O rancor contra a USP e a curiosa associação: “Além de maconheiro, você deve ser viado.”
O rancor contra a USP
Marcelo Rubens Paiva
“Além de maconheiro, você deve ser viado.”
Curiosa associação.
Esta é uma das muitas
reações de carinho que recebi ao falar do conflito entre alunos da USP e a PM.
Dos mais de 400
comentários abaixo, o índice de reprovação dos acontecimentos é altíssimo.
E, claro, as agressões
pessoais foram a tônica dos leitores: sou maconheiro, esquerdóide, analfabeto,
autor de um livro só, cujo acidente me deixou paraplégico e burro, e a
quantidade de drogas que tomei queimaram meus neurônios.
Uma fofura…
Ou não se entendeu o que
queriam afinal os alunos da USP, ou um rancor contra eles domina parte da
sociedade.
Percebi como tem gente
que acha um desperdício o investimento do orçamento estadual em uma
universidade pública.
Uma, não. Três [USP,
Unicamp, Unesp].
Frequentadas por
“vagabundos, maconheiros, depredadores dominados por correntes da esquerda
radical”.
Um desperdício de
dinheiro público.
Imaginei que fosse uma
unanimidade a proposta de que o Estado deva investir pesadamente em educação,
se quisermos dar um passo, sim, de gigante.
Além de vendermos pedras
com ferro, soja e alimentar o mundo, poderíamos nos transformar numa força
industrial e tecnológica.
Imaginei que a essência
de uma Universidade fosse desenvolver o livre pensar.
As mensagens que os
estudantes me passaram foram:
1. Esta PM não nos
serve.
2. A política de
repressão à posse de entorpecentes faliu.
3. A reitoria abriu mão
de resolver os seus problemas, como a violência no campus, desistiu e chamou o
Estado.
Leitores reclamaram que
estudantes da USP não devem ter privilégios, que esta PM é a que temos. E que
eles não querem a PM lá para poderem fumar seus baseadinhos livremente.
O governador do Estado
reclamou que deveriam ter aulas de democracia.
Mas continuo concordando
com os estudantes.
Não é a PM que deveria
voltar à escola e aprender a combater o crime?
Esta PM é falida.
Não consegue lidar com
os índices alarmantes de violência urbana. A corrupção corrói da base à cúpula.
O traficante NEM acaba de declarar que metade dos seus rendimentos ia para a polícia.
Em todas as cidades
existe a sua cracolândia, sinal de que, como disse a revista THE ECONOMIST,
perdemos a batalha para o tráfico. Como sanar tal doença?
O
DCE da USP entregou à reitoria meses atrás a sua proposta para conter a
violência: iluminar o campus, descatracalizá-lo, tornar a Universidade aberta e
criar uma guarda universitária focada nos direitos humanos.
E reitoria desprezou.
Preferiu chamar a força de repressão que fez de São Paulo uma das cidades mais
violentas do mundo.
A cobertura de parte da
mídia só alimentou o preconceito. Não se debateram ideias, mas a atitude de
vândalos.
Prefiro uma Universidade
que continue nos propondo novas ideias. Sim, gratuita. Aceito com orgulho que
parte dos meus impostos vá para as universidades públicas.
Já estudei em duas e sei
muito bem que elas não servem apenas à elite. Que há convênios com países
africanos e latino-americanos. Que se estuda as raízes dos problemas e
conflitos sociais. Que há núcleos de combate à violência. E que a força dos
movimentos sociais é a alma da democracia e da justiça social.
E que numa Universidade
livre, governador, repensa-se o papel do Estado.
Nem na época da DITADURA
as ações dos estudantes eram unanimes.
Havia uma maioria
silenciosa não engajada que não participava.
Isto não quer dizer que
ela estava correta.
Muitos diziam que
estudantes estavam lá para apenas estudar.
A História prova que dos
estudantes veem as ideias de transformação.
É mais vantajoso
escutá-los do que trancá-los ou reprimir com “borrachadas”.
No meio estudantil,
longe das forças do mercado, nascem as grandes ideias.
Nasce o futuro.
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