quarta-feira, 21 de março de 2012

Quando Thor Encontrou Wanderson

Quando Thor Encontrou Wanderson

Por Paulo Nogueira

Thor

Os dois têm, em comum, o nome estranho e improvável e a nacionalidade brasileira.
Thor e Wanderson.
O resto são diferenças que jamais os levariam a se encontrar. Thor, 1%, para usar a expressão consagrada no protesto Ocupe Wall St, anda num carro de quase 3 milhões de reais, uma McLaren. As multas por excesso de velocidade que Thor recebeu no período “probatório”, em que o motorista é testado logo depois de receber carteira de motorista, deveriam tê-lo impedido de dirigir.  Mas regras no Brasil não costumam ser aplicadas para o 1%. A família de Thor tem dinheiro e as conexões que isso traz: não há muito tempo, o governador do Estado tomou carona no helicóptero do pai de Thor, um homem cuja maior ambição não é ser o homem mais sábio do mundo,  ou o mais feliz, ou o mais generoso — e sim o mais rico, um recordista de moedas.
Wanderson é o 99%. Bicicleta em vez de McLaren, e não por modismo ou por consciência ecológica. Simplesmente por necessidade. Feio por não ter a boniteza outorgada pelo dinheiro: não poderia comprar o corpo de jogador de rugby adquirido por Thor com duas horas de exercícios diárias, e nem as roupas, e nem os produtos de beleza. Pobre não pode aspirar a grandes feitos estéticos, e nem pequenos, para ser franco.
Wanderson
Contra todas as probabilidades, Thor e Wanderson, com suas vidas paralelas e opostas, acabaram se encontrando na noite de sábado, numa estrada.  Foi um encontro rápido. Thor em sua McLaren e Wanderson em sua bicicleta. Thor mal viu Wanderson. Salvo em circunstâncias excepcionais, os 99% são invisíveis.
No final da reunião relâmpago, Wanderson estava em pedaços, destruído pela McLaren. A imprudência, segundo o pai de Thor, foi de Wanderson.  Não há surpresa nisso porque no Brasil a culpa sempre foi dos 99%.
E agora Thor retoma sua vida de herdeiro enquanto Wanderson lentamente vai desaparecendo de nossas mentes e de nossas conversas até ser devolvido à miserável invisibilidade em que esteve imerso até o breve encontro de sábado à noite.

1 comentários:

Anônimo disse...

BOM ACREDITO QUE SÓ SABEMOS O QUE SAMBEMOS, NÃO VOU JULGAR E NEM POSSO NENHUMA DAS PARTES, POREM CULPAR UMA PARTE POR TER UMA CONDIÇÃO INDISCUTIVELMENTE MELHOR É IMPLÍCITO A QUEM ALIMENTA O SENTIMENTO DO DITO "COITADINHO" 1º RODOVIA É PARA VEÍCULOS, 2º VISIBILIDADE A NOITE DE UM CICLISTA COMO MOTORISTA CONSIDERO COMPLICADA E BEM DIFÍCIL, 3º ESPERO SINCERAMENTE QUE O MOTORISTA EM QUESTÃO ARQUE COM SUA RESPONSABILIDADE DENTRO DA LEI DOS HOMENS E SOB SUA CONSCIÊNCIA COM ÉTICA, MAS NÃO VAMOS ATIRAR PEDRA EM QUEM TEM A CONDIÇÃO MELHOR. NÃO ESTOU DEFENDENDO MINHA CLASSE SOCIAL POIS ESTOU BEM MAIS PERTO DO WANDERSON DO QUE DE THOR, SENDO ASSIM MELHOR PARA A FAMILIA E PARA O ADVOGADOZINHO SENSACIONALISTA QUE TENHA SIDO UMA MACLAREN E NÃO UM CORCEL VELHO (NADA CONTRA QUEM TEM UM)