Bristol (EUA) – Primeiro preciso pedir desculpas aos leitores, pois compromissos de última hora me obrigam a escrever com pouco tempo para maiores elaborações. Mas preciso voltar a uma noite fria de novembro de 2008, na cidade de Chicago, quando um público gigantesco aplaudiu entusiasmado o discurso de Barack Obama, que acabava de se eleger presidente dos Estados Unidos. O primeiro presidente negro da história do país.
Havia gente chorando na platéia, como o líder de direitos civis Jesse Jackson e a apresentadora Oprah Winfrey, ambos negros, ambos entusiastas eleitores de Obama. Eu acompanhava em casa, pela televisão, como parte de uma audiência que se espalhava por todo o país, e fui dormir acreditando que aquelas palavras – Yes, we can e Change we can believe in – iriam dar ao país um novo perfil, uma nova esperança nos próximos quatro anos.
Mas aquele Obama sumiu. Em seu lugar surgiu um homem que parece aturdido, paralisado, acuado por uma horda de extremistas da direita, liderados pelos radialistas Rush Limbaugh e Glenn Beck, pela rede Fox (a famosa emissora das “Fixed News”) e pelos integrantes do Tea Party.
Para tornar mais direta uma frase de Mussolini sobre os escoteiros, os integrantes do Tea Party são cretinos que se vestem de cretinos. Desfilam trajados à moda do Século XVIII e invocam, espuriamente, o refrão do “no taxation without representation”. É uma apropriação indébita, pois o chamado “tea party” foi uma incursão de colonos que jogaram ao mar uma carga de chá, no porto de Boston, pois reclamavam de taxas que lhes eram impostas pelo Parlamento em Londres, onde não tinham o direito de se manifestar.
Por trás do movimento populista e demagogo encontramos o que há de mais retrógrado na políticaamericana: interesses econômicos que subvencionam pobres coitados e os levam a votar contra seus próprios interesses. Entre eles estão Rupert Murdoch, os irmãos Koch e os religiosos fundamentalistas, que deveriam há muito tempo ter perdido a isenção fiscal de seus templos (melhor dizendo, empresas), pois desrespeitam por completo o princípio constitucional de separação entre Estado e Igreja.
Barack Obama não fechou Guantánamo, hesita em sair do Iraque e do Afeganistão, acovardou-se diante da exigência republicana de prorrogar o corte de impostos para milionários e será uma presa fácil para os integrantes do chamado Super Comitê do Congresso que decidirá sobre novas medidas fiscais. Todos sabem e sentem que os republicanos exigirão cortes em programas sociais comoaposentadorias, Medicare e Medicaid, e não concordarão em diminuir em um centavo sequer as imensas despesas militares que sufocam a nação. Além de, é claro, nem ao menos admitirem discutir qualquer reforma que leve os endinheirados a contribuir um pouco mais para tirar a nação do buraco. Os sacrifícios serão apenas para os pobres e os remediados.
No Direto da Redação
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