segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Por que as companhias aéreas do Brasil maltratam as mulheres grávidas e os bebês que transportam?"

"Por que as companhias aéreas do Brasil maltratam as mulheres grávidas e os bebês que transportam?"

Quando a segurança não é prioridade

Rogério Tuma  - Carta Capital

Só quem tem filho pequeno ou está grávida sabe o que é ser maltratado em uma viagem de avião no Brasil. A falta de respeito com o bem-estar das grávidas e, principalmente, com os bebês de colo chega a ser criminoso. Poucos pensam nisso, mas a tripulação de bordo de uma aeronave e a companhia aérea que nos transporta têm como prioridade, ou pelo menos deveriam ter, a nossa segurança, e não o conforto. Segurança implica cintos de segurança para crianças de colo e espaçadores para grávidas, auxílio no embarque e desembarque. E assentos com distância do encosto da frente amplo o suficiente para que, no caso de uma frenagem abrupta ou turbulência durante o voo, o bebê não seja prensado entre o corpo da mãe e o assento à frente, o que pode ocasionar fraturas e esmagamentos.
"Criei um aparelho para unir a humanidade, não para destruí-la", por Santos-Dumont. Foto: Bertrand Demee/ Image Source/AFP
“Criei um aparelho para unir a humanidade, não para destruí-la”, por Santos-Dumont. Foto: Bertrand Demee/ Image Source/AFP
Os assentos na primeira fileira têm um espaço maior, a ponto de serem chamados de “assentos de segurança”. Mas algum esperto teve a brilhante ideia de batizá-los como “assentos de conforto” e cobrar a mais por eles, deixando de lado as pessoas com necessidades especiais.
A TAM, por exemplo, preferiu os 50 dólares que ganha a mais por um assento que deveria ser de segurança, e vendê-lo como “conforto”, mesmo deixando uma grávida em um assento sem espaço para proteger a barriga. Mudar de assento para um de segurança é por conta do próprio passageiro, que precisa negociar, diretamente com o dono do assento, “conforto” para conquistar um espaço de segurança.
A luta por um berço, então, é insana. Imagine controlar crianças em voo e ainda suplicar por um berço na aeronave. A primeira fileira dos aviões foi projetada também para isso, e há espaço até para berços adaptados para os aviões. A TAM disponibiliza, porém, apenas dois assentos por aeronave em voo internacional, por exemplo, em um Boeing 777, onde cabem mais de 300 passageiros, deixando claro que famílias não são bem-vindas em seus voos.
Ainda fazendo gracinha com a vida das pessoas, a Gol, por costume, bloqueia todos os assentos mais confortáveis. Não para uso dos passageiros, mas sim para seus funcionários em trânsito. O ­manual da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) diz que crianças desacompanhadas e grávidas têm direito a assistência especial. É claro que, segundo o ­manual, em sua maior parte um guia de obrigações do passageiro, a lactante que estiver viajando deve avisar 48 horas antes sobre a sua situação para receber tal benefício. O pessoal de serviço de terra das empresas nacionais nunca deve ter lido tal manual, pois o serviço não é oferecido. E, quando solicitado, é cobrado.
Provavelmente, os diretores da Anac não viajam de avião, ou se viajam, não olham para os lados. Não devem ter família, ou se têm, ignoram a realidade. Devem mandar oferecer pão e vinho para que a classe econômica se cale. O Brasil tem muito a aprender, não apenas com multinacionais de sucesso, mas com seus erros.
O FAA, que administra a aviação civil nos Estados Unidos, deixa bem claras as suas regras, com foco na segurança e no bem-estar dos passageiros, e não das companhias aéreas. Por lá, as companhias aéreas são proibidas sequer de pedir que você se sente em assento separado de seu filho, se ele tiver menos de 18 anos. Toda companhia aérea é obrigada a ceder assento de segurança às grávidas e aos pais com crianças de colo antes do embarque. O avião só decola se o pessoal de bordo acomodar o pai com a criança em um assento de segurança. Durante o voo cintos de segurança para bebês e berço são oferecidos sem custo adicional.
Enquanto 2012 foi o ano mais seguro para a aviação americana desde a invenção da turbina a jato em 1947, pouco se fala dos acidentes aeroviários ocorridos no Brasil. O que foi feito para evitá-los é uma incógnita. Estranhamente, as autoridades que deveriam combater esses descasos olham para seus umbigos e nada muda. Para resolver esses problemas acredito que apenas o Ministério Publico poderá exigir uma ­mudança, pois a Agência Nacional de Aviação Civil não inspira nenhuma confiança. Se existir algum promotor lendo esta coluna, que a entenda como um apelo.

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