sábado, 24 de março de 2012

Caso de adolescente homossexual agredido por colega evidencia tema negligenciado na escola

 

Caso de adolescente homossexual agredido por colega evidencia tema negligenciado na escola


Caue Fonseca


Os repetidos atos de hostilidade foram ignorados na escola de Santo Ângelo, nas Missões. Tampouco foi percebida a omissão dos professores, ou a agressão, que um colega anunciou aos quatro ventos e concretizou em 13 de março. 

Só quando a vítima escreveu uma carta a uma ONG pedindo socorro, o episódio de bullying contra um adolescente homossexual de 15 anos ganhou a atenção do Estado e, desde ontem, do resto do país.

Na quinta-feira, a história do jovem, noticiada na ZH de 20 de março, foi contada ao vivo no programa Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga, exibido na RBS TV.

— Falei que eu não tinha medo dele (do colega agressor). Ele respondeu “então vai ter facada”. Na saída, ele ameaçou tirar uma faca do bolso, mas, em vez disso, me deu uma rasteira e começou a me bater — contou o adolescente.

O caso foi registrado na polícia, o agressor (também de 15 anos) cumpriu três dias de suspensão, e a vítima transferiu-se de escola. Na opinião tanto da vítima quanto de especialistas, seria grande a chance de nada disso ter acontecido se o tema “diversidade sexual” fosse abordado em sala de aula.

— As políticas públicas existem, mas elas não chegam às escolas. Falta material didático, falta capacitação — avalia Toni Reis, 47 anos, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), autor de doutorado sobre a abordagem do homossexualismo nas escolas.

Assim como Reis, o professor da Pós-Graduação em Educação da UFRGS Fernando Seffner lamenta o silêncio sobre o tema. Ambos participaram das discussões sobre o kit anti-homofobia, que acabou vetado.

— Temos subsídio para dizer que a introdução de determinados temas nas escolas gera um impacto posterior positivo. Saúde sexual, por exemplo, é hoje um tema abordado com naturalidade — avalia Seffner.

Coordenador da linha de pesquisa Educação, Sexualidade e Relações de Gênero, Seffner salienta que falar sobre diversidade sexual é uma demanda também das famílias, constrangidas em abordar o tema em casa. Na escola, o debate estimularia um tipo importante de estudante:

— A maioria dos adolescentes heterossexuais não concorda com agressões a homossexuais. Mas eles se sentem amedrontados. Têm medo de acabarem rotulados também. Estimulado, esse pessoal vai opinar.

Prestes a voltar a Santo Ângelo, o adolescente confessa receio em sair na rua, mas sente-se fortalecido com o acolhimento e apoio recebido. A homossexuais vítimas de bullying que se sentem sem saída, como ele após a agressão dia 13, o jovem dá um conselho.

— Não chegue tão perto do limite. A vida é ótima e tem de ser curtida. Está cheio de gente aí para te apoiar. 



No ZeroHora

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