quarta-feira, 19 de setembro de 2012

10 motivos pelos quais o Femen Brazil não merece atenção. E fim de papo.


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10 motivos pelos quais o Femen Brazil não merece atenção. E fim de papo. 
Por Manu Barem - Jezebel
Antes de mais nada, eu queria não precisar falar mais do Femen Brazil (sim, elas escrevem com Z). Simplesmente, porque suas ações nos levam a crer que não é um movimento feminista que merece crédito, mas mesmo assim ocupa um espaço nos jornais como poucos movimentos somente por causa das ativistas de peitos de fora. A cada novo erro ideológico ou de articulação, o Femen se aproxima de uma brincadeira de criança. Só que mexe com coisa séria e não pode continuar do jeito como está — e disso precisamos falar.
A falta de embasamento teórico e incoerências do Femen são um desleixo grave para quem quer chamar a atenção da imprensa para questões importantes como violência contra mulher e parto em casa. A começar pelas duvidosas escolhas de métodos (protesto de topless só vale com mulher bonita?) e falta de diálogo que formam o movimento das ativistas ucranianas, que protestam contra a prostituição e são acusadas de xenofobia. O que já era discutível tornou-se ainda mais confuso no Brasil por causa da postura da líder Sara Winter. De tatuagem com símbolo nazista à recente invenção de sequestro da ex-integrante do Femen Brasil, Bruna Themis, Sara é erro atrás de erro. Mesmo assim, muita atenção foi dispensada à ela, que já foi entrevistada por Marília Gabriela e levou seu Femen raso e incoerente para debates na Casa Tpm e para o Superpop.
Porém, analisando por outros aspectos, digamos que estes erros fizessem parte do amadurecimento do movimento no Brasil. Ok, sua líder Sara Winter é jovem — tem apenas 20 anos — e poderia estar pecando por causa da pouca maturidade e falta de preparo. Então, qual a melhor saída para isso? Tentar aprender, se informar e debater com quem entende do assunto. No caso, outras feministas de diversas outras correntes do feminismo no país. Mas, a líder do Femen Brazil não quer diálogo com ninguém, como revela a ex-integrante Bruna Themis em uma entrevista divulgada ontem no Opera Mundi
E, para engrossar ainda mais a mistura de escolhas contestáveis, o braço direito de Sara/assessor do Femen Brasil, Andrey “Cuia” ou Andrey Russo, é candidato a vereador pelo PMN em Santo André, ainda que Sara tenha definido o Femen como “apolítico” — o que também parece impossível para um movimento social.
Por conta dessas razões e diversas outras, integrantes de movimentos feministas consideram o Femen Brazil um tiro no pé. Dezenas de posts em blogs denunciam as falhas da líder do movimento e condenam suas ações. O mesmo acontece nas redes sociais: a cada nova notícia de prisão das ativistas durante protestos, surgem novas críticas e piadas.
E se ninguém leva o Femen a sério do jeito que está, você também não precisa levar. Muito menos veículos de imprensa como o G1 e Folha de São Paulo que destacam as ativistas do Femen no topo dos seus sites, sem nem explicar direito sobre o que elas protestam. Os peitos rendem cliques, a gente sabe, mas dar destaque ao Femen da forma como ele tem sido mal conduzido sem se aprofundar no assunto é desserviço grave para as questões feministas como um todo.
A seguir, outros dez motivos que compõem falhas graves do Femen Brazil. E que, por causa delas, este “movimento” não pode ser levado a sério:
10 — Linha de atuação nebulosa. A feminista Gabi Santos fez uma carta aberta quando saiu do Femen Brazil — depois de cinco dias de participação no movimento — dizendo que o contato com o grupo não foi suficiente para responder seus questionamentos e que a linha de atuação do movimento no Brasil também não estava clara para ela:

Na ocasião do convite, questionei os posicionamentos políticos, articulações e debates construídos, para além do turismo sexual e da prostituição (causa essa que ainda precisa ser amplamente debatida pelo movimento). Questionei o posicionamento do mesmo sobre as mulheres negras, diversidade sexual e sobre como o movimento enxerga a mulher nos diferentes contextos e culturas existentes em nosso país. Não obtive retorno sobre os assuntos pautados sob a alegação de que a organização está em construção e que estão dispostas a somar idéias e lutas ao movimento.


9 — Processo de seleção. O processo de seleção (?) das novas integrantes (onde estão todas elas?) é unilateral e parece uma gincana de colégio.
8 — Sara Winter flerta com movimentos de correntes ideológicas conflitantes. Ela aparece em uma foto tirada em um show de uma banda de skinheads em março deste ano, tem uma cruz de ferro tatuada acima do seio esquerdo e assumiu que já foi admiradora da ideologia de Plínio Salgado e Ronald Reagan.
7 — Sara Winter criticava o uso do corpo nu como forma de chamar atenção há apenas um ano. Ela criticou a Marcha das Vadias do ano passado em um post em seu blog.
6 — Desrespeito com quem contesta o movimento. O Femen Brazil faz pouco caso dos seus perfis nas redes sociais, deletando e criando novas páginas oficiais no Facebook como bem entendem, além de posts e centenas de comentários com discussões importantes acerca do papel do Femen.
5 — O Femen quer integrantes bonitas. Em sua nota de esclarecimento, o Femen Brazil se diz “contra padrões de beleza”. Porém, na mesma entrevista ao Opera Mundi, Bruna Themis conta que Sara disse que “as meninas da Ucrânia” disseram que “não seria bom para o movimento colocar meninas acima do peso no grupo”.
4 — Sara se confunde ao opinar sobre o nu e já posou nua. Também com relação ao corpo, em entrevista à Marília Gabriela, Sara disse que há diferenças entre o “nu artístico” e “nu com poses sensuais”. Com relação à isso, a blogueira Deh Capella questiona:


Então, olha só, não parece a vocês tênue demais a linha entre o “nu artístico/político” e o “nu sensual”? Eu acho caduca essa negação da sensualidade, essa insistência na separação do que é “artístico” e “sensual”. Moralista mesmo.


Lembrando que Sara Winter já posou nua para os fotógrafos Fernando Lessa e Thiago Marzano.
3 — Não há prestação de contas. O Femen vende produtos, como camisetas, e não esclarece qual o destino da renda. Na entrevista ao Opera Mundi, Bruna Themis afirmou que o dinheiro arrecadado vai para a conta do Paypal de Andrey Russo
2 — O Femen não tem clareza sobre quais movimentos deve apoiar. A blogueira Cínthia Semíramis lembra que o Femen Br concordou em participar de uma manifestação anti-mensalão organizada por um rapaz que se diz de direita popular e só desistiu por causa da pressão das pessoas via e-mail. Por outro lado, Bruna Themis participou de uma manifestação contra a pirataria em uma livraria de São Paulo usando o nome do movimento, mas sem o apoio dele.
1 — Outros movimentos feministas fazem questão de esclarecer que não concordam com o Femen. Em cartas abertas, a Marcha das Vadias de Curitiba e o movimento Machismo Nosso de Cada Dia afirmam que não concordam e não apoiam o Femen Brazil.
E nestes links, posts que analisam as falhas do Femen Brazil sob diversas abordagens:
Femen Brazil: o reality show por Cínthia Semíramis.
Carta a Femen Br pelas Blogueiras Feministas.
O neofeminismo e o neonazismo por Maíra Kubik.
Femen Brasil por Débora Sá

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