terça-feira, 9 de setembro de 2014

Cansada de ser assediada pelas ruas do Rio de Janeiro, professora diz: Reajam sempre, gritem, batam, corram

Cansada de ser assediada pelas ruas do Rio de Janeiro, professora diz: Reajam sempre, gritem, batam, corram

Fernanda La Ruina

Acabo de voltar de uma delegacia. Fiz um B.O. Eu estava indo fazer exercício, usando uma CALÇA COMPRIDA LARGA e top de ginástica. Talvez você, com seu preconceito que finge que não existe, esteja tentando montar meu figurino para me culpar. Foi o que o agressor fez - disse que eu estava usando um short transparente e ele não aguentou. O próprio policial o corrigiu.

Bem, era 10h da manhã de hoje e eu estava passando ao lado do BOTAFOGO PRAIA SHOPPING. Aí, com som alto nos fones, não notei ou ouvi ninguém se aproximando, apenas quando a mão dele foi enfiada entre as minhas pernas. Eu virei rápido, bati nele, gritei e ele correu. Como eu reagi agredindo o agressor, ele correu. Eu segui para o outro lado por medo e tentei prosseguir em minha caminhada.

Sinceramente, aquilo foi a gota de um copo cheio. Alguém que já sofreu abuso sexual, moral e agressão física de homens não teria estrutura para suportar aquela "importunação ofensiva ao pudor" (artigo 61 da lei 3688/41). Até então, sofri e me calei, até colocando parte ou toda a culpa em mim. Desta vez não!

Ser omissa, covarde e não ter denunciado meus agressores anteriores me sangra todos os dias. Sofro de culpa, mas não falo. Sofro sozinha. Hoje, vou compartilhar o peso. Ele representou naquele momento todos os homens que já me tocaram à força. Ele faz parte do grupo que acredita que eu MEREÇO ser tocada, talvez por estar sozinha, ser mulher, ser frágil.

Eu chorei por toda a praia de Botafogo, mesmo tentando focar no meu exercício. Eu chorei tanto que o momento não ficou ali. Chorei por me lembrar do animal que já colocou seu peso em mim, dos abusos enquanto dormia (hoje tenho um sono leve e lixo, como se ainda tivesse que me defender), de frases como "tem certeza, Nanda?! Você sonha e acha que é realidade", "não vamos estragar o Natal SO por isso", "é só trancar a porta da próxima vez". E aquele choro era tão rasgante que sequer conseguia contê-lo.

Eu quis ser forte - ou fingir ser até que eu mesma acreditasse - e apenas seguir meu caminho, no entanto, da pior forma possível, aquele homem de 20 e tantos anos trazia à tona uma dívida que eu tinha comigo mesma. Daí, outro homem veio e me mostrou o quanto há bondade e gentileza no mundo. Ele disse "moça, eu vi o que aconteceu". E eu, aos prantos, pedi para que ele me acompanhasse e me ajudasse, sem ele saber, a liquidar a maior dívida que eu tinha comigo.

Eu fui até um veículo da Guarda Municipal do Rio, disse o que havia ocorrido e fomos todos em busca do agressor. Nós o encontramos na rua São Clemente e eu o reconheci. Ele foi detido e eu prestei depoimento. Ele, talvez pague uma cesta básica ou preste serviço comunitário, mas eu me livrei de um culpa de anos. Como diz a música de Aloe Blacc, "passei pelo pior ainda dando o meu melhor". Eu fiz a minha parte e ele ficou lá. Meu lado pior apenas queria que ele fosse abusado, na cadeia, como eu fui, nada mais. Já acho o bastante, mas é a justiça quem decide.

Bem, agora eu faço um apelo: COMPARTILHEM este post. Eu apenas o escrevi para que outras mulheres pudessem se dar o direito do perdão e da reação. REAJAM SEMPRE! Gritem, batam, corram. Eu, tão "fingidamente" corajosa, fui até lá, eu o reconheci e ele está preso, esse "ilustre" morador de Honório Gurgel, distribuidor de panfletos. Meu último apelo é: por favor, NÃO me façam perguntas se estou bem, como foi... A quem realmente interessar, me abrace e me permita desabar em choro sem dizer uma palavra. Odeio perguntas e adoro abraços no silêncio. Só preciso disso agora.


