Diário de bordo: Minha experiência com a droga da Crackolândia
No início da semana prometemos apresentar uma série de artigos com o diário de bordo das minhas férias. O primeiro segue na íntegra com a abordagem da nossa triste realidade envolvendo as drogas.
Quando deixei Mossoró no dia 2 de novembro, Dia de Finados, a cidade contabilizava cerca de 170 homicídios, em sua maioria, motivados por alguma ligação com o uso ou tráfico de drogas. Distante de Mossoró, seria inevitável querer buscar parâmetros de comparação além dos nossos limites. Pelo noticiário regional e nacional a impressão que fica é a de que a difusão de drogas como o crack se configura como algo irreversível, mas infelizmente estamos bem à frente de muitas cidades situadas no Centro-Sul do país. Em Mossoró, nos deparamos com a figura do drogado como peça comum no nosso cenário urbano.
No "subúrbio do país", eles circulam livremente nos mais diversificados ambientes travestidos de figuras bem familiares do nosso dia a dia. Sem limites, sem barreiras, sem distinções socioculturais. No Rio de Janeiro tive passagens diversificadas pelas zonas leste e sul.
Na zona sul é praticamente impossível localizar algum suspeito do uso de drogas. A estrutura dos metrôs conta com meios específicos para controle de pedintes e suspeitos. Nos pontos turísticos e imediações, o policiamento ostensivo e as equipes de ação social realizam varreduras que impedem a formação de qualquer cenário de maior risco. No Rio, os únicos sinais de vício e tráfico foram identificados na periferia. Em Turiaçu, me deparei com uma cena explícita de comercialização em plena via pública.
Assustado, indaguei a minha anfitriã se a cena era comum. Com ar de tranquilidade ela destacou ser algo atípico, apontou para o morro e destacou. "O mundo das drogas no Rio é sinônimo de morro. Eles não costumam "invadir" as comunidades. Apesar de não parecer, existem regras e elas são cumpridas". As regras destacadas por Vaninha, negra de origem e residente na comunidade de Turiaçu há mais de 40 anos, se voltam para as leis impostas pelos chefes do tráfico. Roubar para consumir drogas é permitido desde que não quebre a tranquilidade das comunidades. Este cenário desperta a atenção da polícia que se configura como tormento nas duas ocasiões possíveis: combater o crime ou cobrar propina.
Para impedir este desencadeamento, os chefes do tráfico são rigorosos com as regras. A lei para quem gera problemas no morro ou comunidades vizinhas determina que o preço a ser pago pelo erro é a própria vida. É evidente que nem todos seguem à risca, mas os poucos que desobedecem movidos pela insana busca do prazer, assinam uma sentença de morte de fácil execução. Em meio a este cenário a população encontra-se dividida e muito desconfiada.
Durante minha passagem pelo Rio a polícia localizou o chefe do tráfico na Rocinha, o traficante Nem. As opiniões eram uníssonas na condenação do traficante. Nem mesmo a história de que entrou no crime para garantir um transplante de órgãos para o filho sensibilizou os cariocas. Em meio a uma desconfiança sem tamanho, sobravam críticas as seguidas exposições de policiais que reforçavam a tese de que a PM trabalhava com seriedade e não afeita ao suborno do tráfico.
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