papel de maior inserção no cenário internacional.
Da Casa Civil, era Dilma quem criava as condições para que acontecesse a etapa de crescimento econômico com estabilidade e igualdade social.
Se era ela, então, quem materializava esse discurso no governo Lula, é ela a melhor escolha de quem quer manter as coisas no mesmo rumo.

2 comentários:

Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra disse...

Propaganda do PT faz tucanos tremerem nas pernas

Dessa vez eu vou discordar do meu amigo Eduardo Guimarães, que criticou o PT por ter veiculado uma propaganda acusada de ferir a legislação eleitoral. Por incrível que pareça, a oposição diz que não vai, ao menos por enquanto, contestar judicialmente. É claro que temos que esperar eles lerem os jornais, conversarem com alguns colunistas, para que decidam se devem fazê-lo ou não. Afinal eles não tem vontade própria. Com um ou dois editoriais, os jornalões conduzem os tucanos, pela coleira, para onde lhes aprouver.





Os líderes da coordenação serrista declararam que irão fazer igual ao PT. Com certeza iriam fazer o mesmo de qualquer jeito. Por isso o PT agiu certo em ser ousado.

Eu assisti a propaganda do PT e não vi nada demais. O Brasil todo já está mobilizado em torno das eleições. Os noticiários estão repletos de referências às palavras e ações dos candidatos. O povo precisa ser informado politicamente, até para que ele vivencie, juntamente com a classe média que lê blogs, esse momento dramático da democracia brasileira. As camadas mais altas da sociedade podem se informar através das novas tecnologias, pode saber quem é Dilma e quem é Serra, pode entrar em sites tucanos e petistas e comparar dados. O pobre não. E como não tem a informação, o pobre se encontra marginalizado do debate político.

*

Foi um programa extremamente bem feito, e a gritaria da oposição é um sinal de que Dilma conseguiu pisar bem no meio do pé deles.

*

Dilma foi ministra da Casa Civil por mais de 6 anos e, portanto, mesmo que não fosse candidata à presidente da república, seria a figura mais eminente no governo Lula, depois do próprio, é claro. Mas ela é candidata, ou pré-candidata, e nessa posição é natural e necessário que apareça na tv para que os brasileiros possam conhecê-la. Se nós, que vivemos pendurados na internet, podemos conhecê-la e até entrevistá-la via twitter, porque os pobres não podem usufruir uma lasquinha de seu futuro?

A propaganda do PT não menciona as eleições diretamente. Fala da importância em dar continuidade ao projeto lulista. Considerando as declarações de Serra, poder-se-ia dizer que o PT fez marketing em prol de seu adversário. Mas não se pode dizer isso, porque há um trecho que compara os feitos do governo Lula com de seu antecessor. Isso também é política.

Um filósofo alemão explicou que uma realidade só pode ser assimilada se confrontada com seu oposto. Para mostrar à população brasileira o que é o governo Lula, é necessário compará-lo ao anterior. Isso é dialética básica.

Na verdade, as reações da mídia foram, como de praxe, muito mais indignadas do que entre a oposição partidária.

O Estadão estampou o seguinte título no alto da página:


Oposição evita recurso contra Dilma para também usar TV em favor de Serra

Sucessão. Depois de classificar programa petista como um "grave desrespeito à Lei Eleitoral", PSDB e DEM baixam o tom e adotam um discurso mais ameno, defendendo que a campanha entrou em nova fase e que agora petista não faz mais parte do governo.

O colosso ético e moral, o homem-bom maior da nação brasileira, esse ex-comunista que agora passou para o time da luz (citando o insuperável Prof.Hariovaldo), Roberto Freire, presidente do PPS, até ele admitiu que, na próxima propaganda do PSDB na televisão: "Vamos apresentá-lo como nosso candidato".
(Miguel do Rosário)

Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra disse...

PARA OS TUCANOS, “O CRIME COMPENSA”
São eles que estão dizendo: “No PSDB, a avaliação é que o impacto do programa do PT nas pesquisas é inevitável. "O partido adotou o lema de que o crime compensa", disse o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), para quem a aplicação de multa é pequena em comparação com o ganho eleitoral”.
Está ahttp://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u735639.shtmlqui, no Diário Oficial de José Serra.
Enquanto isso, o site “Gente que Mente”, criado e mantido pelo PSDB para fazer terrorismo cibernético, esforça-se para limpar a barra de seu correligionário.(Cloaca News)