sábado, 19 de janeiro de 2013

Lei dos bons costumes: Arrependei-vos!

Lei dos bons costumes: Arrependei-vos!

Por Walter Hupsel | On The Rocks

“Se deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido”, disse Dostoiévski, por meio da personagem Ivan Karamazov. Tenho reais dúvidas de que o autor russo escreveria essa frase se soubesse dos usos que fariam dela. Tornou-se um chavão proto-intelectual, como a fina ironia keynesiana de que “a longo prazo estaremos todos mortos”.
O mais recente uso da frase Karamazov veio da deputada estadual do Rio de Janeiro e ex-atriz Myrian Rios (PSD), em um projeto de lei aprovado (PASMEM) aprovado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB). O “Programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais” prevê que o governo do estado do Rio assine parcerias e convênios com prefeituras e organizações da sociedade civil para promover “o que é certo e o que é errado”.
Justificando o projeto, a ex-atriz cita o chavão: “infelizmente, a sociedade de uma maneira geral vem cada dia mais se desvencilhando dos valores morais, sociais, éticos e espirituais (...). Sem esse tipo de valor, tudo é permitido (...). Perde-se o critério do que se pode e deve fazer ou o que não se pode”.
Objetivo nobilíssimo da ex-atriz ensinar, divulgar, promover os valores “éticos, morais, espirituais” com dinheiro público distribuído para que a “sociedade civil” (seja lá o que, ou quem, isso signifique) melhore nossos valores perdidos.
Não sei bem quais seriam estes valores. Na verdade, tenho até dificuldade para entender os conceitos de moral, ética. Se eu quisesse ser um pouco mais chato, mas só um pouquinho, perguntaria o que rechearia esses conceitos, já que, formais, são vazios de conteúdo. Afinal, diria um velho prussiano, moral é aquilo cujo o seu motivo é o desejo que a tal conduta seja universal.
Fico com esta definição. É moral tudo aquilo que eu faça querendo que todos os outros também o façam.
Pois bem... o que a ex-atriz e deputada estadual quer que os outros façam, ou pior, deixem de fazer diz respeito somente a ela. Ou aos Torquemadas modernos.
Entretanto, o que ela quer fazer, quer que os outros façam ou deixem de fazer, com dinheiro público para suas entidades privadas, para promover seus próprios valores morais e “espirituais”, não é uma questão de moral, mas de ética, ou de falta dela.
E, parafraseando e invertendo o velho Dostoiévski, neste caso eu diria para a ex-atriz: “Se deus existe, tudo é permitido”.
Arrependei-vos.

1 comentários:

Anônimo disse...

Minha dúvida é se pela nova Lei dos Bons Costumes vai poder bater punheta ou tá proibido?

Eu acho um bom costume.

@GersonCarneiro