quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Escolas femininas desafiam o Talibã

Escolas femininas desafiam o Talibã



Ashfaq Yusufzai

Apesar de agora haver menos atentados suicidas e explosões de bombas no Paquistão, o movimento islâmico afegão Talibã continua atacando escolas de mulheres.
A resposta das alunas é continuar estudando, apesar de não ter um prédio. A escola secundária de Kumbar, na província de Khyber Pakhtunkhwa, é uma das muitas que devem ser reformadas. Em maio de 2009, a explosão de uma bomba a deixou quase em ruínas.
“Enquanto estávamos vivendo no acampamento de Mardan, em razão da operação militar na região, ouvimos a má notícia de que nossa escola tinha sido destruída pelo Talibã”, contou Kulsoom Bibi, estudante da nona série da escola secundária para meninas do governo, no distrito de Timergara Dir. “Já se passaram dois anos e ainda não foi reformada”, lamentou. A boa notícia é que continuam estudando, mesmo sem salas de aula.
“O Talibã está profundamente contra a educação; cessaram os atentados suicidas e com bomba e houve sinais de melhoria na segurança, mas continuam os ataques contra escolas”, denunciou Pervaiz Jan, funcionário da educação no distrito de Charsadda, em Khyber Pakhtunkhwa.
No dia 21 de dezembro explodiram duas escolas. No mês passado, 13 centros de ensino foram dinamitados nas agências de Mohmand, Khyber e Orakzai, nas vizinhas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata), e em Mardan, Charsadda e Peshawar, capital de Khyber Pakhtunkhwa. Insurgentes explodiram 33 escolas desde 2006 em Dir, um dos 25 distritos da província, disse à IPS o diretor-executivo dessa localidade, Khursheed Ali. “Estão sendo reconstruídas apenas 11 escolas por causa do orçamento limitado do governo”, acrescentou.
A diretora de um dos centros de ensino, Ayesha Bibi, afirmou que as estudantes ainda estão atemorizadas. “A campanha do Talibã deixou sem educação três mil alunas. O governo distribuiu 20 barracas de campanha para serem usadas como salas de aula”, contou Bibi à IPS.
O Talibã afirma que é contra certo tipo de educação. “Não estamos contra o ensino, mas estas escolas são a fonte da educação moderna e liberal que não é permitida pelo Islã”, disse à IPS o porta-voz do proscrito Tehreek Talibã, Ihsanullah Ihsan, por telefone, de um local desconhecido. O Talibã continuará explodindo escolas, ressaltou.
O assistente de direção para a educação de Khyber Pakhtunkhwa, Pervez Jan, afirmou que 755 escolas foram destruídas nessa província e 296 nas vizinhas Fata. “Não se detém, e nos últimos tempos a campanha se estendeu a Mardan, Charsadda, Swabi, Nowshera e Peshawar, que antes eram áreas seguras”, afirmou.
No dia 22 de novembro, o Talibã colocou uma bomba do lado de fora da escola secundária do governo para meninas em Shah Dand Mardan, que explodiu enquanto a polícia tentava desarmá-la. “Se tivesse explodido pouco depois teria matado dezenas de jovens”, disse Jan. A diretora da escola, Lal Baha, afirmou que três meses antes recebera uma carta do Talibã dizendo que estabelecesse a obrigatoriedade do véu. “Desde então é usado pela maioria de nossas mil alunas”, acrescentou.
Várias estudantes disseram à IPS que estão decididas a continuar assistindo as aulas. “Se deixarmos de ir será a concretização do sonho mais desejado do Talibã’, disse Kausar Bibi, de 16 anos, da escola secundária de Mardan. “Por que destruir escola? O Islã promove a educação de homens e mulheres, mas o Talibã faz o contrário do que ordena nossa religião”, acrescentou. As alunas de outra escola de Khyber, com oito salas de aula, destruída pelo Talibã este mês, estão animadas. “Nossa escola não tem teto nem móveis ou outros elementos necessários, mas continuaremos estudando”, assegurou Gul Ghutai, de nove anos, estudante do terceiro grau.
Por outro lado, as alunas da escola secundária do governo em Domail, distrito de Bannu, nas Fata, não sabem quando as autoridades começarão a construir o prédio destruído em setembro de 2011. “Mais de 800 meninas estudam em tapetes que levaram de casa”, contou a professora Zar Pari. “É difícil ouvir a professora porque as salas estão lotadas, mas não há outra alternativa”, disse a aluna Mushtari Begum.
Shahana Imran, da quarta série da escola secundária do governo em Regi, disse que escolheu ciências porque deseja ser médica, mas a escola não tem material apropriado. “Quando chegamos, em 23 de abril, encontramos apenas restos deixados pela bomba que havia explodido pela manhã”, contou a aluna.
O ministro da Educação de Khyber Pakhtunkhwa, Sardar Hussain Babak, disse que várias organizações doadoras prometeram ajuda econômica para a reconstrução. “Começamos a reconstruir 127 escolas em Swat, onde os rebeldes destruíram um total de 255, entre 2007 e 2009”, disse. O governo criou comitês de aldeia para preservar os centros de ensino. Saeed Bibi, estudante da sétima série em Lakki Marwat, disse que, como ela, cerca de 200 alunas não vão mais à escola desde que foi destruída, em maio de 2011.

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