sábado, 14 de maio de 2011

Araraquara - SP realiza primeiro casamento homossexual após aprovação pelo STF

Araraquara-SP: Cidade realiza primeiro casamento homossexual após aprovação pelo STF

Em momento histórico, casal que está junto há 9 anos quer garantir os seus direitos civis e celebrar a união abertamente.


Foto: Moisés Schini

O operador de telecomunicações Alberto Carlos Andreoni de Souza, de 46 anos, e o agente de Saúde Izaias Ambrosio da Silva, 46, formam o primeiro casal de Araraquara a oficializar sua união em cartório após a legalização do casamento homossexual pelo Superior Tribunal Federal (STF).

Hoje, às 10 horas, no 2º Cartório de Notas e Títulos, eles protagonizaram um momento histórico para a cidade ao consolidar oficialmente sua união. Amanhã, às 19 horas, a chácara do casal será palco de uma grande festa: a celebração receberá mais de 60 convidados da cidade e outros cantos do Estado e terá a benção de uma mãe de santo.

"Vamos festejar por dois dias seguidos, com muita comida, valsa, arroz, minha avó de 87 anos como dama de honra e, principalmente, muito amor. Estamos no casando no papel para que não tenhamos problemas futuros, pois, se algum de nós morrer ou for internado, teremos nossos direitos respeitados como os de qualquer casal hetero", conta.

‘Sempre soube que era gay’

Alberto conta que sempre soube que era gay, mas, para não desagradar a família, acabou se casando com uma mulher, com quem ficou por 13 anos e teve uma filha. Após anos de união, decidiu "encarar o mundo" e admitiu ser homossexual. Ele conta que muitos conhecidos e amigos afastaram-se dele, mas o operador de telecomunicações não se importou, pois estava cansado de ser aquilo que a sociedade lhe pedia. "Fiquei três anos solteiro, até que conheci o Izaias em um hotel. Ele também havia sido noivo de uma mulher e teve um filho. Ele me pediu em namoro para a minha filha e, depois de oito meses, fomos morar juntos", conta.

Alberto diz que a relação com Izaias é "para valer". "Se quisesse brincar teria ficado solteiro. O Izaias é meu cúmplice, meu companheiro. Fazemos compras juntos, vamos ao restaurante e compartilhamos tudo. Nunca fui tão feliz", derrama-se.

Para o casal, a lei ajudará na sensibilização de familiares, das pessoas em geral e dos responsáveis por adoções. "Ele a considera ótima, mas ainda há muito a avançar. Infelizmente, temos que matar um leão a cada dia", comenta. Ele conta que, durante a organização do casamento, não conseguiu comprar uma vela que tivesse dois noivos, por exemplo. "Não queremos que nos tratem de forma diferente. Queremos ser tratados igual a todos, assim como os negros, as crianças e os idosos."

Procura por informação sobre união aumentou nos cartórios de Araraquara

Os três cartórios de títulos de Araraquara confirmam que, após a aprovação da união homoafetiva no Brasil, julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), houve aumento na procura de informações de casais homossexuais sobre o tema. As questões versam sobre a legalidade do ato e até pré-agendamentos de casais interessados na união. A primeira união na cidade após a legalização ocorre hoje.

Com o documento - a Escritura Pública de União Homoafetiva - os homossexuais passam a ter reconhecido o direito de receber pensão alimentícia, ter acesso à herança de seu companheiro em caso de morte, podem ser incluídos como dependentes nos planos de saúde, poderão adotar filhos e registrá-los em seus nomes, dentre outros direitos.

As uniões homoafetivas passam a ser o terceiro tipo de família reconhecido pela Constituição Federal, após a família convencional, formada com o casamento; a família decorrente da união estável; e a família formada, por exemplo, pela mãe solteira e seus filhos.

O tabelião Denis Henrique Janone, do 3º Cartório de Notas e Títulos de Araraquara, diz já ter realizado quatro uniões homoafetivas anteriores à lei. "Na época, ainda se discutia o valor delas. Depois da decisão do STF não fizemos nenhuma, mas a procura por informações foi muito grande."

Representantes dos 1º e 2º Cartórios confirmam que alguns casais já haviam oficializado a união e a agora outros casais começam a fazer pré-agendamento de datas.

União antes da lei

A percussionista Patrícia Marcantônio, de 35 anos, e a dona-de-casa Tatiana Helena Martins, 27, formaram o primeiro casal homossexual de Araraquara a oficializar o relacionamento por meio de contrato de união estável firmado em cartório, medida mais próxima de um casamento. A celebração delas ocorreu há cerca de três anos.
Fonte: Tribuna Impressa

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