sexta-feira, 5 de julho de 2013

Gilberto Gil critica torcida "esbranquiçada" em Copas e propõe cotas

Gilberto Gil critica torcida "esbranquiçada" em Copas e propõe cotas

Durante entrevista coletiva que tinha como principal função divulgar o lançamento de sua biografia, “Gilberto Bem Perto”, mas que terminou por enveredar para diversos temas, o cantor Gilberto Gil criticou, na tarde desta quinta-feira (04), em Paraty (RJ), a ausência de acesso da população negra e pobre às partidas da Copa das Confederações e da Copa-2014, no Brasil, por causa do alto preço dos ingressos.
“Tem de haver uma mobilização autopromovida pelas favelas, pelas periferias, para suprir a carência que esses grandes eventos globais acabam impondo ao Brasil, que é a filtragem pelo preço dos ingressos”, teria dito o ex-ministro da Cultura, segundo informações da Folha, que afirmou ter ido ao Maracanã no último domingo, para a final entre Brasil e Espanha.
“Fiquei na tribuna de honra, ao lado do [Joseph] Blatter [presidente da Fifa], do Zagallo, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor. Quando cheguei em casa, vi pela TV que o lugar onde os jogadores correram para abraçar a torcida não tinha o matiz racial brasileiro, era esbranquiçado. Isso no Maracanã, onde as pessoas da Mangueira costumavam descer para ver os jogos.”
Segundo Gil, mesmo em Salvador --apontada como a que tem maior população negra do país--, a ocorrência se repetiu. “No jogo da Nigéria, na Bahia, onde a população negra baiana deveria ter sido mais mobilizada a participar, eu via que a questão econômica pesava muito. Portanto, seria interessante criar cotas, fazer uma mobilização para que esse arco-íris brasileiro ficasse mais bem representado nos jogos da Copa.”
O cantor ressaltou ainda o exemplo de um grupo de jovens paulistanos que procurou sua mulher, Flora Gil, para alugar um apartamento que ela tem em Salvador, onde o grupo iria assistir à partida entre Brasil e Itália pela Copa das Confederações. “Quem quer ir ver os jogos nos estádios, é só a classe média paulista, carioca etc.? Ou as periferias também querem? É essa a questão. Como é que a gente vai resolver isso, para ter uma pluralidade maior dentro dos estádios? Senão ficam só os cinco meninos de São Paulo, possivelmente descendentes de italianos, que podem pagar uma passagem de avião, que foram ver o jogo e aproveitaram para comer um acarajé, fazer um pouco de turismo em Salvador.”
Ao ser informado de que a Fifa tinha anunciado um projeto a fim de vender ingressos a preços populares, Gil lelencou outras sugestões. “Tem de haver vários meios. Um banco que pode criar um empréstimo, uma empresa qualquer que pode patrocinar aquilo ali, fazer com que os meninos da Rocinha, da Mangueira ou da Cajazeiras, em Salvador, possam comprar aqueles ingressos, pagar em três ou quatro vezes. Enfim, mobilizar. Há uma vontade da população brasileira de ir aos jogos. Como é que se atende a isso?”
O compositor lembrou ainda que a maior parte dos grandes jogadores da história do futebol nacional vêm justamente das camadas populares que não conseguem pagar o preço do ingresso para as grandes competições. “É a história do futebol, os grandes atletas no mundo inteiro vêm dessas classes populares. É de onde se origina o Hulk, o Neymar, o Romário, o Bebeto, o Ronaldo, o Garrincha, o Pelé.”
Fonte: Folha de São Paulo

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