Ney aos 70
A geração que transformou a arte no Brasil nas décadas de 1960 e 1970 no calor do enfrentamento – ou não – à Ditadura Militar está chegando aos 70 anos. Alguns já ultrapassaram a marca, outros estão bem próximos. Este ano, por exemplo, foi a vez de Jorge Mautner. No próximo, as de Caetano e Gil. A data é talhada para balanços da vida e obra dos jovens questionadores daquela época, hoje grandes referência da cultura brasileira. Nesse caso, o aniversário de Ney Matogrosso, que se comemora amanhã (1º de agosto), merece uma menção especial pela coerência e singularidade com que se inscreve nesta história.
Nascido em Bela Vista, hoje Mato Grosso do Sul, filho de pai militar, Ney de Souza Pereira desde pequeno pensou em ser artista, a começar pela paixão pela pintura. O pai nunca admitiu tais anseios, o que seria causa de uma relação conturbada entre os dois até a reconciliação anos depois. Aos 17 anos, planejando já sair de casa, ele passou em um concurso da Aeronáutica e pediu transferência para o Rio de Janeiro, deixando a família em Brasília.
Na década de 1960, Ney largou o emprego e virou hippie, passando a viver da venda de artesanatos em couro. Enquanto isso tentava encaixar a carreira de ator, sua real aspiração desde a adolescência. Morou nesse período na casa de uma amiga que lhe concedia espaço suficiente para a confecção de suas peças. Luli, que viria mais tarde a ser a compositora de sucessos como Vira e Fala, era professora de violão e o incitava a soltar sua voz aguda sempre que algum aluno faltava.
“Eu adorava cantar com Luli, porque ela era a única pessoa que realmente acreditava que eu pudesse ser um cantor. Embora eu soubesse que tinha uma voz rara, não tinha coragem de cantar sozinho. Eu tinha vergonha”, contou Ney em depoimento ao seu site oficial.
Foi na garagem da casa de Luli, em Santa Tereza, já no início da década 1970, que Ney recebeu a notícia de que dois amigos dela de São Paulo estavam atrás de um homem de voz aguda para integrar um trio musical, os Secos e Molhados. Ele recebeu a visita de João Ricardo e Gerson Conrad, e cantou para ambos. No fim de semana seguinte, chegou em São Paulo, carregando a mochila de couro que ele mesmo havia confeccionado e na qual cabiam todos os seus pertences.
A partir dai, o trio ensaiou por um ano, até estrear em 1973 no andar térreo do Teatro Ruth Escobar, na chamada Casa de Badalação e Tédio, onde emendaram um show atrás do outro durante duas semanas. A própria Ruth Escobar os expulsou do local com a acusação de que eram maconheiros quando foi assistir uma das apresentações e encontrou o cantor vestindo uma pele de jacaré com o rabo arrastando no chão.
Os Secos e Molhados renderam a primeira projeção de Ney – agora Ney Matogrosso, que se tornou logo o principal destaque da banda, com suas performances sensuais e agressivas para o período ditatorial do país. Ao lado do timbre de voz agudo, essas seriam as marcas fundamentais de sua carreira, que ganhou novos rumos após a saída em 1975 da banda, em decorrência de desentendimentos internos, notadamente com João Ricardo, líder dos Secos e Molhados.
Depois de gravar um compacto duplo com o argentino Astor Piazzolla na Itália, Ney Matogrosso voltou ao Brasil, montou banda e estreou solo em 1975. Ano após ano, manteve lançamentos de novos LPs, colecionando clássicos no currículo como a interpretação de Não existe pecado do lado debaixo do Equador, de Chico Buarque, do álbum Feitiço (1978).
SucessosA lista é longa. Nos quase 40 anos de carreira, Ney Matogrosso não parou de produzir, interpretando os grandes nomes da música brasileira e realizando parcerias com músicos como Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Raphael Rabello (Pescador de Pérolas, 1986), o grupo instrumental Aquarela Carioca (As Aparências Enganam, 1993), e mais recentemente com Pedro Luís e A Parede (Vagabundo, 2004). Seus últimos trabalhos foram os álbuns Inclassificáveis (2008) e Beijo Bandido (2009). Ultimamente também tem retomado a carreira de ator com atuações no cinema, como o curta Depois de Tudo (2008), de Rafael Saar, e no longa Luz nas Trevas (2009), baseado em roteiro inacabado de Rogério Sganzerla.
Na entrevista que concedeu recentemente ao programa Roda Vida, da TV Cultura, Ney Matogrosso demonstrou mais uma vez sua lucidez diante da vida e da coerência de sua carreira. Falou das repressões que enfrentou, da tranquila relação que tem com as drogas, da sexualidade de vento em popa nos 70 e afirmou que a voz e a disposição para o palco estão asseguradas por muito tempo ainda. Ao ser perguntado pela jornalista Marília Gabriela sobre uma entrevista, publicada 30 anos atrás, na qual afirmou que sua voz não chegaria aos 70 anos, respondeu: “Nessa época, acredito que disseram que aquela voz que eu tinha não se manteria. Acreditei nisso tudo. Mas fui vivendo minha viva e entendi que não existe esse limite. Ele chegará, mas ainda não. O tempo foi me trazendo médios e graves e eu não perdi o agudo. Claro que eu perdi aquele timbre de vidro da voz. Se eu precisar chegar naquela nota eu chego, mas com uma voz encorpada, minha voz tem corpo hoje, o que eu prefiro”.
