No Mulher Alternativa
[Esta imagem foi criada por mim, é Creative Commons e pode ser redistribuída na web; façam bom proveito!] |
Não preciso repetir o que minhas companheiras de luta vêm dizendo lindamente ao longo da semana. Indico, a quem quiser entender nossa revolta com "parabéns por ser mulher" e outros tipos de celebração "pelega", alguns textos muitíssimo bem escritos. Não tenha medo de confrontar seu próprio machismo - este é um presente muito mais produtivo que você pode dar a si mesma, a si mesmo e a cada mulher a seu redor.
Suely explicou a diferença (só faltou desenhar pros mais desentendidos) entre uma data "comemorativa" comercial, como "dia das mães", e o 8 de Março:
"Não tenho nada contra os mimos, gentilezas, presentes e outras e delicadezas, embora eu tenha cá as minhas restrições a incentivar o consumismo. O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta. É um dia de mobilização, de manifestações públicas, de debates e de reflexão pela igualdade de gênero e por melhoria das condições de vida para as mulheres. No mundo inteiro as mulheres vão às ruas para comemorar as conquistas, protestar contra a violação de direitos, gritar pelo fim da violência doméstica e sexual e reivindicar políticas públicas para a igualdade entre mulheres e homens."
(da Suely Oliveira, em Matizes Feministas: Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)
Já Cynthia lindamente criou uma série de respostas e questionamentos às frases machistas mais comuns (e que tantas de nós sequer identifica como machista) que ouvimos nesse dia do ano. Entre elas "mulheres, vocês embelezam o mundo", "parabéns por ser mulher", "adoro as mulheres, afinal, nasci de uma", "falta um dia do homem", entre outras pérolas de quem realmente não sacou (ou não quer sacar) o que significa este dia.
"Como estou cansada de todo ano ouvir discursos machistas no Dia Internacional da Mulher, este ano preferi fazer a listinha das besteiras que eu já ouvi. Tenho certeza que vocês conhecem pelo menos alguma delas. Aproveitei também para explicar o quê está de errado nessas frases ridículas, pra ajudar os moços a entenderem que as palavras que eles acham lindas podem ser muito ofensivas. Quem sabe esses discursos entram em extinção?"
(da Cynthia Semíramis, em seu blog: Os Machistas no Dia Internacional da Mulher)
Pra ir ainda mais a fundo e saber um tiquinho da história desta data comemorativa - que, diferentesmente de certas outras que são fruto de um calendário religioso ou de lobby de associações comerciárias - a Srta. Bia fez o favor de criar um belo post citando o livro de Nalu Faria, a quem interessar:
"Quero falar especialmente sobre o momento de luta em que vivemos. Por meio do grupo das Blogueiras Feministas diariamente disputamos espaços na internet. Construímos por meio de diferentes vozes, maneiras de pensar o feminismo. Portanto, o Dia da Mulher para mim tem um caráter de conquista e continuidade. É tempo de celebrar, mas também é hora de visualizar nossos desafios. Hoje, sou eternamente grata por todas as mulheres que contribuíram para que eu possa ter um blog. Pela liberdade que tenho de escrever na internet. No livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres” de Ana Isabel Alvarez González, Nalu Faria (coordenadora da Sof – Sempreviva Organização Feminista), relata grande parte do meu sentimento atual em relação ao 8 de março na apresentação do livro. Por isso, reproduzo trechos de seu texto aqui"(da Bianca Cardoso, em Groselha News: Troque Sua Rosa Por Um Mundo Com Mais Igualdade)
No coletivo Jardim de Lilith, a Talita também recupera um pouco da história do Dia 8 de Março. Reflete, como todas nós, sobre os "parabéns" e "mimos", como bem disse Suely no texto indicado ali em cima.
"A questão é que o 08 de março deveria continuar a ser tomado como um marco de quanto as questões de gênero são endêmicas e prejudiciais a todo o desenvolvimento social. Não precisamos ganhar rosas vermelhas ou presentes ditos "femininos". Precisamos, unicamente, sermos tratadas com igualdade tanto fora quanto dentro de nosso ambiente de trabalho."(da Talita Rodrigues da Silva, no Jardim de Lilith: Um Pouco Sobre História, Muito Sobre Lutas)
Pra fechar com chave de ouro este post, convoco as palavras da Luciana. Sempre na mosca, dizendo o que eu sinto por aí. Refletindo, sentido e marcando com uma força que emana da delicadeza, este momento crucial de crítica e reflexão feminista.
"Hoje, espalha-se por aí, é dia da mulher. E virão rosas. E receber rosas é a perfeita metáfora do que significa esse dia. Eu não tenho nada contra rosas, gosto até, mas o certo é que elas murcham brevemente depois de arrancadas. E esse dia da mulher, em rosas e eufóricos “parabéns por ser mulher” – como uma evidência biológica e não um vir a ser - é assim: um efêmero oba-oba que se extingue no cotidiano dos salários diferentes para fazer a mesma atividade, nas jornadas duplas e triplas de trabalho, na regulação externa sobre o corpo feminino, na violência sistemática e institucionalizada contra a mulher, na naturalização das expectativas de comportamento, na redução da mulher à maternidade, na demanda de docilidade constante...um conjunto complexo de situações que implicam na necessidade de uma luta constante e não um arroubo romantizado sobre uma entidade coletiva indiscriminada."Então, dão-nos rosas, como dizendo: aproveita que é só hoje. Pois eu digo: não, não me façam homenagens, não elogiem o que é um suposto em mim, não celebrem por mim e em meu nome. Pois eu digo Não. Não, desobrigada. Não quero ver meus sonhos, direitos e desejo em pétalas murchas, amanhã."
(da Luciana Nepomuceno, em Borboletas Nos Olhos: Metáfora Perfeita)
Um dia, uma semana, um ano, uma vida longa e de muita luta a cada uma de nós.
Tweet
0 comentários:
Postar um comentário