sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A deputada e a baixaria





A deputada e a baixaria

Jorge Portugal - TerraMagazine



Vem da deputada Luiza Maia, do PT-BA uma proposta que vai acender polêmica sem fim: sugere ao governo da Bahia que não contrate grupos de pagode cujas músicas desrespeitem a figura feminina, que atentem contra a dignidade da mulher. Para os que não conhecem bem a história, aqui na Bahia há um sub-produto da Axé Music - grupos de pagode - que invariavelmente trazem nos refrões de suas músicas(?) "carinhosos elogios" à figura feminina como " cachorra", "periguete", "problemática"....
Alguns "arautos da livre expressão" já colocam a boca no trombone de vara alegando a instituição da censura, que as bandas de pagode têm todo o direito de cantarem o que quiserem, que vivemos numa democracia, etc.
Feministas apoiam o projeto argumentando que tais músicas ferem direitos humanos, entre os quais o respeito ao semelhante, e essa desconstrução da imagem da mulher - prática contínua dessas bandas baianas - é violência verbal que pode muito bem levar à violência física.
Convido vocês a uma análise de fundo: qual é o perfil daqueles que formam um grupo de pagode? Jovens negro-mestiços, entre 18 e 30 anos, nascidos e criados em alguma periferia de Salvador, onde o braço do estado pouco ou quase nunca chegou, sem acesso, portanto, a qualquer repertório cultural de melhor nível, e que "monta" sua composição geralmente a partir de um refrão que condensa todo tipo de preconceito em relação ao "outro" que ele considera mais frágil e menos poderoso: a mulher, o travesti, o gay.
Do outro lado, um grande público em tudo semelhante aos "artistas", imerso na mesmíssima indigência intelectual, quer apenas balançar o esqueleto com um ritmo eletrizante que inspira coreografias sexuais excitantes. No meio dos "artistas" e do público, o empresário esperto e um programador de rádio mais esperto ainda, que vai executar 15 vezes por dia esse "trabalho", transformando-o em retumbante sucesso e faturando imensa fatia do Carnaval-São João-Carnaval em que se tornou o calendário baiano. Em suma, a falta de informação, educação, ética humana e inteligência musical tornaram-se a principal mercadoria da "cultura baiana" atual. Grosseria que gera muito dinheiro!
Acho que o projeto da deputada Luiza Maia vai encontrar resistência até dos seus pares na Assembleia Legislativa. Brandindo o argumento da "livre expressão", jamais confessarão o medo que têm de perder os votos da pagoderia. Por outro lado, grande contingente de mulheres que se sentem agredidas por essas bandas, não demonstraram, ainda, a mínima vontade de ocupar as redes sociais e as ruas, em protesto, contra essas aberrações musicais.
Uma proposta à proposta: por que não sugerir ao governo do Estado, prefeituras municipais e estatais que não contratem tais bandas simplesmente... porque elas não precisam do dinheiro público? Já estão muito bem colocadas no mercado, faturando horrores com sua grande massa de consumidores. Que se virem com o patrocínio privado. E aí, mulheres, hora da ação: denunciar e boicotar produtos de empresas que se associam a essa baixaria musical.

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