quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Nós, os vivos.

Nós, os vivos.

por Victor Lisboa - Ano Zero
Nós, os vivos.

Dia desses um amigo me enviou uma mensagem contando seu dilema profissional e pedindo algum conselho. Mas eu não conseguia responder, pois não sabia o que dizer a ele – minha própria vida é cheia de incertezas. Caminhando hoje pela cidade, perguntei-me que percepção seria importante diante das dúvidas que se impõe, que certeza fundamental poderia nos orientar nos diversos caminhos do destino. E então cheguei no trabalho e um colega falou-me sobre a morte de Eduardo Campos.
De todos esses falecimentos tristes das últimas semanas (em alguns casos, tragicamente inesperados), do acidente com helicóptero do jogador Fernandão à queda do jato do candidato Eduardo Campos, do suicídio de Fausto Fanti ao suicídio de Robin Williams, da embolia pulmonar de João Ubaldo a parada cardíaca de Ariano Suassuna, fica uma única verdadeira lição para nós, os vivos.
Você está vivo hoje, este é seu momento precioso, este é o minuto no qual que se esconde o seu maior tesouro – descubra-o, desenterre-o do fundo de sua percepção embotada pelos compromissos diários, de seus sentidos entorpecidos pelo excesso de estímulos do mundo moderno. Viva cada dia sem jamais sacrificar sua autenticidade e seus anseios em nome de convenções sociais e expectativas alheias. Não conduza seu destino no piloto automático, fazendo o que todos têm feito só “porque é assim que as coisas são desde sempre”. Não escolha os caminhos mais fáceis só para evitar atrito. Resista à pressão – pois é sua vida, exatamente a sua vida, que está em jogo.
Diminua o peso da bagagem que leva consigo no cotidiano, não compre tantas coisas, reduza os compromissos, simplifique sua vida. Não perca energia microgerenciando pequenos problemas, não dê tanta importância a aborrecimentos menores – seja maior, seja generoso consigo e com os outros. Não se deixe levar pela vaidade, aprenda a ter compaixão por todos os seus irmãos nessa difícil jornada, tanto os humanos como os não-humanos.
Perca o medo do ridículo e levante-se, vá até o espelho e observe atentamente o brilho em seus olhos – esse brilho não estará aí para sempre. Veja de perto a respiração embaçar seu reflexo – ela é um milagre, entre vários outros milagres do cotidiano que nos recusamos a perceber por estarmos soterrados na ironia moderna. Mande à merda a ironia e cinismo do mundo adulto e sorria como criança, admire-se de existir aqui neste momento.
A lição disso tudo é simples, é básica, mas muito difícil de assimilar – porém, aqueles que já se foram merecem que honremos sua memória sendo dignos do aprendizado. A lição é compreender que sua vida é sublime justamente porque é transitória. Seja, então, devassamente apaixonado por ela e jamais a traia por qualquer outra amante, por qualquer distração barata ou convenção social. Pergunte-se, todos os dias, o que você fez hoje para demonstrar seu amor e fidelidade a vida que ainda tem.
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