Acabo de voltar de uma delegacia. Fiz um B.O. Eu estava indo fazer exercício, usando uma CALÇA COMPRIDA LARGA e top de ginástica. Talvez você, com seu preconceito que finge que não existe, esteja tentando montar meu figurino para me culpar. Foi o que o agressor fez - disse que eu estava usando um short transparente e ele não aguentou. O próprio policial o corrigiu.

Bem, era 10h da manhã de hoje e eu estava passando ao lado do BOTAFOGO PRAIA SHOPPING. Aí, com som alto nos fones, não notei ou ouvi ninguém se aproximando, apenas quando a mão dele foi enfiada entre as minhas pernas. Eu virei rápido, bati nele, gritei e ele correu. Como eu reagi agredindo o agressor, ele correu. Eu segui para o outro lado por medo e tentei prosseguir em minha caminhada.

Sinceramente, aquilo foi a gota de um copo cheio. Alguém que já sofreu abuso sexual, moral e agressão física de homens não teria estrutura para suportar aquela "importunação ofensiva ao pudor" (artigo 61 da lei 3688/41). Até então, sofri e me calei, até colocando parte ou toda a culpa em mim. Desta vez não!

Ser omissa, covarde e não ter denunciado meus agressores anteriores me sangra todos os dias. Sofro de culpa, mas não falo. Sofro sozinha. Hoje, vou compartilhar o peso. Ele representou naquele momento todos os homens que já me tocaram à força. Ele faz parte do grupo que acredita que eu MEREÇO ser tocada, talvez por estar sozinha, ser mulher, ser frágil.

Eu chorei por toda a praia de Botafogo, mesmo tentando focar no meu exercício. Eu chorei tanto que o momento não ficou ali. Chorei por me lembrar do animal que já colocou seu peso em mim, dos abusos enquanto dormia (hoje tenho um sono leve e lixo, como se ainda tivesse que me defender), de frases como "tem certeza, Nanda?! Você sonha e acha que é realidade", "não vamos estragar o Natal SO por isso", "é só trancar a porta da próxima vez". E aquele choro era tão rasgante que sequer conseguia contê-lo.

Eu quis ser forte - ou fingir ser até que eu mesma acreditasse - e apenas seguir meu caminho, no entanto, da pior forma possível, aquele homem de 20 e tantos anos trazia à tona uma dívida que eu tinha comigo mesma. Daí, outro homem veio e me mostrou o quanto há bondade e gentileza no mundo. Ele disse "moça, eu vi o que aconteceu". E eu, aos prantos, pedi para que ele me acompanhasse e me ajudasse, sem ele saber, a liquidar a maior dívida que eu tinha comigo.

Eu fui até um veículo da Guarda Municipal do Rio, disse o que havia ocorrido e fomos todos em busca do agressor. Nós o encontramos na rua São Clemente e eu o reconheci. Ele foi detido e eu prestei depoimento. Ele, talvez pague uma cesta básica ou preste serviço comunitário, mas eu me livrei de um culpa de anos. Como diz a música de Aloe Blacc, "passei pelo pior ainda dando o meu melhor". Eu fiz a minha parte e ele ficou lá. Meu lado pior apenas queria que ele fosse abusado, na cadeia, como eu fui, nada mais. Já acho o bastante, mas é a justiça quem decide.

Bem, agora eu faço um apelo: COMPARTILHEM este post. Eu apenas o escrevi para que outras mulheres pudessem se dar o direito do perdão e da reação. REAJAM SEMPRE! Gritem, batam, corram. Eu, tão "fingidamente" corajosa, fui até lá, eu o reconheci e ele está preso, esse "ilustre" morador de Honório Gurgel, distribuidor de panfletos. Meu último apelo é: por favor, NÃO me façam perguntas se estou bem, como foi... A quem realmente interessar, me abrace e me permita desabar em choro sem dizer uma palavra. Odeio perguntas e adoro abraços no silêncio. Só preciso disso agora.


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