Carta aberta ao Senhor Antonio Grassi, digníssimo Presidente da Funarte.
Depois de quinze dias passados perplexos, mas suficientes para uma profunda e dolorida reflexão, sem o fígado mas com a razão, consciente e sem rancores infantis, decido escrever - ou melhor PROTESTAR sobre - algo que pela ausência de sentido e com o tremor nas mãos e no corpo de quem passou e sentiu na prática teatral o período negro da recente história do Brasil - a BLINDAGEM DOS EDITAIS DA FUNARTE.
O que se passa Sr. Antonio Grassi?
Não sei se é necessário lembrá-lo que a cadeira em que senta - o senhor, a ministra e seus séquitos - certamente é o assento que mais deveria representar os ideais de liberdade (por que não libertinagem), democracia, igualdade, provocação (com e sem causa), sem se esquecer da palavra guinada ao seu valor real pela nossa presidenta: TRANSPARÊNCIA. O senhor habita o Ministério da Cultura do Brasil!
Infelizmente o senhor não se dá conta disso.
O senhor num surto anti-democrático, próprio dos ditadores que ajudamos a sair de cena pelo protesto, pelo grito, pela nossa arte, corre o mesmo risco, apoiado que está numa legislação velha e canhestra. Exceto se as corporações que o senhor politicamente “brinda” fizerem vistas grossas desta sanha autoritária que o tomou. Será lembrado como o ex-artista que de uma canetada “blindou” a Funarte.
Mas, Sr. Antonio Grassi, blindou por quê?
Blindamos algo, quando há uma ameaça. Quando corremos o risco de perder um patrimônio que tanto lutamos para ter é evidente que iremos protegê-lo de uma estranha ameaça. E na maioria das vezes, diante do perigo, escondemos este patrimônio.
Mas a Funarte tem medo do que? A Funarte quer esconder o que?
Ai é que mora a filosofia.
Medo de questionamentos? Mas se é essa a nossa tarefa, como artistas!!
Medo de revelar os projetos? Mas se é dessa revelação que podemos dar o salto de qualidade que ansiamos!!
Medo de expor as comissões julgadoras? A não ser que elas de fato não nos representem!!!
Medo do que Senhor Presidente?
Esta cadeira na qual se ocupa tem preço: o preço de dialogar com todos, inclusive com aqueles pares que se recusam a fazer parte do corporativismo estreito vestido com o cabresto que o impede de olhar para os lados. Do corporativismo de um só olho, incapaz de aceitar a diversidade.
Por favor, Senhor Antonio Grassi, inútil delegar aos distintos advogados do setor jurídico as explicações que somente o senhor seria capaz de nos dar. Se é que ainda podemos chamá-lo de artista.
Carlos Palma
Ator, cenógrafo, dramaturgo e produtor.
Integrante do Núcleo Arte Ciência no Palco, filiado a Cooperativa Paulista de Teatro.
TEXTO DA PORTARIA
O PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES (Funarte), no
uso das atribuições que lhe confere o inciso V do artigo 14 do
Estatuto aprovado pelo Decreto nº. 5.037 de 07/04/2004 publicado
no DOU de 08/04/2004, torna público que, de acordo com o Art.23
inciso VI da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.5527, de 18 de
novembro de 2011) (*), a Funarte classifica como RESERVADAS as
informações relativas a seus editais de fomento às artes, que se
referem a: 1) Conteúdo dos projetos não contemplados nos editais de
fomento; 2) Conteúdo dos projetos contemplados nos editais de fomento até a sua execução (consoante artigo 216, III c/c 216 § 1º, da Constituição Federal). Também se inserem nesta classificação: 3)
Parecer sobre pedidos de recurso de projetos não habilitados na seleção dos editais de fomento, uma vez que não se caracterizam como informação de interesse público, ficando no entanto disponível ao diretamente interessado na decisão
Núcleo Arte Ciência no Palco
da Cooperativa Paulista de Teatro
55 11 3081-8865 | 3068-0557
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