Estudante acusa professora de racismo e diz ser vítima de bullying por ser negro
Rachel Duarte no Sul21
Com 23 anos e ainda sem completar o ensino médio, o gaúcho M.G está prestes a mudar pela segunda vez de colégio por racismo. Atualmente matriculado na Escola Monteiro Lobato, no Centro de Porto Alegre, o jovem negro alega ter sofrido preconceito por parte da professora de Sociologia e bullying dos colegas de classe. “Eu sempre senti um clima hostil comigo. Davam indiretas sobre músicas de negro e outras coisas, sendo que só tem eu de homem negro na sala”, afirma M.G.
Na última sexta-feira (04), o aluno e os familiares foram recebidos pela direção da escola para esclarecimentos por parte da instituição. Acompanhada dos movimentos sociais afrodescendentes e de advogados, a família foi recebida separadamente. Depois de uma hora de conversa, a mãe, o pai e a irmã do garoto saíram sem acordo e emocionalmente exaltados. “Meu filho já foi humilhado demais. Eles negam o que está acontecendo e agora ele ainda passará por mentiroso diante dos colegas que o agrediram”, desabafou a mãe.
Foi a irmã quem ouviu de M.G a revelação de que estaria ocorrendo racismo e bullying na escola Monteiro Lobato. Segundo ela, o irmão é um jovem muito cordato e calmo, o que poderia ter contribuído para aumentar as provocações. “Ele não reage. Não revida ninguém. Mas sempre estudou e tirou boas notas”, conta.
Por parte da escola, a diretora Cíntia Eizerik, afirma que a “instituição tem lugar para todos e que sempre tratou todos os alunos com respeito”. Reservadamente com os jornalistas, Cíntia explicou a versão da escola. “Iremos falar com os alunos que possam estar cometendo bullying. Se comprovado, haverá adequações. Mas a professora afirmou que nunca tratou o aluno com preconceito”, disse.
Versões e contradições
Na versão da família, a gota d´água para o desabafo do jovem em casa foi o dia em que ele apareceu com um tênis novo, de marca, em sala de aula. Os colegas teriam provocado M.G, dizendo que ele devia ser “filho de traficante” para poder estar usando o calçado. “Eles também falavam ‘Todo mundo odeia o Chris’”, conta o estudante. A frase deriva de um seriado homônimo em que o ator principal também é negro e estaria sendo usada de forma recorrente contra M.G, como forma de atacá-lo.
A partir da revelação do jovem sobre essas supostas agressões, a mãe procurou a instituição e foi recebida na última terça-feira (1º). “Eu vim, mas, me trataram com a mesma hostilidade. Chegaram a propor que o meu filho estudasse separado dos demais”, acusa.
De acordo com a diretora Cintia Eizerik, o oferecido foi que M.G estudasse em outros turnos diferentes, já que estaria se sentindo desconfortável. Sobre o motivo do desconforto do jovem, a diretora não detalhou a imprensa e disse que, ao final da conversa, a mãe teria inquirido os colegas de aula de M.G na porta da escola. “Não toleramos intimidações contra nossos alunos”, afirmou.
O advogado da família, Onir Araújo, avalia que há contradições na versão da instituição. “Primeiro a escola nega que tenha havido problemas. Depois, diz que irá ouvir os alunos. Mas, pra que ouvir alunos se não há problema?”, indaga. Segundo o advogado, a escola se comprometeu a informar à família sobre as providências tomadas quanto ao caso até esta terça-feira (8).
Tanto escola quanto a família têm consenso sobre a necessidade de M.G voltar para a sala de aula, uma vez que ele não comparece às aulas desde o final do mês passado, ainda antes da primeira audiência entre a mãe e a escola. Porém, a abordagem sobre o preconceito na instituição e o comportamento dos alunos para com o jovem negro ainda são incertezas. De acordo com a direção, há uma preocupação em trabalhar afirmativamente as questões raciais e o calendário de eventos afrodescendentes.
Porém, o Movimento Quilombista do Rio Grande do Sul,uma das entidades que acompanhou o caso, questiona o engajamento da instituição. “A direção da escola expôs ainda mais o caso. Teve uma postura segregadora para tratar o caso conosco e com os familiares. A professora, ao que sabemos, tratou o caso com retaliação em sala de aula e qualificou o caso como uma ‘negrice’. As pessoas não podem ser julgadas pela sua epiderme”, afirma o rapper Mano Oxy.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul não acompanhou a conversa da direção com o aluno e os pais, mas o gabinete do deputado estadual Catarina (PSB) segue acompanhando o caso. A família estuda a possibilidade de entrar com uma ação judicial contra a instituição por crime de racismo. A irmã de M.G alega que, devido ao modo como a instituição trata o caso, a expectativa é retirar o garoto da escola. Os movimentos sociais preparam um ato de protesto contra o racismo em frente à escola, que deve ocorrer ainda esta semana.
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