quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

“Estou de alma lavada,” diz Mentor, relator da CPMI do Banestado

A Privataria Tucana: “Estou de alma lavada,” diz Mentor,  relator da CPMI do Banestado em 2005

Por Paulo Moreira Leite

Em 2005, o deputado José Mentor (PT-SP), era o relator da CPMI do Banestado, usina de investigação, denúncias e luta política interna tão grande que ela se encerrou sem votar seu relatório — um calhamaço de 2 000 páginas —  que continha boa parte das revelações divulgadas pelo livro Privataria Tucana, do jornalista Amaury Junior.

Vinte e quatro horas depois que 185 deputados assinaram o pedido de instalação de uma CPI sobre as denuncias do livro, Mentor deu uma entrevista ao blogue.
– O senhor já leu o livro do Amaury Ribeiro?

– Ainda não. Uma assessora comprou e está lendo. Vou fazer isso quando ela terminar. Nós paramos de investigar estes casos em 2005. O Amaury seguiu depois disso.  Com certeza avançou bastante.
– Como o senhor acompanhou a coleta das assinaturas para a CPI sobre o livro?

–  Estou de alma lavada. No dia em que fiz 60 anos anunciei que iria escrever um livro sobre aquela CPMI e continuo com meu projeto. Fico feliz em ver que parte de nosso trabalho está sendo reconhecido. Conheço boa parte dos documentos e acompanhei a denúncia. Sempre soube que deveria ser apurada.

– Se for mesmo instalada, a  nova CPI irá repetir a investigação da CPI do Banestado?

– Não. São objetos diferentes. A CPI do Banestado estava muito dividida. Não havia uma maioria. Ela nasceu da fusão de uma proposta do PT e outra do PSDB,  O senador tucano Antero Paes de Barros era o presidente. Eu era o relator. Nós discutíamos o tempo inteiro. O plenário também. Havia muita divergencia.
– Por que?

– No início, que coincidiu com aquele começo difícil do governo Lula, com investimentos contingenciados, sem crescimento, o PSDB achava que iria encontrar fatos para atacar o governo. Havia o interesse político de quebrar a confiança no Lula. Este era o foco real.  Quando se viu que essa alternativa não iria levar a muita coisa, pois não aparecia  nada, os trabalhos se dispersaram. Aos poucos, se viu que, ao contrário do que se pensava no início, as investigações começavam a mostrar irregularidades que comprometiam o PSDB. Foi ai que o Antero tentou encerrar as investigações de qualquer maneira.

– Como isso aconteceu?

– Nós tinhamos um prazo para trabalhar até 22 de fevereiro de 2005. Isso está escrito num documento oficial do Congresso Nacional. Mas tres meses antes, em  dezembro, o Antero proclamou o encerramento da CPMI de forma unilateral e ilegal. Mesmo assim, nós continuamos trabalhando. Fiz viagens pelo Brasil inteiro. Também fui a Madri. A Ideli (Ideli Salvatti, hoje ministra de Relações Institucionais) ajudou muito. Por fim, entreguei meu relatório, no prazo legal. Como a CPI havia sido encerrada, ele não foi votado. Mas está lá, no arquivo do Senado.

– O senhor tomou alguns cuidados no relatório?
– Sim. Documentos que deveriam permanecer em sigilo não foram incluídos.  Numa versão inicial, falava-se do laço de parentesco de um empresário com o José Serra. Retirei essa menção do relatório. Essa pessoa não estava sendo investigada porque era parente do Serra, mas porque seu nome apareceu no esquema de lavagem de dinheiro.
– O que estava acontecendo quando a CPI foi encerrada?

– A CPI acabou no momento em que nós iríamos votar um segundo pedido para convocar o Gustavo Franco (presidente do BAnco Central no governo de FHC). O pedido já fora aprovado na única votação feita pelo plenário mas não se marcava data data para o depoimento. Naquele momento, eles quiseram barganhar conosco. Queriam que a gente desistisse de convocar o Gustavo Franco, enquanto eles desistiriam de convocar o Antonio Ciprianni (empresário, dono da Transbrasil, próximo de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula). Mas nós não queríamos barganhar nada. De nossa parte, eles podiam chamar o Cipriani. Nós queriamos ouvir o Gustavo Franco. Naquele momento, a Justiça uruguaia estava disposta a fornecer dados sobre uma factoring que descontava cheques. Havia possibilidade do próprio Comendador Arcanjo colaborar. Aí eles encerraram.

– O senhor foi acusado de cometer abusos. Por exemplo: de quebrar o sigilo de pessoas sem necessidade. Diziam até que usava informações para fazer chantagem…

– Diziam isso para tentar desmoralizar a CPI e uma parte da mídia comprou essa ideia. Queriam impedir que nosso trabalho fosse levado a serio. A CPI quebrou o sigilo bancário de 2 000 pessoas. Diziam que era demais. Mas fizemos uma reunião secreta na CPI para tratar do assunto. Eu pedi: “me apontem um nome que foi investigado indevidamente.” Ninguém disse nada. Também dei uma coletiva sobre esse assunto. Fiz a mesma pergunta para os jornalistas. Ninguém me apresentou nada. Só posso concluir que quebramos o sigilo de pessoas certas.

– Dizem que houve um acordo para o encerramento da CPI…

– Não houve acordo na Câmara. Isso eu posso garantir.

–Mas houve acordo entre o governo e a oposição?

–Só posso dizer que não houve nada na Câmara. Falo do que sei.

–Uma explicação para o encerramento da CPI é que ela ajudou a esconder descobertas que poderiam comprometer o PT e o governo…

– Pelo amor de Deus! Nem o Antero Paes e Barros afirma isso. Ele chegou a fazer um voto em separado, para substituir meu relatório. Não fala sobre isso.


Na Época

0 comentários: