quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dou para quem quiser, mas não para qualquer um

Dou para quem quiser, mas não para qualquer um

Texto de Bia Cardoso - Blogueiras Feministas


Na adolescência começa a pressão para transar. Ser virgem ainda é moeda de troca em nossa sociedade. Seja para mostrar-se uma pessoa pura e superior que se guarda para o casamento, seja para mostrar-se alguém super moderno e descolado, que não é mais “virjão”.
O momento de iniciar a vida sexual deveria ser uma escolha íntima e pessoal de cada indivíduo. Até porque, sexo não é só penetração entre um pênis e uma vagina. Há milhares de possibilidades em todas as formas de relacionamentos. Mas, ao invés de estimular essas descobertas, ainda martelamos na cabeça dos jovens conceitos limitadores do que é sexo e eles consomem grandes cargas de pornografia pasteurizada.
Em nossa sociedade patriarcal, geralmente, os homens iniciam a vida sexual mais cedo que as mulheres. E, é muito comum rolar uma pressão dos garotos para que a namoradinha aceite logo transar com ele, mesmo que não esteja muito segura. Sexo envolve sensações de muito prazer. Beijar na boca, dar um amasso, são ações que deixam nossos corpos muito ligados. Porém, nem todo mundo se sente seguro para ir além disso num primeiro momento e isso deve ser respeitado. Mais que isso, precisamos sempre incentivar a autoestima das jovens para que saibam dizer ‘não’ e enxergarem isso como um direito ao seu corpo e a sua autonomia.
Foi isso que lembrei quando li o email que I. A. de 16 anos enviou para o endereço de contato das Blogueiras Feministas:
Tivemos um trabalho sobre relacionamentos. Como tinha acabado de terminar um relacionamento, resolvi escrever para desabafar. Eu e meu namorado ficamos quase um ano juntos. Tá, sei… não é grande coisa, mas para garotas da minha idade é. Claro que com o machismo de cada dia, se você não transar com ele na primeira semana é tachada de “infantil” e, e se você transar é ‘vadia”. O que me indigna é que quando terminei a redação tive que ler para a turma toda. E claro, toda turma tem aqueles idiotas de plantão que vivem falando e rindo dos outros e não cuidam de si mesmos.
Comecei a ler e fiquei nervosa, não pelo fato da leitura, mas sim pelo fato de eu ser feminista e de meu namorado me odiar por isso (isso mesmo, ele terminou comigo porque sou feminista e não transei com ele). Me senti muito deprimida com isso, algumas semanas depois pensei bem e óbvio que a culpa não é minha, mas meus colegas falaram que é porque sou estranha, ou simplesmente pelo fato que eu ainda não cresci. Agora, porque não quero transar sou infantil e imatura. O corpo é meu e a indignação também. O que gostaria de passar para as garotas com isso é que não interessa o quanto vocês amem seus namorados ou ficantes, apenas respeitem a si próprias, não é porque eles estão afim que vocês também estão.
Foto de Kamakshi Sachidanandam no Flickr em CC, alguns direitos reservados.
Foto de Kamakshi Sachidanandam no Flickr em CC, alguns direitos reservados.
Sabemos que essa pressão para transar não é moleza. Envolve muitos sentimentos, mas é muito ruim quando as pessoas fazem chantagem em cima do que sentimos ou de nossas escolhas. A autoestima ajuda a nos enxergar como sujeitos, detentores de direitos, especialmente o de dizer ‘não’. É importante ensinar o que é consentimento as pessoas. Consentir é permitir que outra pessoa lhe toque, por exemplo. As mulheres sofrem muito com esse mito popular de que “um não, quer dizer sim”. Isso é reproduzido até em comerciais na televisão. Não, quer dizer: não. E ponto. Sem consentimento, não há respeito.
Portanto, vamos desejar que as pessoas sejam respeitadas em suas escolhas, especialmente os jovens. A ideia da frase “dou para quem eu quiser, mas não para qualquer um” é justamente para desejar que o sexo seja uma escolha consciente e libertária. Ser virgem ou não deveria ser irrelevante socialmente, porque o que importa é o prazer e o respeito numa relação. Façam sexo livremente, previnam-se de doenças sexualmente transmissíveis e de uma gravidez indesejada, não julguem as outras pessoas pela quantidade de sexo que fazem, seja baixa ou alta, e sejam plenos em suas experiências. Esse é meu desejo.

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1 comentários:

leonardo marques arnaldo disse...

Esse é o Brasil do sexo. se voce "da"logo,é chamada de Vadia,se não,é chamado de"donzelo(a)"(expressão pernambucana). culpa de uma imprensa que ainda insiste com esses conceitos pra lá de superados. me sinto triste por essa situação e isso mostra o quanto precisamos andar para frente!