Lula, sua doença e suas lições de vida
As fotos de Lula sem barba e cabelos, tosados por dona Mariza, correm mundo e encantam aqueles que a vêem. Não pela beleza do fotografado, que não prima pela formosura, mas pela coragem de desmistificar a crença de que os políticos devam ter a imagem de fortes e nunca adoecer.
Diferente de Cháves e de Fidel, que esconderam, o quanto puderam, suas doenças ou, antes deles, de Tancredo Neves, que só revelou sua enfermidade quando ela se tornou impossível de ser ocultada, Lula fez e faz questão de informar a todos o diagnóstico e o prognóstico de sua doença, bem como o tratamento adotado e, ainda, nos brinda com fotos de sua intimidade, com dona Mariza fazendo o papel de barbeira/cabelereira e ofertando carinho.
Lula ensina a todos que as doenças devem ser tratadas sem preconceito e sem segredos, que os fortes são os que enfrentam as adversidades e não o que as escamoteiam. Desta forma, ajuda a modificar a velha tradição, compartilhada pela esquerda e pela direita, de não revelar as enfermidades de dirigentes e políticos importantes. Ajuda também a fazer os cidadãos comuns aceitarem as doenças como algo que faz parte da existência de todos e de cada um de nós, por mais desagradáveis que elas possam ser.
A cultura do belo, dos vitoriosos e da juventude a todo custo tem feito com que as pessoas se esqueçam ou tentem fazer parecer que se esquecem que a vida é finita, que as pessoas envelhecem e que as doenças ocorrem. A doença e os doentes, assim como a velhice e a morte têm sido banidas do nosso cotidiano. Ficar velho e/ou adoecer é visto como algo que macula nossa existência glamurosa e que, por este motivo, deve ser escondido.
Poucas são as pessoas que admitem em público que sofrem de alguma doença, que se submetem a algum tratamento ou, mais comum, que estão envelhecendo. Os idosos hoje se denominam integrantes da “melhor idade”, numa tentativa de reverter o tempo e de ocultar o seu transcorrer inexorável. As operações plásticas são cada vez mais frequentes e ocorrem cada vez mais cedo.
Hoje, são o novo e o vigoroso que importam. Os doentes e os idosos são discriminados, como se todos nós não tivéssemos que enfrentar o ciclo da vida e, um dia, nos tornarmos velhos e, mais do que isto, diversas vezes, ao longo da existência, adoecermos. Segregamos os doentes, isolando-os, cada vez mais, em hospitais e privando-os do convívio e do carinho dos que lhes são próximos e caros. No corre-corre do dia-a-dia e no encolher das famílias nucleares, quando ninguém tem mais tempo e possibilidade de retirar horas de trabalho para dedicá-las aos idosos, cada vez mais os remetemos para as “casas de repouso”, onde ficam depositados à espera do fim.
No extremo, a morte, assim como ocorre com as doenças, é, cada vez mais, escondida, banida do dia a dia das pessoas. Os velórios, que ocorriam nas residências, hoje são realizados longe do lar e das crianças. Um defunto é tido como algo que deve ser escondido das crianças e até dos adolescentes, como se fosse contagioso e conspurcasse a falsa perenidade da vida que levamos.
Lula, sem barba e sem cabelo, nos revela a todos que até os mais fortes adoecem e que as doenças, assim como a velhice e, no limite, a morte, são fatos da vida e assim devem ser encarados. Vida longa a Lula, que ele possa continuar a nos dar belas lições de vida por muitos e muitos anos.
Tweet
0 comentários:
Postar um comentário