
Inês Pandeló*
As manchetes dos principais jornais trouxeram ontem a notícia da prisão do suposto mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta há 49 dias. Caso venham a se confirmar tais acusações, estaremos diante de grave fato, pois envolvem, em campos diametralmente opostos, dois agentes do Estado; sendo que um agindo clandestinamente na criminalidade — quando os dois deveriam estar atuando pelo bem comum.
Mas o que proponho aqui e agora é outra leitura a partir desse triste fato; outro olhar. Igualmente à juíza, ficamos sabendo que mulheres e homens, brasileiras e brasileiros, sofrem diariamente com ameaças de morte, perseguições, sequestros, assaltos e tantas outras violações de direito — o homicídio é o ponto extremo dos foras da lei — que acabam violentadas duplamente quando não recebem do Estado tratamento isonômico.
Quero lembrar aqui de Maria Aparecida Roseli de Miranda, assassinada, em 17 de fevereiro de 2008, quando chegava para mais um dia comum de trabalho na Siderúrgica Votorantim (antiga Siderúrgica Barra Mansa). Infelizmente, ontem completaram três anos e sete meses sem que nenhum suspeito tenha sido preso por ter tirado a vida de uma jovem de 22 anos.
Ao tomar conhecimento da prisão do suposto mandante do assassinato da juíza, senti orgulho da nossa Polícia Civil. Porém, outro sentimento forte me invadiu: a indignação de saber que no Sul Fluminense, a 128 km da capital, o inquérito do assassinato de Maria Aparecida não tenha chegado a culpados.
Infelizmente esse crime nos faz constatar que para cada juiz morto existem milhares de brasileiros ‘menos nobres’. Se a memória de Maria Aparecida sofre com essa lógica perversa imposta pelo poder público, ela não é menos importante para os seus — como foi Patrícia para os filhos, amigos e familiares.
*Deputada estadual pelo PT e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da AlerjO DiaOnline Tweet
0 comentários:
Postar um comentário