quarta-feira, 12 de março de 2014

Se liga: Brinquedos e roupas não influenciam a sexualidade do seu filho

Se liga: Brinquedos e roupas não influenciam a sexualidade do seu filho

Juliana Ribeiro - DiárioWeb

Stock Images/Divulgação
Crianças adoram descobrir coisas novas, experimentar o desconhecido. E isso, além de ser normal é muito saudável. Então, se você flagrar sua filha brincando de carrinho, ou seu filho encantado com uma boneca, não se preocupe. Isso é absolutamente natural.

A sociedade determina que rosa é para as meninas, assim como as bonecas, e azul é para meninos, assim com os carrinhos, mas por quê? Será que tem que ser sempre assim? “A questão principal é que, para o adulto que já tem enraizadas questões de gênero, essas escolhas vão além da simples brincadeira. Acreditam que elas envolvem a sexualidade da criança, o que não corresponde à realidade”, explica Larissa Fonseca, pedagoga pós-graduada em Educação Infantil e Psicopedagogia, de São Paulo.

Outra pedagoga, Renata Ferreira, de São Paulo, diz que, de maneira alguma, menino brincar de boneca e menina de carrinho influencia na sexualidade da criança. “Brincar de boneca faz parte de um contexto real infantil, onde eles são cuidados pelo pai e a mãe. Nas brincadeiras de bonecas e de carrinhos, a criança apenas tem a possibilidade de exercer esses papéis que são vivenciados por ela em seu dia a dia.”

A especialista ainda reforça que os pais não devem ter receio de que esta ou aquela brincadeira irá influenciar a postura de seus filhos, nas opções sexuais que irão fazer mais tarde. “Desta forma, o universo da criança passa a ser o de vivenciar brincadeiras que são sempre importantes para o desenvolvimento infantil como um todo (social, motor, emocional) e, sendo assim, não há o universo dos meninos e o das meninas, mas o de crianças em desenvolvimento”, garante.

Sem preconceito

Ainda existem alguns pais que ficam sem respirar quando seu filho homem pega uma boneca na mão para brincar. O momento de tensão é tão grande que tem pai que chega a se descontrolar e a criança não faz ideia do que teria feito de errado. Mas essa visão machista vem diminuindo, graças às mudanças que a sociedade tem passado nos últimos 30 anos. Já existe uma legião de novos pais criando seus filhos longe de tabus e preconceitos.

A escolha por brincadeiras femininas não representa que os meninos serão homossexuais no futuro. “Porque eles também têm hormônios femininos, em menor proporção, que fazem deles um ser mais compreensivo. Brincar de boneca para um menino é diferente de brincar de boneca para uma menina”, explica a psicóloga Regina Elia, de São Paulo.

Na opinião dela, todas as brincadeiras até os seis anos de idade, aproximadamente, são para ambos os sexos. É nesta fase que elas estão descobrindo o mundo por meio da brincadeira e como funciona o comportamento dos adultos. “É natural que eles queiram se sentir no papel do sexo oposto algumas vezes”, diz.

Psicólogos e educadores afirmam que reprimir a vontade dos filhos não é a atitude correta. Os pais devem sempre se policiar para não autorizar ou proibir brincadeiras e atitudes baseadas em “coisas de menina” e “coisas de menino”. Se a filha gostar de jogar futebol e o filho tiver vontade de brincar de casinha, os pais não devem intervir.
Edvaldo Santos
Os irmãos Bárbara, Iasmin e Cauan dividem seus brinquedos em harmonia
Acesso a todo tipo de brincadeira

Debora Fioramonti Chandretti, mãe de Bárbara, 4 anos e 8 meses, e dos gêmeos Iasmin e Cauan, 2 anos e 5 meses, conta que em sua casa não existe boneca para as meninas e carrinho para o menino. “Nunca tive esse preconceito. Não sei se é pelo fato de que na minha infância eu sempre brinquei muito com menino. Participava de campeonatos de futebol de salão, andava de carrinho de rolemã, tinham muito mais amigos homens do que mulheres, então acho extremamente natural e saudável”, diz.

Ela já ouviu de alguns parentes que não poderia vestir o filho de rosa, mas nunca ligou para os comentários. Não vê problema em colocar rosa no Cauan e nem azul ou verde na Iasmin e na Bárbara. “No ano passado, o Cauan ganhou um carrinho de aniversário e a Iasmin brincou mais do que ele com o brinquedo. Aí, no Dia das Crianças, eu comprei um carrinho para ela. Não vejo problemas nisso. Assim como ele brinca de boneca com as meninas elas brincam com os brinquedos dele. Não acredito que um brinquedo ou uma cor vai influenciar na sexualidade dos meus filhos.”

Para a pedagoga Renata Ferreira, essas questões de brinquedos e cores são impostas por um preconceito externo. “Digo externo, pois é implantado de fora para dentro. Sendo assim, é imposto à criança de forma imperceptível, muitas vezes, já que ela constrói seu repertório de mundo por meio do que os adultos oferecem e por imitação. O que temos que ter claro é que mostrar para criança que existe uma variedade de brinquedos ou de cores é diferente de induzir a escolha por ela”, explica.

Na visão da especialista, o mais importante para a criança, neste momento, é conhecer, construir parâmetros e vivenciar tudo que está à sua volta, saber e entender o objetivo das coisas. “Oferecer diferentes possibilidades no contexto infantil se torna importante para que ela cresça e se desenvolva tendo condições de escolhas próprias, partindo da sua autonomia que será construída e da compreensão do mundo onde vive”, afirma.

A pedagoga Larissa Fonseca reforça dizendo que o menino que se interessa por brincar de boneca, empurrar carrinho, fazer compras de mercado, etc, pode fazer isso por pura curiosidade ao ver o pai ou irmão cuidando de um bebê, fazendo compras, etc. O mesmo ocorre com as meninas. Elas veem o pai ou figuras masculinas desenvolvendo atividades que despertam seu interesse, o que não significa que ela será masculinizada.

“Entre as próprias crianças existe a tendência de separação de papéis por gênero. Mesmo em uma brincadeira de casinha, por exemplo, se um menino participa ele receberá um papel socialmente determinado como masculino, como o pai, o irmão”, diz.

A profissional faz uma pergunta aos pais que ainda sentem receio quanto a deixar ou não os filhos brincarem livremente. “Papai também cuida de criança não é mesmo? Mamãe também gosta de carro, dirige, usa roupas azuis, certo? Então não há razão para relacionar os interesses dos pequenos por objetos e cores socialmente determinadas do outro gênero a questões de identidade sexual.” 

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