Projeto #eusougay faz sucesso na internet com campanha colaborativa
Por Júlio Cavani
O que era para ser apenas um desabafo pessoal se transformou em uma campanha inédita, com sucesso na internet e envolvimento de artistas famosos. Diante do aumento de 30% nos índices de violência contra homossexuais no Brasil e após a notícia da morte de uma garota que pode ter sido assassinada pelos parentes de sua namorada, a jornalista pernambucana Carol Almeida criou um blog colaborativo que praticamente já representa uma nova mobilização nacional em nome da paz. A proposta é simples: Quem quiser participar deve enviar por e-mail uma foto de si mesmo com um cartaz, folha de papel, placa ou qualquer letreiro com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY.
O e-mail para envio das imagens é:projetoeusougay@gmail.com.
Mais de 1,2 mil fotos já foram recebidas pelos organizadores.
As fotos serão editadas e montadas em um vídeo que depois circulará na internet e por festivais, debates, seminários, festas e nos mais diversos tipos de encontros. A discussão, segundo Carol, não se restringe à violência contra homossexuais, pois vai além e trata de compaixão, fim dos sentimentos de ódio e respeito ao próximo, em nome de um mundo melhor. Um dos diferencias da campanha é justamente seu caráter espontâneo, sem o envolvimento direto de organizações não-governamentais (ONGs) ou instituições.
Entre as celebridades que já participaram estão a apresentadora de TV Sarah Oliveira, que postou um vídeo no blog, e o grupo Cansei de Ser Sexy (banda brasileira de maior sucesso internacional atualmente). Uma grávida também mandou uma foto, assim como um casal (homem e mulher) aos beijos e até um cachorro poodle.
A frase é escrita com as palavras coladas e antecedida pelo sinal # para ser utilizada como hashtag (mecanismo facilitador de buscas) no twitter.
Por e-mail, Carol Almeida cedeu entrevista ao Diariodepernambuco.com.br:
Quais você acha que são os grandes diferenciais dessa campanha em relação a outras?
Acho que a diferença primordial é que toda essa ideia não surgiu exatamente como um campanha. Surgiu como um desabafo. O legal dela é que, pela primeira vez, estou vendo pessoas dando rosto à sua indignação quanto ao ódio contra tudo e contra todos que hoje é facilmente cultivado como discurso coletivo.
Alguns comentários postados no blog questionam a campanha por diferenciar os homossexuais do resto da sociedade com críticas semelhantes às surgidas contra as cotas raciais. Por que você acha importante essa ênfase diferenciadora (apesar de o projeto convidar a participação de pessoas com qualquer orientação sexual)? Absolutamente todos nós, se formos buscar uma identidade que nos defina, somos diferentes um do outro. Se digo, por exemplo, que sou brasileira, isso significa que existem várias outras pessoas não-brasileiras no mundo. O único atributo que nos faz iguais é sermos, todos, humanos. Quero buscar na saliência das nossas diferenças essa nossa exclusiva igualdade, a de sermos humanos e, como tais, fraternos. Fraternidade que, não por um acaso, está no primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Apesar desses crimes, você acha que a sociedade brasileira tem evoluído na questão do respeito às diferenças sexuais?A evolução em relação à tolerância da orientação sexual existe, mas anda a passos ainda muito curtos hoje no Brasil. Além de conseguir leis que defendam os direitos dessas pessoas, é preciso haver um trabalho de educação no País sobre o assunto, em escolas, no trabalho e, claro, nas famílias.
Qual a sua interpretação para esse aumento no número de mortes de homossexuais depois de tantos anos e décadas de campanhas pelos direitos humanos?Não sou pesquisadora do assunto, portanto não tenho interpretação sobre isso, apenas indignação.
Na Alemanha, há pelo menos dois importantes políticos que são gays assumidos: o prefeito de Berlim e o ministro das relações exteriores (segundo cargo mais importante do país, depois do de primeiro-ministro). Você acha que o Brasil, teoricamente um país mais plural, estaria preparado para algo assim?Na Alemanha, já que você citou este exemplo, o casamento gay, que é apenas um dos direitos civis que podem ser conquistados pelso gays, é permitido desde 2001. Dez anos depois, no Brasil, ainda não temos uma lei que puna a homofobia. Há uma distância entre nós, mas acredito que com o apoio de alguns deputados que estão agora empenhados em resolver essas questões, rapidamente o País pode chegar a ter uma representação política mais plural em cargos não apenas do legislativo, mas como do executivo.
Você acha que o povo brasileiro é, em geral, preconceituoso contra homossexuais? Ou a campanha surge como resposta contra grupos conservadores específicos? Acho que o povo brasileiro, possivelmente, ainda tem menos acesso a informações e educação que outras sociedades. E ignorância costuma gerar opiniões confusas. A campanha é uma resposta ao ódio na sociedade, não a algum grupo específico
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