Para onde vamos?
Chega ser irônico que justo quando o Brasil inicia um ciclo de crescimento sustentável, capaz de reduzir significativamente suas desigualdades históricas, que muitos jamais imaginavam testemunhar, o mundo entre numa crise assustadora, de futuro sombrio, que ameaça toda a humanidade.
É bem verdade que o Brasil está mais preparado para enfrentar as crises internacionais, como o fez em 2008, mas ninguém passa incólume uma depressão mundial, pois as economias estão todas interligadas e já não existem ilhas de prosperidade. A ameaça de tempos negros pela frente, aliás, seria uma oportunidade para o governo brasileiro intervir ainda mais na economia, com medidas monetárias, como a redução da exagerada taxa de juros e o controle dos fluxos de capital.
Mesmo sem lançar mão de todos os recursos de que dispõe, o Brasil vai fazendo o que lhe cabe, sem vergonha da intervenção estatal, justamente para evitar o conto neoliberal que levou o mundo ao desastre que estamos presenciando. Já foi assim em 2008, quando os bancos públicos mantiveram o crédito irrigado diante do recuo da banca privada, cujas preocupações não vão além dos balancetes e ficam distantes das necessidades do país.
Não é mais possível aceitar o receituário de aperto fiscal, pois a lógica neoliberal se revelou insustentável e está fazendo água por todos os lados. A liberdade total aos mercados e completa desregulamentação financeira não propiciou os ganhos que prometia, a não ser para as raposas que tomaram conta do galinheiro. Estas comeram a se fartar até que acabaram as galinhas. O modelo era tão voraz que não se preocupava nem com o seu próprio futuro.
O problema maior é que o comando da situação continua com os mesmos atores. A crise de 2008 não os tirou de cena. Ao contrário, foram socorridos com dinheiro público e continuam dando as cartas. A Standard & Poors rebaixou as notas das gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, protagonistas da crise do subprime. A Fannie Mae teve prejuízo de US$ 6,5 bilhões no primeiro trimestre do ano e pediu novo aporte ao Tesouro norte-americano. E assim la nave va.
Os Estados nacionais, por sua vez, se enfraqueceram e faltam lideranças fortes. Europa e Estados Unidos estão em declínio, e não serão personagens como o reacionário Sarkozy, o bufão Berlusconi, o insosso David Cameron e o decepcionante Obama que mudarão tal situação. Como descreveu a sempre lúcida economista Maria da Conceição Tavares, a crise neoliberal está sob o comando ultra neoliberal.
O saldo são serviços públicos cortados, direitos sociais extintos, desemprego e revolta. Que eclode nas ruas de Londres e da Europa dita periférica e tende a se alastrar. Conceição Tavares acha que a crise atual está próxima da depressão do final do século 19, que desembocou na 1ª Guerra Mundial e resultou na 2ª. Paulo Nogueira Batista, representante do Brasil e de mais oito países sul-americanos e caribenhos no FMI, prevê período difícil e prolongado na economia mundial e nas relações internacionais. “A primeira metade do século 21 poderá se revelar tão turbulenta e violenta quanto a primeira metade do século 20”, escreveu.
O mundo parece à beira de um conflito de grandes proporções e, desta vez, não serão necessários historiadores para explicá-lo posteriormente. A história está se passando à nossa frente com transparência cristalina e ninguém poderá dizer que foi surpreendido pelos acontecimentos.
No Direto da Redação
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