domingo, 19 de agosto de 2012

As incoerências do Femen Brazil


As incoerências do Femen Brazil

Leticia Bicicreta 

“O Fantástico acompanhou todos os detalhes dessa história”. Assim, com ar de furo exclusivo, Tadeu Schmit chamou a história da brasileira que viajou três dias até a fria Ucrania. Tudo com um nobre pretexto: protestar a favor dos direitos das mulheres ao lado das meninas do Femen.

O grupo surgiu na Ucrânia em 2008 e chamou atenção do mundo na última Eurocopa, sediada pela Ucrania. De seios de fora

, enfrentando temperaturas abaixo de zero, as Femen protestavam contra o turismo sexual na ex-república soviética.

Como lembrou Leonardo Rossatto em seu blog “O Enciclopedista”, o Femen é uma reação a uma situação de opressão. Não são de esquerda, não tem pretensões ideológicas. Especialmente num país onde a grande discussão é ser nacionalista e capitalista ou reintegrar-se ao território russo e voltar a ser província. (http://
leorossatto.wordpress.com/2012/08/16/o-feminismo-e-o-ponto-de-vista/).

Confesso que nunca prestei atenção ao Femen. Sabia por alto de suas ações na Europa e da existência uma manifestante brasileira presa durante os protestos da Eurocopa. Tudo tão superficial quanto a matéria do Fantástico. Se não fosse o pseudo protesto anti pirataria numa livraria de São Paulo, o Femen continuaria a parecer um folclore criado pela mídia num domingo modorrento e sem notícia.

Curiosamente, foi num domingo que Vanessa de Oliveira, ex-garota de programa e escritora, resolveu ficar nua para protestar contra a suposta pirataria de seu livro. O local escolhido foi a vitrine da livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista. Vanessa expunha o corpo pintado com a frase “não a pirataria” escrita em duas línguas. Ao lado de Vanessa estava Bruna Themis. Jovem estudante de direito de São Paulo que aderiu ao FemenBR na última semana.

Históricamente o movimento feminista no Brasil é ligado à esquerda. Toma como sua bandeiras caras a vários movimentos sociais. Uma delas é o livre acesso à informação. Por que o FemenBR iria aderir ao protesto mercantil de Vanessa – diante dos jornalistas, a escritora deixou de lado a pirataria e fez propaganda de seu novo título?

Afinal, qual é a bandeira do FemenBR? É direita, esquerda, muito pelo contrário? Quanto mais buscava respostas, mais dúvidas brotavam das relações do FemenBR. Aparentemente eu não era a única incomodada.

Após o protesto-propaganda de Vanessa, começaram a pipocar informações sobre as ligações da “líder” da organização, Sara Winter, com a extrema direita. Para minha surpresa, na pagina do grupo no Facebook, havia um post enorme que dizia que o FemenBR era uma organização “apolítica”.

Mais um espanto. Um movimento de atuação militante não pode ser apolítico (na realidade, um ser humano não pode ser apolítico). Ele pode ser apartidário, ou seja não ter ligação com nenhum partido político. Diante do questionamento de várias pessoas, FemenBR decidiu apagar um tópico enorme com uma discussão muito rica que havia se desenvolvido nos comentários. A correção foi feita em outro post, dizendo que o Femen Brazil é apartidário. No entanto, apartidário é mais uma coisa que o FemenBR diz ser. Mas não é.

Eles também se dizem “ong”, mas não são. Para ser ong no Brasil é preciso seguir uma legislação. Na prática “ong” serve para tudo. Da TFP ao movimento de atores globais contra Belo Monte. Após questioná-los várias vezes nas redes sociais a respeito da situação do movimento como organização não governamental e pedir informações transparentes, não obtive nenhuma resposta.

Foi na falta de resposta ou na busca por informação que topei com alguns sinais estranhos. Mais precisamente, partidários. A cada dois anos o Brasil se transforma. Décadas de discussões democráticas são derrubadas, aliadas de ocasião que se odiavam, amam-se apaixonadamente, assim como a noção de direita e esquerda fica tão distorcida que é possível ver azul e vermelho se unindo em algum ponto do espectro.

Por isso não me espantei quando cheguei ao nome de Andrey Cuia, ou Andrey Russo, assessor da Sara Winter e do Femen Brazil e candidato a vereador em Santo André pelo PMN. (Ainda em tempo, o PMN está para o PPS, assim como o PPS está para o PSDB. PMN e PPS estão coligados em São Paulo apoiando a candidata Soninha Francine, ex-coordenadora de campanha de Serra em 2010)

No perfil do candidato, Russo cita, entre outras coisas, “GLBT & Mulher - não se bate nem com uma flor! Discriminação de qualquer tipo, exploração sexual, sexismo, violência doméstica não podem existir! Parcerias com ONGs, OSICPs, Femen Brazil e lideranças.”

https://www.facebook.com/
pages/AndreyRusso/204019489727860?sk=info
A ligação Russo com o FemenBR vai além da mera parceria, como ele diz. Há provas de que ele usava a conta paypal de sua empresa, a Astech para arrecadar fundos para a viagem de Sara à Ucrânia - https://plus.google.com/
109212741590298158848/posts/CzgR8Gzsqpm .
Até aí, nenhum problema. Não há crime neste fato. Mas o FemenBR não pode se declara apartidário. Há um partido. E mais, um candidato que disputa a próxima eleição.

Russo não nega que seja assessor do FemenBR. Na sua conta do twitter ele assina como “assessor voluntário”. Além disso tentou entrar em contato com vários veículos de comunicação para enviar releases de manifestações do grupo. O que Russo nega é que tenha influência dentro do FemenBR.

Pelo menos aqui ele aparece dando instruções a Sara de como agir nas manifestações no Brasil. https://p.twimg.com/
A0jLYOOCUAAzr2a.jpg. Em uma parte do texto, Sara admite que o FemenUA não tem homens. Mas que aqui no Brasil ela gostaria de contar com o fotógrafo do grupo e com o assessor Andrey Cuia. Aqui, Andrey admite que escreveu textos no perfil do FemenBR https://p.twimg.com/A0nDc-_CQAAdyRD.jpg
Não há nada de ilegal na relação entre Sara, Andrey e o FemenBR. Assim como não há nada de errado com a participação de Bruna Themis (a segunda Femen no Brasil) no protesto de escritoria Vanessa. Repito: nada de ilegal. É só marketing.

Neste caso, um grupo que se diz apartidário e se deixa usar como cabo eleitoral por candidato. Russo usa o nome da organização FemenBR para respaldar seu envolvimento com o movimento feminista e a luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Sara, de todo o modo, não pode dizer que desconhecia a atuação política de Russo. Os textos e as datas desmentirão ela.

Mais informações a respeito da ligação de Andrey com Sara Winter e o Femen Brazil podem ser encontradas no seu perfil pessoal do facebook https://www.facebook.com/
andrey.cuia ou no perfil do twitter @as_tech

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