terça-feira, 9 de julho de 2013

Que tristeza: Médico diz que nem por 100 mil iria trabalhar

Que tristeza: Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica diz que nem por 100 mil iria trabalhar em regiões remotas 

Não são mercenário? Amam o próximo? Os brasileiros que se encontram nestas regiões, não tem direito de ter o mínimo de saúde? Ou o médico só consegue trabalhar com parafernália de equipamentos?

Sinto uma tristeza profunda.

Somos médicos, não mágicos
Antonio Carlos Lopes
Se alguma instância de poder oferecer hoje um salário de R$ 100 mil para um médico trabalhar, por exemplo, em uma área remota da Amazônia, quase que certamente ela não irá. Talvez, um entre 100 aceite. Mas este não representa o espírito de uma classe que visa, acima de tudo, o apoio ao próximo, a assistência humanística e olha a profissão sob as vistas do amor ao próximo.
O que quero dizer, em pouquíssimas palavras, é que os médicos brasileiros não somos mercenários, não pautamos nossas ações no mercantilismo, na busca de dinheiro fácil. Nosso foco é outro: é a saúde, a qualidade de vida, é trabalhar contra as mortes evitáveis. Isso porque uma só morte evitável não merece perdão, seja quem for o responsável.
Aí está parte da explicação para o fato de o governo não conseguir levar médicos para as regiões distantes e periferias das grandes cidades.
Contudo, o remédio para esse mal não passa pela importação de médicos formados no exterior sem qualificação comprovada, sem que os mesmos se submetam à revalidação do diploma.
Aliás, a revalidação de diplomas precisa ser aprimorada. Para aprovar a entrada de um profissional de medicina graduado fora, seja ele estrangeiro ou brasileiro, não se pode apenas auferir a técnica. É necessário avaliar o perfil psicológico, a formação ética e moral. Uma série de parâmetros tem de ser analisada porque é alguém de fora do Brasil, não é da terra, não possui nossa cultura, o jeitinho brasileiro em seu lado bom.
Essas diferenças têm forte reflexo na visão humanística, que é a relação médico-paciente no exercício da medicina. Culturalmente, os valores são bem distintos. No que se refere à parte técnica, é preciso uma avaliação obrigatória, como já é com todo mundo.
O centro da questão da interiorização não pode ser distorcido; é a infraestrutura, porque se não há infraestrutura para um brasileiro, não existe também para o profissional de fora. O que ele é? Médico ou mágico?
Não dá para fazer medicina sem ter infraestrutura, sem ter enfermagem, sem ter cirurgião-dentista, sem ter outros profissionais da área da saúde, sem ter assistente social. O dinheiro não compra médico, ressalto mais uma vez.
O médico não é mercadoria para ser comprado por um punhado de reais. Se o fosse, também não veria a cor do dinheiro, pois boa parte das prefeituras, nem honra com os salários que promete e, não raro, nem paga m só centavo. É o chamado calote.
Médico que se vende não e médico. Isso é falta de ética, vai contra o juramento de Hipócrates e os princípios da formação humanística. O dinheiro da medicina tem que ser resultado e não o objetivo do trabalho. Essa é uma parte puramente materialista da medicina, que não condiz com os nossos princípios.
Portanto, só quando nossas autoridades aprenderem o B e A = BA, estaremos próximo da cura. Ela vira por uma política de estado para a saúde, e não por meio de disputas partidárias que mudam nossas políticas a cada alteração de humor.
(*) Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

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