"Eu sou gay, e está bem assim". Com essa frase, proferida há exatos 10 anos em um discurso durante a convenção regional que o lançava como candidato a prefeito de Berlim, o social-democrata Klaus Wowereit não só lançava a sua fulminante campanha pela prefeitura, como praticamente abria as portas para a aceitação de homossexuais assumidos em altos cargos políticos.
Hoje, ele é um dos prefeitos com maior popularidade que a capital alemã já viu e está não só às vésperas de completar uma década no cargo, como a poucos meses de se reeleger para o terceiro mandato. E isso tem boas chances de acontecer, pois "Wowi" (como é carinhosamente conhecido pelos berlinenses) beira a marca de 30% nas pesquisas de opinião.
Demonstração de coragem
Em sua autobiografia ...Und das ist gut so ("...E está bem assim", em tradução livre) Wowereit descreve seus sentimentos logo após ter dito a frase mais importante de sua carreira: "Fiquei aliviado, mas não tinha ideia do que iria acontecer”, relata, acrescentando que a afirmação provocou um "furacão" na opinião pública. "O melhor foi que todos transbordaram em afagos. Eu tinha demonstrado coragem e atraído simpatia", lembra.
O prefeito na Copa de 2006. Com cerca de 30% nas pesquisas, político caminha para terceiro mandatoA revelação do então candidato veio como desabafo e, ao mesmo tempo, foi tática eleitoral. Antes das eleições, circulavam boatos sobre as preferências sexuais do político, e ele temia ser vítima de uma campanha da imprensa sensacionalista. Com a confissão pública, Wowereit desarmou uma possível chantagem dos conservadores durante a campanha eleitoral que estava por começar e, ao mesmo tempo, deu adeus à obscuridade para se tornar uma das mais famosas personalidades alemãs.
"A sinceridade dele foi recompensada, pois muitos heterossexuais a consideraram um progresso e uma expressão da nova irreverência alemã", afirma Martin Munz, presidente da Associação de Jornalistas Gays e Lésbicas (BLSJ, na sigla em alemão). "Foi um sinal para muitos homossexuais de que o tempo de ficar se escondendo poderia finalmente acabar, pelo menos nas grandes cidades", explica. Ainda esperamos que alguma política famosa diga um dia 'sou lésbica, e é bom que seja assim'.
Exemplo a ser seguido
Ministro do Exterior alemão, Guido WesterwelleDez anos depois, a declaração ainda é um exemplo a ser seguido, e não só por políticas lésbicas. Poucos anos depois da frase de Wowereit, em 2003, o então prefeito da cidade de Bremen, Ole von Beust, somente conseguiu "sair do armário" em circunstâncias pouco nobres.
Seu coming out só aconteceu após seu próprio secretário do Interior, o ultraconservador Roland Schill, ter tentado chantageá-lo. Schill ameaçou tornar pública a homossexualidade de Von Beust. Como resposta, o político trilhou o mesmo caminho de Wowereit, divulgando publicamente sua orientação sexual, o que lhe permitiu sobreviver no cargo.
Como ressalta um artigo do jornal berlinense taz, a frase de Wowereit marcou "uma reviravolta social", pois na mesma época a união estável para homossexuais foi aprovada na Alemanha, "um marco importante no caminho dos antes criminalizados gays e lésbicas rumo ao seio da sociedade", prossegue o texto.
Vale lembrar que, em 2009, o político liberal e homossexual assumido Guido Westerwelle chegava ao posto de ministro do Exterior e vice-chanceler da Alemanha. O fato não foi considerado nada extraordinário pela opinião pública alemã. Graças à reviravolta social iniciada por Klaus Wowereit.
Autor: Marcio Damasceno
Revisão: Roselaine Wandscheer
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