Nascido em Bela Vista, hoje Mato Grosso do Sul, filho de pai militar, Ney de Souza Pereira desde pequeno pensou em ser artista, a começar pela paixão pela pintura. O pai nunca admitiu tais anseios, o que seria causa de uma relação conturbada entre os dois até a reconciliação anos depois. Aos 17 anos, planejando já sair de casa, ele passou em um concurso da Aeronáutica e pediu transferência para o Rio de Janeiro, deixando a família em Brasília.
Na década de 1960, Ney largou o emprego e virou hippie, passando a viver da venda de artesanatos em couro. Enquanto isso tentava encaixar a carreira de ator, sua real aspiração desde a adolescência. Morou nesse período na casa de uma amiga que lhe concedia espaço suficiente para a confecção de suas peças. Luli, que viria mais tarde a ser a compositora de sucessos como Vira e Fala, era professora de violão e o incitava a soltar sua voz aguda sempre que algum aluno faltava.
“Eu adorava cantar com Luli, porque ela era a única pessoa que realmente acreditava que eu pudesse ser um cantor. Embora eu soubesse que tinha uma voz rara, não tinha coragem de cantar sozinho. Eu tinha vergonha”, contou Ney em depoimento ao seu site oficial.
Foi na garagem da casa de Luli, em Santa Tereza, já no início da década 1970, que Ney recebeu a notícia de que dois amigos dela de São Paulo estavam atrás de um homem de voz aguda para integrar um trio musical, os Secos e Molhados. Ele recebeu a visita de João Ricardo e Gerson Conrad, e cantou para ambos. No fim de semana seguinte, chegou em São Paulo, carregando a mochila de couro que ele mesmo havia confeccionado e na qual cabiam todos os seus pertences.
A partir dai, o trio ensaiou por um ano, até estrear em 1973 no andar térreo do Teatro Ruth Escobar, na chamada Casa de Badalação e Tédio, onde emendaram um show atrás do outro durante duas semanas. A própria Ruth Escobar os expulsou do local com a acusação de que eram maconheiros quando foi assistir uma das apresentações e encontrou o cantor vestindo uma pele de jacaré com o rabo arrastando no chão.
Os Secos e Molhados renderam a primeira projeção de Ney – agora Ney Matogrosso, que se tornou logo o principal destaque da banda, com suas performances sensuais e agressivas para o período ditatorial do país. Ao lado do timbre de voz agudo, essas seriam as marcas fundamentais de sua carreira, que ganhou novos rumos após a saída em 1975 da banda, em decorrência de desentendimentos internos, notadamente com João Ricardo, líder dos Secos e Molhados.
Depois de gravar um compacto duplo com o argentino Astor Piazzolla na Itália, Ney Matogrosso voltou ao Brasil, montou banda e estreou solo em 1975. Ano após ano, manteve lançamentos de novos LPs, colecionando clássicos no currículo como a interpretação de Não existe pecado do lado debaixo do Equador, de Chico Buarque, do álbum Feitiço (1978).
SucessosA lista é longa. Nos quase 40 anos de carreira, Ney Matogrosso não parou de produzir, interpretando os grandes nomes da música brasileira e realizando parcerias com músicos como Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Raphael Rabello (Pescador de Pérolas, 1986), o grupo instrumental Aquarela Carioca (As Aparências Enganam, 1993), e mais recentemente com Pedro Luís e A Parede (Vagabundo, 2004). Seus últimos trabalhos foram os álbuns Inclassificáveis (2008) e Beijo Bandido (2009). Ultimamente também tem retomado a carreira de ator com atuações no cinema, como o curta Depois de Tudo (2008), de Rafael Saar, e no longa Luz nas Trevas (2009), baseado em roteiro inacabado de Rogério Sganzerla.
Na entrevista que concedeu recentemente ao programa Roda Vida, da TV Cultura, Ney Matogrosso demonstrou mais uma vez sua lucidez diante da vida e da coerência de sua carreira. Falou das repressões que enfrentou, da tranquila relação que tem com as drogas, da sexualidade de vento em popa nos 70 e afirmou que a voz e a disposição para o palco estão asseguradas por muito tempo ainda. Ao ser perguntado pela jornalista Marília Gabriela sobre uma entrevista, publicada 30 anos atrás, na qual afirmou que sua voz não chegaria aos 70 anos, respondeu: “Nessa época, acredito que disseram que aquela voz que eu tinha não se manteria. Acreditei nisso tudo. Mas fui vivendo minha viva e entendi que não existe esse limite. Ele chegará, mas ainda não. O tempo foi me trazendo médios e graves e eu não perdi o agudo. Claro que eu perdi aquele timbre de vidro da voz. Se eu precisar chegar naquela nota eu chego, mas com uma voz encorpada, minha voz tem corpo hoje, o que eu prefiro”.
Ney Matogrosso enxuto aos 70
´Intérprete revelado pelo revolucionário grupo Secos & Molhados, em 1973, Ney Matogrosso se tornou um dos cantores mais importantes da recente história da música brasileira e amanhã chega aos 70 anos absolutamente em forma, na voz e no corpo super sarado.
Pedro Rocha no O Povo Online
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